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Edivan Rodrigues

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A Juventude e o Golpe de 1964

05/04/2009 às 18h15

Por Francisco Cartaxo

O Brasil viveu no começo de abril de 1964 momentos de incerteza quanto ao seu destino político. Foram dias tumultuados que deram origem a um regime de exceção na história brasileira com forte repercussão, sobretudo, na formação da juventude. Quinze anos após o golpe, enquanto via o noticiário de tevê, fui surpreendido com esta indagação:

— Tio, quem é esse tal de Arraes?
A pergunta veio de supetão, olhos e ouvidos presos à telinha, no auge do debate acerca da anistia política e do retorno de exilados famosos. Tomei um susto. Sabino Guimarães Filho, estudante de medicina em João Pessoa, não sabia quem era Miguel Arraes. A cena aconteceu 15 anos depois do golpe, quando o governador Dorgival Terceiro Neto completava o período administrativo de Ivan Bichara Sobreira (1975/79), que se afastara do cargo para disputar uma vaga de senador, em 1978. A mídia abria largos espaços ao tema da anistia, com destaque para três figuras consideradas perigosas pelos militares: Luiz Carlos Prestes, Leonel Brizola e Miguel Arraes, admitindo-se até a hipótese de excluí-las das regras da anistia que estavam em processo de negociação.

Àquela altura, Miguel Arraes de Alencar, percorrera trajetória política que, no curto espaço de 16 anos, o levara da secretária da Fazenda à Assembléia Legislativa, à prefeitura do Recife, ao governo de Pernambuco. E à prisão e ao exílio. Numa época caracterizada por forte divisão política e ideológica, a sociedade brasileira refletindo, entre esquerda e direita, o cenário do mundo bi-polarizado pela Guerra Fria. Arraes se afirmou como liderança nacional menos pelo discurso inflamado ao agrado das massas e mais pelo conteúdo de sua mensagem. E sobretudo porque governou apoiado em ampla base social, desenvolvendo ações em resposta às demandas da população mais carente. Para tanto, estimulou militantes, intelectuais, professores, artistas, técnicos a formular e executar programas que diminuíam as carências dos mais pobres, na perspectiva, democrática, de libertar as massas. Foi nesse contexto de efervescência política que se forjou o método Paulo Freire, que nasceram ou expandiram-se as artes populares, o Movimento de Cultura Popular (MCP) à frente. Miguel Arraes cresceu também sob o impulso de seu jeito conciliador, essencial às gestões bem sucedidas de reunir, por exemplo, usineiros, trabalhadores rurais e fornecedores de cana na formalização do Acordo do Campo, engenhosa fórmula de aumentar a remuneração do trabalho, reduzir as tensões na zona da mata, de elevar a renda, ampliar o mercado na região, fortalecendo a economia do Estado.

Tudo isso, e mais a deposição e 14 anos de exílio, ajudou a forjar o mito, o “pai Arraia”, no imaginário dos camponeses da zona canavieira. A ditadura tentou apagar da memória nacional esse pedaço da história, construída com a efetiva participação de lideranças jogadas no ostracismo, sob forte censura imposta aos meios de comunicação social, proibidos de divulgar fatos, declarações, simples registros em torno de brasileiros taxados de contestadores. Nem dom Hélder Câmara escapou desse véu de obscurantismo. A simbólica pergunta de Sabino Filho, (hoje competente oftalmologista em Campina Grande e Cajazeiras), 30 anos atrás, me vem à memória ao registrar a escuridão a que o golpe de 1964 relegou uma geração inteira.

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

Contato: [email protected]

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Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

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