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Francisco Cartaxo

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Lula seria carcará ou bem-te-vi?

20/01/2018 às 16h14

Dia 24 o TRF da 4ª região, em Porto Alegre, confirmará ou não a sentença proferida pelo juiz Sérgio Moro, condenando Lula a 9 anos e 6 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. É público e notório que o PT elegeu Moro como inimigo.

Carcará e bem-te-vi não se bicam. Quem é sertanejo sabe.O bem-te-vi, apesar de ser muito menor, bota o carcará para correr, usando tática de guerra. Voa mais alto do que o carcará, desce como uma fecha para bicar as asas, a cabeça, o pescoço. Uma guerrilha aérea. Tudo muito rápido. Rápido e sincronizado quando mais um ou dois bem-te-vi entram na perseguição. Cenas desse embate são comuns no sertão.No Recife, eu já presenciei,poucas vezes, é verdade, porque os gaviões são raros nesta cidade de prédios altos,muitobarulho e pouquíssima caça.
O carcará é bicho forte.

Encontrado em todos os países da América do Sul, resiste bem às adversidades da região semiárida nordestina. De tão forte e valente se transformou em herói da sobrevivência sertaneja. Efoi alçado a símbolo da resistência à ditadura. A música Carcará, do maranhense João do Vale,que já era conhecida antes do golpe de 1964, virou canto de protesto, ao ser incorporada ao show Opinião,de estrondoso sucesso nos anos da repressão militar. Primeiro, na vozinha intimista da carioca Nara Leão, substituída depois pela explosão cantante de Maria Bethânia. Que maravilha! O estribilho soava como um grito de guerra:

Carcará! Pega, mata e come; Caracá! Num vai morrer de fome; Carcará! Mais coragem do que home; Carcará! Pega, mata e come!

Este refrão é repetido entre estrofes de exaltação à ave de rapina da família dos falconídeos:

Lá no sertão…é um bicho que avoa que nem avião;é um pássaro malvado;tem um bico volteado que nem gavião.

Carcará…quando vê roça queimada; sai voando, cantando… carcará… vai fazer sua caçada, carcará… como inté cobra queimada.

Mas quando chega o tempo da invernada; no sertão não tem mais roça queimada; carcará mesmo assim não passa fome; os borregos que nasce na baixada.

Carcará é malvado é valentão; é águia de lá do meu sertão; os burrego novinho num pode andá; ele puxa o umbigo inté matá.

Carcará pega, mata e come; carcará num vai morrer de fome; carcará mais coragem do que home, carcará pega, mata e come!

E o bem-te-vi?

O bem-te-vi não fica atrás. É tirano. Da família dos tiranídeos. Tem com o carcará afinidades reais e simbólicas. Ambos se alimentam de insetos, cobras, minhocas e lagartos, embora só o carcará dispute com urubus grandes presas… e avance nos ninhos de pequenas aves, como o próprio bem-te-vi. Justo quando está em acasalamento é que o bem-te-vi, com fúria,bota o gavião para correr, fustigando-o com a tática de piloto de avião militar. Isto eu já vi da varanda, quando admirava o vai-e-vem do casal de bem-te-vi na tarefa de alimentar filhotes, no ninho feito e refeito todos os anos no topo do mesmo pé de jambo, em frente ao meu apartamento.

E Lula, onde entra nessa história?
Lula é mestre na arte de usar metáforas. Nenhum político tem, como ele, a genialidade de traduzir complicadas questões em linguagem de fácil compreensão. Nesta quarta-feira, o TRF da 4ª região deve chancelar ou não a sentença condenatória do juiz Sérgio Moro.

Estou com uma dúvida terrível. Num embate entre o juiz Moro e o ex-presidente Lula, quem parece como carcará? E o bem-te-vi, quem seria?

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

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