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Edivan Rodrigues

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Os nobres das ruas do Rio

03/01/2012 às 12h37

Rio de Janeiro. Barão, conde, marquês ou visconde é o que não falta em placas de nomes de ruas e praças, aqui no Rio, sobretudo nos bairros mais antigos, como, Catete, Flamengo, Tijuca. É normal que assim seja. Aqueles títulos de nobreza, uma herança portuguesa, incorporaram-se ao nosso meio na época da Colônia e cresceu em demasia quando o então príncipe João chegou ao Brasil, fugindo das tropas de Napoleão Bonaparte, no início do século 19.

No afã de dominar a Europa, os soldados de Napoleão já estavam no território do minúsculo Portugal, quando o mundo oficial português embarcou rumo ao Brasil, em dezenas de navios escoltados pelos ingleses, que naquela época eram os donos do mar, tal o poderio de sua marinha de guerra. No final de 1807, dom João aportou, primeiro na Bahia, onde formalizou a decisão de abrir os portos do Brasil ao comércio exterior, dando um passo decisivo para o nosso desenvolvimento. Logo depois, veio para o Rio de Janeiro. Entre 10 e 15 mil portugueses desembarcaram no Rio, então um lugar com cerca de 60 mil habitantes. Foi um Deus nos acuda. Onde acomodar tanta gente? Ora, desalojando os nativos de suas casas e sítios. E mais, quem iria sustentar os recém chegados? Laurentino Gomes, no seu livro 1808 (Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil), afirma que a primeira solução foi obter um empréstimo da Inglaterra, no valor de 600.000 libras esterlinas. Esse dinheiro serviu para cobrir as despesas de viagem e os primeiros gastos da corte no Rio, grana que, mais tarde, fez parte da dívida de 2 milhões de libras que o Brasil independente herdou de Portugal.

Outra medida para sustentar os milhares de portugueses que acompanharam a família real foi fundar um banco estatal. Carta Régia de 1808 criou o Banco do Brasil, com capital de 1200 ações de valor unitário de um conto de reis. Como subscrevê-lo? Ainda segundo o jornalista Laurentino Gomes, isso de fez através da política de toma-lá-dá-cá. Os ricos compravam ações e eram recompensados com títulos de nobreza, comendas ou nomeação para cargos na nascente administração. O BB passou então a emitir moeda à vontade, para cobrir as necessidades do magote de patrícios que viviam às custas do rei. Assim nasceram muitos barões, marqueses, condes e viscondes. Alguns exibidos hoje em nomes de ruas. A tais subscritores, também se juntaram outros que, nas recém criadas repartições públicas, praticavam a eterna mania de misturar o público e o privado, sempre em benefício de patrimônio pessoal, familiar e de amigos do peito. Estes foram igualmente contemplados com honrarias típicas da nobreza.

Daí a profusão de títulos nobiliárquicos. Dom João VI concedeu no Brasil, em poucos anos, mais títulos de barão, marquês, conde e visconde do que se criou em Portugal ao longo de seis séculos… Por tudo isso, ruas, avenidas e praças do Rio de Janeiro, a antiga corte do Brasil imperial, ostentam tantos nomes de gente rica, virada nobre, porque subscreveu ações do primeiro Banco do Brasil, aliás, quebrado e liquidado em 1829. Só mais tarde, em 1853 nasceu o outro, que está aí até hoje. Desse modo teve origem a nobreza brasileira.

No mais, que 2012 traga ao leitor tudo de bom.
 


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

Contato: [email protected]

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

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