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Radomécio Leite

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Articulação que levou Epitácio Pessoa a ser Presidente do Brasil

08/12/2025 às 21h00

Coluna de Radomécio Leite

Por Radomécio Leite – A eleição de Epitácio Pessoa para a Presidência da República em 1919 é um dos episódios mais singulares da política da Primeira República (1889–1930). Ele não era candidato inicial, estava fora do país, e sua escolha resultou de uma articulação complexa entre as oligarquias estaduais — especialmente Paraíba, Pernambuco, Minas Gerais e o governo federal — após a morte do presidente eleito Rodrigues Alves.

A política do “café com leite” e o colapso momentâneo do arranjo tradicional

Durante a Primeira República, predominava o pacto oligárquico conhecido como política do café com leite, em que São Paulo e Minas Gerais se revezavam no poder. Porém, em 1918, quando Rodrigues Alves (SP) foi eleito, não conseguiu assumir devido à grave pneumonia – complicação da pandemia de gripe espanhola. Ele faleceu em janeiro de 1919.

Com isso, o Brasil enfrentou a necessidade de uma eleição extraordinária, quebrando provisoriamente o revezamento paulista-mineiro.

São Paulo estava politicamente enfraquecido pela doença e morte de Rodrigues Alves e pela divisão em suas elites. O campo ficou aberto para que outras forças regionais tentassem influenciar a sucessão.

À época, Epitácio Pessoa era Ministro do Supremo Tribunal Federal, Chefe da delegação brasileira na Conferência de Paz de Versalhes, na França, figura respeitada, mas afastada da política partidária e sem máquina eleitoral própria.

Sua candidatura surgiu como solução de compromisso, articulada para recompor o pacto oligárquico sem favorecer explicitamente nenhum dos grandes estados dominantes.

A articulação política que fez surgir o nome do paraibano Epitácio Pessoa

O governo federal precisava de um nome neutro.
O então presidente Delfim Moreira, mineiro e muito doente, estava sendo controlado de fato por seus ministros — especialmente o ministro da Justiça Rodrigo Alves e o ministro da Agricultura João Pandiá Calógeras. Eles buscavam evitar um conflito político entre Minas, São Paulo e os estados do Nordeste, pacificar as tensões internas criadas após a morte de Rodrigues Alves, e escolher alguém capaz de representar o Brasil nas negociações do pós-guerra.

Epitácio, já em Versalhes representando o país, se tornou o nome ideal.

O apoio decisivo da oligarquia nordestina

O Nordeste — com destaque para Pernambuco e Paraíba — viu na crise uma rara oportunidade de eleger um presidente da região.

Figuras-chave:

João Suassuna e outras lideranças paraibanas.

Oligarquias pernambucanas (família Pessoa e adversários que momentaneamente convergiram).

O Nordeste articulou um bloco que ofereceu a Epitácio apoio inicial, criando impulso político, repercutindo nacionalmente.

Minas Gerais adere ao plano
com São Paulo fragilizado e sem candidato capaz de unir suas próprias correntes. Minas Gerais — tradicionalmente pragmático — decidiu apoiar o nome de consenso.

Motivos:

Epitácio era um civil moderado, não representava ameaça ao poder das oligarquias mineiras, tinha bom trânsito entre elites jurídicas e políticas.

O apoio mineiro consolidou a viabilidade da candidatura e São Paulo foi forçado a aceitar
Apesar de tentar lançar o senador Altino Arantes ou o próprio Prudente de Morais Neto.

São Paulo percebeu que seu apoio isolado seria derrotado pelo bloco Minas Gerais-Nordeste.

Epitácio não prejudicaria os interesses cafeeiros

Seria uma solução transitória até que São Paulo recuperasse influência na eleição seguinte (o que de fato ocorreu com Artur Bernardes em 1922).

Assim, São Paulo acabou aceitando a solução conciliatória.

A escolha é anunciada à distância

Quando foi escolhido candidato, Epitácio Pessoa estava em Paris, e recebeu a notícia via telegrama.

A própria distância ajudou sua imagem: era visto como figura “acima das disputas partidárias”, tinha prestígio internacional devido à participação no Tratado de Versalhes. Simbolizava modernização e prestígio do Brasil.

A campanha e a vitória

A candidatura oposicionista foi de Ruy Barbosa, apoiado por setores urbanos e liberais, especialmente na Bahia e no Rio de Janeiro.

Mas o sistema eleitoral da Primeira República era dominado pelo voto de cabresto, e os governadores controlavam os resultados.

Tendo o apoio de Minas Gerais, Nordeste organizado, governo federal e parte de São Paulo, Epitácio venceu com larga margem.

Resumo da articulação

A eleição de Epitácio Pessoa foi resultado de:

▪️ ruptura temporária da política do café com leite

▪️necessidade de um nome neutro para recompor o pacto oligárquico

▪️articulação coordenada de elites do Nordeste

▪️adesão estratégica de Minas Gerais

▪️fragilidade das oligarquias paulistas

▪️prestígio internacional do próprio Epitácio, então em Versalhes

Epitácio Pessoa chegou à presidência da República sendo uma solução de compromisso diante de crise de representatividade entre São Paulo e Minhas Gerais, e não produto de uma máquina eleitoral própria — fato incomum na 1ª República.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Radomécio Leite

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Contato: [email protected]

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