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Gildemar Pontes

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A ideia da força e a força das ideias

03/05/2020 às 18h44

Coluna de Gildemar Pontes

Um amigo, com quem dialogo frequentemente sobre a realidade em que vivemos, mostrou sua preocupação diante do marasmo a que estamos imersos como sociedade, diante deste governo desastroso para o país. E eu, com a minha habitual necessidade de fustigar as ideias, propus uma reflexão sobre a ideia da força e a força das ideias.

Concordo que a força é secundária diante das ideias, mas nós não somos monges tibetanos na escala de santificação no nível do Sidhartha Gautama. Somos pobres de religião, aprisionados por um cristianismo opressor e punitivo.

Por isso, hoje, o cristianismo está tão próximo do poder. E o cristianismo mais deturpado que se pôde desenvolver, baseado no lucro e na ignorância dos fiéis. A força das ideias, por exemplo, não funcionou na França se não tivesse a queda da Batilha e a ascensão e queda de Napoleão. As guerras depuraram as ideias porque as ideias não conseguiram suportar o egoísmo.

Falar em ideias no Brasil não é um assunto normal que se faz na escola e nas associações de classe. Discutir ideias aqui é como discutir física quântica. Muito complicado para quem não saiu ainda das quatro operações da tabuada. As escolas estão aparelhadas por políticos que colocam capatazes em vez de diretores com formação acadêmica. Mesmo quando alguns diretores têm capacitação para administrar, são boicotados por um poder medíocre que apresenta números, mas não apresenta resultados práticos. Há raras e honrosas exceções. Por outro lado, o professor, que deveria ser o grande artista da revolução educacional da qual necessitamos, é quase um esmoler. Vai para o exercício da profissão movido mais pela necessidade do que pela vontade. Essa inversão de valores faz com que tenhamos uma péssima educação. Desde os governos militares, vemos nossa educação sofrer por ausência de políticas públicas. Onde primeiro se cortam verbas quando se quer realizar ajuste na economia? Na educação. E todos os governos fizeram isso. Basta lembrar das greves por mais verbas para investimento, condições de trabalho e salários. Cada governo respondia com migalhas ou com cortes e sob ameaças de represálias, o que tornou a categoria de professores uma das mais aviltadas e desrespeitadas dentre as profissões de formação superior.

Então, a força das ideias não prospera num ambiente infértil. Não estamos formando jovens para a ciência, para o humanismo, para o esporte e para a cidadania. Estamos passando o tempo deles e cumprindo o nosso tempo de trabalho, em um faz de contas que produziu um vácuo profundo na identificação do povo com o seu país. Perdemos para a especulação financeira e para o lucro, perdemos para o acentuado grau de canalhismo dos nossos representantes na câmara e no senado. Perdemos para as condições precárias de saúde pública, que podem levar ao extermínio de milhões de brasileiros por todo tipo de doença, agudizada pela COVID-19, nesta época de pandemia.

Enquanto em escala ínfima de organização pensamos, o governo está negociando a perversão e o banquete macabro do “toma lá – dá cá”, para manter essa estrutura hodierna no poder.

Uns poucos brasileiros, talvez nós, estejamos no meio deles, temos o privilégio de pensar e até de propor mudanças, mas não temos a força de realização, pois nos falam as forças de reação.

Profissionais da saúde, agredidos por pessoas que se dizem patriotas, simplesmente pelo fato de estarem prestando solidariedade e protestando pelos mortos na linha de frente do enfrentamento da pandemia, revelam que precisamos de uma reação proporcional à força da brutalidade, com a vantagem de que teremos a força das ideias.

Há muito vampiro para pouco sangue.

Precisamos enfrentar a estupidez com o mesmo vigor que as mães põem filhos no mundo. O parto é dolorido, mas a recompensa é o cuidado que passam a ter com o ciclo da vida. A dor é só uma passagem para o nascimento de um novo ser.

*Escritor. Dr. em Letras. Prof. de Literatura da UFCG. Membro da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL.

Gildemar Pontes

Gildemar Pontes

Escritor e Poeta. Ensaísta e Professor de Literatura da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, em Cajazeiras. Graduado em Letras pela UFC, Mestre em Letras UERN. Doutorando em Letras UERN. Editor da Revista Acauã e do Selo Acauã. Tem 22 livros publicados e oito cordéis.

É traduzido para o espanhol e publicado em Cuba nas Revistas Bohemia e Antenas. Vencedor de Prêmios Literários locais e nacionais. Foi indicado para o Prêmio Portugal Telecom, 2005, o principal prêmio literário em Língua Portuguesa no mundo. Ministra Cursos, Palestras, Oficinas, Comunicações em Eventos nacionais e internacionais. Faixa Preta de Karate Shotokan 3º Dan.

Contato: [email protected]

Gildemar Pontes

Gildemar Pontes

Escritor e Poeta. Ensaísta e Professor de Literatura da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, em Cajazeiras. Graduado em Letras pela UFC, Mestre em Letras UERN. Doutorando em Letras UERN. Editor da Revista Acauã e do Selo Acauã. Tem 22 livros publicados e oito cordéis.

É traduzido para o espanhol e publicado em Cuba nas Revistas Bohemia e Antenas. Vencedor de Prêmios Literários locais e nacionais. Foi indicado para o Prêmio Portugal Telecom, 2005, o principal prêmio literário em Língua Portuguesa no mundo. Ministra Cursos, Palestras, Oficinas, Comunicações em Eventos nacionais e internacionais. Faixa Preta de Karate Shotokan 3º Dan.

Contato: [email protected]

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