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Renato Abrantes

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A Hiprocrisia do Palhaço

02/12/2007 às 00h00

Pobrezinho do palhaço do artigo da semana passada!!! Sua sinceridade foi colocada em xeque por um ilustre leitor que, erroneamente,
questionou a honestidade do coitado. Para quem não leu o texto anterior, o citado palhaço é aquele que, na obrigação de fazer os outros rir (pois o espetáculo tem que continuar), derrama lágrimas por trás de sua máscara, uma vez que sua filhinha morrera há poucos instantes.

O nobre leitor achou que eu estava acentuando a falta de transparência do palhaço (e nossa também), ao afirmar pouco depois que
cada um de nós tem sua máscara. Ou a máscara do palhaço (a máscara do cumprimento estrito do dever, mesmo em situações extremas), ou a máscara dos espectadores (os que estavam rindo na platéia, mas que também tinham suas lágrimas a serem derramadas).

A "ética do dever" me fascina, embora às vezes também me custe. Cumprir uma ordem recebida, uma determinação ou uma imposição em nome do dever e da obediência é algo sagrado. Tanto que nós, religiosos, fazemos voto de obediência, em virtude do qual a voz do superior quando manda legitimamente tem o peso da voz de Deus. Da mesma forma, o militar que, mesmo colocando em risco a própria vida, tem que cumprir a missão do seu comandante sem pestanejar. Ou o empregado que tem que acatar as decisões e ordens do patrão, senão vai para o olho da rua.

Por vezes o religioso, o militar ou o funcionário podem não concordar com as ordens recebidas, mas têm que obedecer de qualquer forma, sob risco de desobediência ou insubordinação. Assim se move o mundo, quer queiramos ou não. Assim funciona qualquer instituição humana, desde a família (os pais e os filhos), até o Estado (o presidente ou chefe de Estado e os cidadãos).

Obedecer, concordando com as ordens recebidas, é meritório. Contudo, obedecer sem concordar com o que foi determinado pela autoridade, é mais meritório ainda. Alguém pode estar pensando que a obediência aniquila o senso crítico, ou que o sujeito que é capaz de obedecer é um "bitolado", ou um "pau mandado". Não se trata disto, absolutamente. Ninguém mais crítico do que aquele que sabe obedecer, obedecendo criticamente. Colocando-se no devido lugar de subordinado, sabendo a quem obedecer e como obedecer.

O que obedece ao seu superior hierárquico é um herói (mesmo que seja um palhaço chorando por trás de sua máscara). As lágrimas quentes derramadas em faces rubras significam o estado emocional, os conceitos, a própria opinião, o modo de ver a vida, ou mesmo o amargo arrependimento de decisões tomadas e que são sem volta; lágrimas declinadas (escondidas) frente à voz daquele que, como dito, legitimamente manda, ou de uma situação a que se propôs viver anteriormente. Nada de falta de transparência! Muito pelo contrário: heroísmo da obediência! Nada de hipocrisia (renunciar à opinião pessoal em favor da de outro), mas virtude das mais belas.

A "ética do dever" deveria iluminar a nossa vida. Se bem que difícil, pois nem sempre podemos voltar atrás em nossas decisões, particularmente as mais fundamentais. O espetáculo tem que continuar, mesmo que estejamos chorando por trás de nossas máscaras. Chorando, fazer os outros rir, longe de ser fingimento, é ato de máxima coragem, somente os homens são capazes disto. Significa profundo equilíbrio emocional (mesmo em momentos de turbulência).

Contudo, ninguém deve se escandalizar, ou se espantar, se o palhaço decidir arrancar de si a máscara e, chorando, num ato inusitado,
bradar a Deus e ao mundo que a sua filhinha morreu e por isso não pode fazer mais ninguém rir. O palhaço também tem a sua consciência e somente Deus a julgará. Nenhum de nós tem este direito. Ele sabe por que chora …

Renato Abrantes

Renato Abrantes

Advogado (OAB/CE 27.159) Procurador Institucional da Faculdade Católica Rainha do Sertão (Quixadá/CE)

Contato: [email protected]

Renato Abrantes

Renato Abrantes

Advogado (OAB/CE 27.159) Procurador Institucional da Faculdade Católica Rainha do Sertão (Quixadá/CE)

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