Refúgio
Por José Antônio
Adianta dizer que não estou com medo do covid 19? Estou sim. E tenho-me “escondido”, já alguns meses, numa fazenda no município de Pilões, Rio Grande do Norte, bem na Tromba do Elefante. Estou aguardando a minha chamada para ser vacinado. Aí dá para começar a circular, mas sempre com muito cuidado.
Neste longo período tenho vivenciado muitas coisas boas que a vida na zona rural nos proporciona: acordar com galo-de-campina cantando é uma verdadeira sinfonia para os meus ouvidos, contemplar a beleza do alvorecer ou do anoitecer com os raios solares sendo refletidos nas águas mansas de um imenso açude público, faz-me me lembrar dos belos por do sol de nosso Açude Grande.
Não me lembro de quando entrei numa canoa no Açude Engenheiro Avidos para pescar tucunaré, mas por aqui tenho me dado ao luxo de todas as semanas comer pirão de curimatã, traíra na grelha e filé de tilápia, todos pescados nas barragens da fazenda. É peixe em abundância.
Filho de agricultor, sempre gostei do campo e me delicio vendo o trator ir preparando as terras para o plantio de arroz, em longas e enormes baixadas, de cortar a terra para plantar milho e feijão, tudo isto com os olhos pregados no nascente a espera de chuvas.
Nada melhor do que ver, nas madrugadas, a vaca Cambraia ser arreada para o vaqueiro tirar o leite que vai temperar o arroz, ser servido no café e para fazer coalhada para ser degustada na hora do jantar e na volta do curral apanhar manga espada para a sobremesa do almoço.
Como é bom receber a visita dos netos e vê-los andando numa carroça sendo puxado por “Eduardo Costa”, o famoso jumento da fazenda, que já está próximo de ser aposentado. Eles adoram também passear no trator pelas estradas da fazenda e andar a cavalo. Eles preenchem a minha vida e a de Antonieta que fica numa alegria imensa com suas vindas e morta de saudades com suas partidas.
Ah sim teve um dia de moagem. O velho engenho que estava parado há mais de 20 anos voltou a moer cana e a chaminé, com sua volumosa fumaça, anunciava pelo olfato que havia mel fervendo nas caldeiras e já estava no ponto para cachear a rapadura, o alfenim e a batida. Foi uma festa.
Estas longas férias, mesmo tendo todos os dias de fazer vários trabalhos, na construção de cercas, no conserto das barragens, no plantio do capim, da cana e muitas fruteiras têm-me me feito muito agradecido a Deus e realizado.
Todos estes momentos me remontam à minha juventude, quando nas propriedades de meu pai eu fazia tudo isto: ajudava a plantar e colher, principalmente na lida do algodão, quando me esforçava muito para apanhar uma arroba por dia e eu era o responsável por transportar numa camioneta Chevrolet toda a produção de algodão para a firma de Galdino Pires, para ser pesado por Seu Benedito.
Nesses tempos de pandemia, aguardo a vacina, seja ela da China, da Rússia ou da Índia, não importa, mas por enquanto, no meu refúgio, penso não ser fisgado, e nem quero, pelo covid 19.
Tudo isto vai passar.
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