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Damião Fernandes

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Xamegão: A Política do Circo

04/06/2009 às 23h32

Por Damião Fernandes

Na Roma antiga, a escravidão na zona rural fez com que vários camponeses perdessem o emprego e migrassem. O crescimento urbano acabou gerando problemas sociais e o imperador, com medo que a população se revoltasse com a falta de emprego e exigisse melhores condições de vida, acabou criando a política “panem et circenses”, a política do pão e circo. Este método era muito simples: todos os dias havia lutas de gladiadores nos estádios (o mais famoso foi o Coliseu) e durante os eventos eram distribuídos alimentos (trigo, pão). O objetivo era alcançado, já que ao mesmo tempo em que a população se distraia e se alimentava também esquecia os problemas e não pensava em rebelar-se. Foram feitas tantas festas para manter a população sob controle, que o calendário romano chegou a ter 175 feriados por ano. 

Os Césares encarregavam-se ao mesmo tempo de alimentar o povo e de distraí-lo.
Havia distribuição mensal de pães no Pórtico de Minucius, que assegurava o pão cotidiano. Os Césares não deixavam a plebe romana bocejar nem de fome nem de aborrecimento. Os espetáculos foram a grande diversão para a desocupação dos seus súditos, e por conseqüência o seguro instrumento do seu absolutismo. Isso era um obstáculo a Revolução em uma Urbe onde as massas incluíam 150.000 homens desocupados que o auxílio da assistência pública dispensava de procurar trabalho. 

Em outras palavras: Essa era na verdade uma esmola que o rei generosamente fornecia ao povo. Era a política da enganação, com a clara tentativa de calar a voz da massa oprimida, injustiçada, que era lembrada apenas como forma de manobra política. Levando a grande massa á viver numa completa Alienação. Qualquer semelhança com a prática política em Cajazeiras não é mera coincidência. 

E o que seria Alienação senão isso: Apesar de estarmos vivenciando uma grave crise econômica de repercução mundial, onde grandes e tradicionais multinacionais estão indo á falência, fato que tem repercutido também em País, em nosso Estado e em nossa região, onde inúmeros prefeitos do Alto Piranhas – Inclusive o deste município – reclamaram da grande queda do FPM – Fundo de Participação dos Municípios – e da baixa na arrecadação dos Impostos, mesmo assim, nesta cidade do Pão e do Circo, se constata a organização de uma festa “Junina” de proporções gigantescas, no que diz respeitos aos investimentos econômicos. Investimentos de algo em torno de 450 mil reais. 

E mesmo diante dessa realidade, a grande multidão assiste passivamente, inebriada com as grandes atrações contratadas, – as grandes bandas de forró eletrônico, – mas que não apresentam nenhum significado cultural com relação a tradicional festa junina, o original forró pé de serra. 

Na verdade, tudo é espetáculo. É sempre um show circense com raízes românica. São fogos de artifícios de vários modelos explodindo no céu, gente bonita cantando e dançando no palco; é uma coisa fantástica! Tudo produzido com a clara intenção de divertir o povo, mas uma diversão que não produz crescimento cultural, conhecimento autentico. Pelo contrário, contribui para a construção cada vez mais de uma sociedade que desconhece sua cultura local e com isso, mina suas possibilidades de questionar, argumentar, lutar. 

O Xamegão funciona como um mecanismo de alienação da grande massa, em nome de uma pseudo “festejo junino”. Ele é apenas o Circo oferecido pelos representantes do povo á grande massa faminta por entretenimento sem sentido. O Xamegão é isso e foi pensado para esta finalidade. Na verdade o Xamegão se torna semelhante ás atrações românicas, que tinham aclara função de ser apenas uma “diversão faraônica e fantasmagórica, ou seja, não contribuindo para a formação de sociedade de consciência crítica e reflexiva. 

Em conseqüência, a própria sociedade é literalmente prejudicada com esses shows faraônicos, cujos mesmo normalmente são pagos com dinheiro público, o qual é fruto dos impostos que o povo paga rigorosamente em beneficio do Município. Os prejuízos maiores sempre recaem nos Munícipes, haja vista que esse dinheiro dificilmente é circulado nos comércios locais. Em resumo, os algozes, “políticos”, atingem o alvo com suas mensagens enfadonhas e medíocres. Já os produtores de eventos, evaporam com o cachê para outros lugares, pois eles normalmente são de outra cidade distantes para facilitar a maracutáia com os “políticos” que os contratam. 

Quanto mais tempo durar a Política do Circo, mais intenso será o estrago moral, social e mental causado á sociedade.

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

Contato: [email protected]

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

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