A escuta transforma vidas

Por Renato Abrantes – Há alguns anos, fui procurado por uma pessoa com uma questão sensível e profundamente significativa: ela desejava iniciar o processo de nulidade de seu matrimônio no Tribunal Eclesiástico. Logo nas primeiras palavras, percebi que o caso ia além de um processo canônico. Ali estava uma vida marcada por dores, expectativas e um forte desejo de recomeçar.
Ao invés de partir diretamente para explicações técnicas, optei por escutar. Sim, escutar com atenção plena. A escuta é, muitas vezes, a chave para compreender não só o problema jurídico, mas também a dimensão humana que ele carrega. Enquanto ela me contava sua história, suas dúvidas e temores, foi possível construir uma relação de confiança – o ponto de partida essencial em casos tão delicados.
Expliquei detalhadamente os requisitos e os procedimentos necessários para o protocolo do processo de nulidade matrimonial. Ressaltei a importância da documentação, dos depoimentos das testemunhas e do papel do direito canônico que considera, acima de tudo, a salus animarum(a salvação das almas), que é a suprema lex Ecclesiae(a suprema lei da Igreja).
Durante todo o percurso, acompanhei de perto cada etapa do processo, sempre aberto a esclarecer novas dúvidas e oferecer apoio jurídico e humano. Ao final, o Tribunal Eclesiástico declarou a nulidade do matrimônio daquela pessoa, reconhecendo que, desde o início, aquele vínculo não possuía os elementos necessários para sua validade.
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O que se seguiu foi o mais gratificante de tudo: essa pessoa, agora livre para trilhar um novo caminho com outra pessoa, reencontrou sua fé e sua paz interior, encontrou-se novamente com Jesus na Eucaristia e no seu cônjuge, com quem celebrou o sacramento do Matrimônio.
Ao receber a notícia final, ela me disse algo que ecoa em mim até hoje: “Obrigada, doutor, por não apenas cuidar do meu processo, mas por me ouvir de verdade.”
Essas palavras são um lembrete poderoso de que, na advocacia – especialmente em questões envolvendo o direito religioso e canônico –, o aspecto técnico não é suficiente. A escuta é nossa melhor metodologia. É o que nos permite enxergar além das leis e artigos, compreendendo o ser humano que nos confia suas esperanças e suas dores.
Ao vê-la reconstruir sua vida e sua espiritualidade, compreendi mais uma vez que a plenitude do cliente é também a plenitude do advogado. Não há maior satisfação profissional do que ajudar alguém a encontrar justiça e paz em seu caminho.
Para nós, que atuamos com dedicação em nichos tão específicos como o direito religioso/canônico, esses momentos são a razão de nosso constante aperfeiçoamento e dedicação. Seguimos firmes, sempre aprendendo e renovando nosso compromisso com a escuta, o respeito e a busca pela justiça.
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