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Edivan Rodrigues

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A emoção de Augusto Araruna

18/12/2011 às 13h51

O médico Antônio Augusto Araruna gostaria que seu colega Sabino Rolim Guimarães tivesse sido enterrado de pé, com o coração acima do estômago e a cabeça acima do coração. Falou assim quando da reinauguração do Centro de Reabilitação Auditiva, a que foi dado o nome daquele oftalmologista, em um dos últimos atos públicos de Leo Abreu, em sua bocejante passagem pela prefeitura de Cajazeiras. O evento ocorreu no dia 2 de maio de 2011, exatamente, 15 dias antes de Leo Abreu renunciar ao cargo de prefeito. A surpresa da solenidade ficou por conta da emocionada fala de Augusto Araruna. Emocionante e inusitada. Aliás, não estava sequer programada. Programado e cumprido foi o agradecimento da família do homenageado, feito com segurança e equilíbrio pelo herdeiro e também oftalmologista, Sabino Filho.

De improviso, Augusto Araruna derramou nostálgicas lembranças de Sabino, seu colega e amigo confidente, ao recordar episódios vividos pelos dois, o que mexeu com o sentimento dos presentes. Não tanto pelos fatos narrados ou pelos adjetivos usados, mas pela forma emotiva da evocação, nascida do fundo da alma, transmitida com uma carga forte, intensa e sincera de amizade. Por isso nos emocionou. Suponho que contagiou não apenas a quem conviveu com Sabino Rolim Guimarães, mas a todos os presentes. No final do discurso, Antônio Augusto recorreu à imagem retórica aplicada ao presidente João Pessoa, embora na ocasião, tenha confessado não lembrar o autor.

Eu quis naquela ocasião recordar o episódio, mas o momento passou. Faço agora, sob o estímulo de conversas com parentes e amigos acerca daquela homenagem a Sabino. Na verdade, Antônio Augusto Araruna queria citar palavras do deputado mineiro Pinheiro Chagas, a seguir transcritas, pronunciadas à beira do túmulo no sepultamento de João Pessoa, no Rio de Janeiro:

“Agora, senhores, podereis levar o seu corpo à morada derradeira. Mas, atentai: um homem como ele deveria ser enterrado de pé. De pé, como sempre viveu. De pé, como não vivem muitos dos seus algozes. De pé, como quis ser enterrado Clemenceau, com o coração acima do estômago e com a cabeça acima do coração”.

E quem foi Clemenceau? George Benjamin Clemenceau era médico, nascido na França em 1841, jornalista, político (foi deputado, senador, ministro, notabilizando-se pela defesa intransigente dos ideais republicanos). No início do século 20, ocupou, mais de uma vez, o cargo de Primeiro Ministro da França, inclusive em pleno desenrolar da Primeira Guerra Mundial. Portanto, se tratava de figura conhecida no mundo inteiro, na época em que a França era referência cultural e política para a humanidade.

Clemenceau morreu em novembro de 1929, ou seja, oito meses antes do assassinato do presidente João Pessoa, em julho de 1930. Ora, a lembrança do célebre estadista francês estava muito viva, ao ponto de induzir Pinheiro Chagas a mencioná-lo na hora da despedida do corpo do herói-mártir que a Paraíba ofertou ao movimento revolucionário que três meses depois colocava Getúlio Vargas no poder.
 


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

Contato: [email protected]

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

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