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Pablo Vittar diz: “Senti esse preconceito em todos os lugares em que procurei trabalho” ,

O fenômeno do momento abriu o coração em entrevista

Por Campelo Sousa

20/11/2017 às 10h36

Pabllo Vittar (Foto: Daniel Aratangy)

A revista Marie Claire entrevistou o fenômeno do memento, Pablo Vittar.

A cantora, que divide a capa de novembro com Gal Costa e Iza e é uma das porta-vozes da campanha #OCorpoIdealÉoSeu.

Pabllo Vittar disse: “muita gente me conhece desde o Carnaval [quando estourou com “Todo Dia”, gravada com Rico Dalasam], mas estou trabalhando intensamente desde o ano passado, quando fiz cerca de 120 shows. Queria chegar longe, sonhava, mas parecia difícil de acreditar. O Rock in Rio foi uma surpresa porque o primeiro show não estava nem no line-up oficial. Fiquei chocada quando subi ao palco e vi aquela multidão toda. Outro dia estava no aeroporto, indo para Belo Horizonte, onde ia ter um jogo do Grêmio x Flamengo. De repente, pai e filho com camisetas de futebol vieram me perguntar se eu era a Pabllo, contaram que estavam no show da Fergie e que foi demais quando entrei. Isso é muito legal. Me faz pensar em todas as coisas que já consegui realizar.

No meu aniversário de 18 anos. Antes já tinha ensaiado a montação na festa de uma amiga, mas não tinha roupa nem cabelo, mal sabia me maquiar! Só lembro de ter me sentido muito bela. Uma vez, no Halloween, me vesti de “drag cirúrgica”. Não tinha peruca e fui com a cabeça toda enfaixada [risos]. Ficou muito [Thierry] Mugler, sabe? [estilista que teve seu auge no início dos anos 90 com estética sexy e futurista]. Fui com um top de ataduras, uma saia, a cabeça enfaixada e a maquiagem belíssima. Foi o pontapé. Fui muito influenciada pelo [reality show americano] RuPaul’s Drag Race. Lá via drags cantoras, atrizes e modelos e pensei que poderia ser uma delas.

Já mexia com maquiagem desde os 16 anos – fiz uns bicos em salões de beleza e via tutoriais na internet. Nesse começo, a verdade é que eu estava tentando não ficar feia [risos]!

Me sinto muito orgulhosa por ser uma drag queen brasileira, nordestina, que veio de baixo, tem o apoio incondicional da família e levanta uma bandeira importante em dias de retrocessos. Especialmente quando o assunto é gênero e sexualidade. Sinto tristeza pelas pessoas que não conhecem meu trabalho e se manifestam a meu respeito com ódio. Percebi como o apoio dos fãs é fundamental. Me faz enxergar que muita gente está do mesmo lado, querendo amor, paz, união e tolerância. A gente precisa de respeito. Só assim é possível ser o que se é sem ter medo. A exposição é difícil, claro, me sinto sob pressão. Mas é uma vitória aparecer na novela das 8, em um país preconceituoso. Penso: “Quer horário nobre? Taí, bebê!”.”

Perguntado sobre bullying quando era adolescente, ele respondeu:
“Sempre fui afeminado, com voz fina. Sofri na escola e depois também. Só ouvia que nada do que eu faria daria certo, que não ia conseguir emprego com meu jeito e por ser gay. Senti esse preconceito em todos os lugares em que procurei trabalho. Hoje, depois que entrei em ascensão, recebo mensagens de gente que se sente apoiada por mim, mesmo de longe. Ontem mesmo uma aeromoça disse que a companhia aérea em que trabalha vai contratar a primeira aeromoça trans. Fiquei passada quando ela me agradeceu. Ocupar o lugar que quiser, trabalhar no que quiser é um direito de todo mundo. Quando uma vence, todas vencem!

Acho ótimo que isso seja uma discussão, que meu jeito faça as pessoas pensarem sobre o assunto. Sempre deixo bem claro que nasci menino, sou menino e gay.”

Marie Claire

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