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José Antonio

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As pedras da minha vida

01/11/2025 às 20h59

Imagem ilustrativa

Por José Antonio – Qual seria a rua ou avenida mais bonita de Cajazeiras? Qual a mais famosa? Quais as melhores para se residir? Poderíamos fazer inúmeras perguntas a respeito das ruas, avenidas, praças, vielas, travessas e bairros de nossa cidade.

Ouvi do então governador Ernani Sátyro, quando veio “apresentar” Ivan Bichara Sobreira, eleito governador da Paraíba, em uma grandiosa festa, que “Cajazeiras era uma cidade difícil de fazer obras sanitárias, porque ela está construída em cima de uma grande rocha” e eu que fiz a saudação ao filho da terra, complementei a frase de Ernani: é melhor se edificar em terras rochosas do que sobre areia.

As dificuldades em se construir sobre rochas são imensas, basta ver um pequeno trecho do canal da Travessa Joaquim Costa, do saneamento da Zona Norte, da Rua Dr. Coelho e Coronel Peba, entre outras que causaram transtornos para seus habitantes, além dos custos que são triplicados.

São as rochas encravadas nos leitos das nossas ruas e sob as casas que dificultam a acessibilidade de nossas calçadas, que ao longo do tempo alguns gestores andaram fazendo tentativas de construí-las de forma lineares, sem rampas de acesso ao interior da casa ou de estabelecimentos comerciais, mas logo desistiram. Inclusive o Código de Postura do Município “proíbe” construir rampas ou degraus sobre calçadas.

A poetisa cajazeirense, já falecida, Teté Assis, em sua poesia “Recordando Cajazeiras”, de 1964, se expressava:

“Cajazeiras! Cajazeiras!
De longas calçadas altas,
Sem pracinhas, sem jardins.
As casas de residências
Viviam sempre abraçadas,
Enfeitadas de janelas,
Por onde a luz se escoava”.

A nossa poetisa, já 1964, teve a sensibilidade de ver as “calçadas altas” de nossa cidade, nos atuais dias, talvez muitas delas já não sejam assim, foram rebaixadas, mas os interiores das casas continuam com degraus.

Quando passei no vestibular, na cidade do Recife, em 1967, minha mãe me deu presente um terreno para que, no futuro, pudesse construir uma casa e o local está situado no Sítio Capoeiras, em terras de uma fazenda que meu pai criava gado de leite, conhecido como a “Pedra do Sapo”, hoje já denominada de Rua Papa João Paulo II. Passei de janeiro de 1978 até 30 de abril quebrando pedras para nivelar o terreno e dei inicio à sua construção no feriado de 1º de maio e no dia 15 de novembro deste mesmo ano, sai de uma casa que ainda hoje faz parte do nosso patrimônio, na Rua Dr. Coelho e passei a residir na “Colina da Esperança”, nome dado por Padre Luís Gualberto de Andrade, meu compadre e fraternal amigo.

Na Colina da Esperança, não chegava água saneada e durante anos o sofrimento foi muito grande para resolver este problema, enquanto isto, a água para os serviços gerais e a  energia vinham da fazenda de meu pai, depois que construi uma rede de baixa tensão de 300 metros e outra de água de um cacimbão, que nos primórdios abastecia parte dos habitantes do Sítio Capoeiras, às margens do Rio São José, hoje cortado pela Avenida Francisco Arcanjo de Albuquerque.  Nesta casa nasceu meu filho caçula, que foi batizado com o nome do avô: Francisco Arcanjo de Albuquerque Neto.

Sou um homem cercado de pedras, de um lado pela famosa Pedra do Sapo, do outro de uma enorme pedra quase retangular, que a aproveitei para fazer a caixa d’água para abastecer a casa e ao leste, entre três grandes pedras, construi uma área de lazer.

Não foi  fácil preparar o terreno/lajedo e para ter uma espaço razoavelmente plano, para construir minha casa,  a princípio contratei um lote de 13 jumentos e suas caçambas de madeiras, que pertencia a José Laurindo, para fazer um acesso ao enorme lajedo e durou mais de mais quatro meses. Quando a construção estava na altura de portas, Frei Damião a visitou para uma benção.

Recordo uma fala de um compadre de meu pai que esteve visitando a construção de minha casa: “eu sabia que meu compadre tinha um filho, só não sabia se ele era doido”. Hoje, em cima da Colina da Esperança, abro as janelas do coração, e não vejo só luzes, mas só as saudades e as lembranças que não esmorecem e os sentimentos são imperecíveis, difíceis de serem arrancados do coração, são paixões desenfreadas e desmedidas que permanecem nas nossas entranhas que só a morte poderá extinguir e me vêm as palavras de Frei Damião: “bendita seja esta casa e a sua família”.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

José Antonio

José Antonio

Professor Universitário e Diretor Presidente do Sistema Alto Piranhas de Comunicação.

Contato: [email protected]

José Antonio

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