As pessoas querem ser amadas
Por Padre Djacy Brasileiro
Eis que vos dou um novo mandamento: “amai-vos uns aos outros”, disse Jesus Cristo. Quando ele fala isso, é porque sabia que o ser humano, não importa quem, sente a necessidade extrema de ser amado, tratado com carinho, atenção, respeito. A pessoa humana, afinal, é feita de coração, de sentimento, de sensibilidade.
Como é bom querer bem as pessoas. Não custa nada amá-las, tratá-las com carinho, atenção, respeito, sobretudo aquelas pessoas pobres, excluídas, que nada têm a não ser a própria existência humana. São essas pessoas que mais clamam pelo nosso olhar de ternura, de compaixão, de solidariedade. Para esses irmãos excluídos, Jesus falara: “vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” ( Mt,11,28).
Quando a gente ama, nada diminui na nossa vida. Pelo contrário, crescemos interiormente. Ficamos mais felizes e em estado de harmonia. Numa palavra certeira: ficamos em paz com Deus, conosco e com os irmãos. Até a natureza sai ganhando, porque estamos na mesma barca do mundo natural. Nada mais é do que a dinâmica do amor vertical e horizontal: eu e Deus; eu o outro, o tu; eu e a natureza, a natureza e nós.
É preciso que sejamos humildes para entrar amorosamente na vida das pessoas. A humildade nos leva a abrir o coração para o próximo, o meu irmão. Foi o que fizera o Bom Samaritano. Na sua humildade, disponibilidade, socorreu o irmão agredido, doente, abandonado, quase morto. O amor daquele homem bom salvou aquela vítima da violência e da beira da morte. Só os simples, oshumildes, os desapegados, os puros, têm a capacidade de estar com o outro, caminhar com o outro, de olhar para o outro com o olhar do coração, da ternura e da compaixão, sem jamais olhar a quem e receber algo em troca: “amar que ser amado. Pois, é dando que se recebe”, dizia São Francisco sobre a beleza do amor ágape.
Às vezes fico a questionar: pra que tanto orgulho, tanta arrogância, tanta prepotência, tanta vaidade? Para que serve a loucura frenética em busca de grandeza, de status, se a vida é tão breve e, o pior, nada levaremos? Ora, quando corremos em busca desenfreada dessas coisas terrenas, ilusórias, esquecemos do irmão que clama pungentemente pelo nosso amor, pelo nosso carinho, pelas nossas mãos solidárias e sentimento de compaixão e misericórdia. Com isso, será que muitos não perdem a oportunidade de juntar tesouro na Casa do Pai? “Vaidade das vaidades! Tudo é vaidade” (Ec 1:2).
Para os semideuses arrogantes, orgulhosos, prepotentes, que desprezam os humildes, os pobres, exatamente porque não conhecem o caminho do amor, valem estas palavras sábias e certeiras do salmo 48 (49):
Por que temer os que confiam nas riquezas *
e se gloriam na abundância de seus bens?
Ninguém se livra de sua morte por dinheiro *
nem a Deus pode pagar o seu resgate.
A isenção da própria morte não tem preço; *
não há riqueza que a possa adquirir, nem dar ao homem uma vida sem limites *
e garantir-lhe uma existência imortal. Morem os sábios e os ricos igualmente; †
morrem os loucos e também os insensatos,
e deixam tudo o que possuem aos estranhos;
os seus sepulcros serão sempre as suas casas,
suas moradas através das gerações, *
mesmo se deram o seu nome a muitas terras.
Não dura muito o homem rico e poderoso; *
é semelhante ao gado gordo que se abate.
Vale ressaltar, que amor não é romantismo, poesia, palavras bonitas e emocionantes. Amar é sair de si mesmo e ir ao encontro do outro, e do outro que clama pelo meu amor ágape. Amar é lutar para que o outro viva bem, com dignidade. É apoiar a luta dos pobres contra as injustiças, as desiguales e todo tipo de escravidão etc. Amar é ser solidário, ser humano, ter sensibilidade diante do sofrimento do irmão. É apoiar sua luta por libertação. O amor de Jesus pelos pobres foi o centro de toda sua vida: “eu vim para que todos tenham vida” (João, 10,10).
Sejamos humildes. Demos atenção a quem quer que seja. Abracemos as pessoas sofridas, excluídas, que nada têm nesta vida, repito. Saiamos dos nossos bairros chiques, das nossas casas elegantes, e visitemos, como cristãos, as pessoas que moram nas periferias, nas favelas, no interior. Entremos nas suas casas. Conversemos com os seus moradores. Abracemos a todos. Nada de frescura. Visitemos as prisões, os hospitais, sobretudo os públicos. No julgamento, Jesus irá dizer: “vinde, benditos de meu Pai para o reino, porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me acolhestes; estava nu, e me vestistes; adoeci, e me visitastes; estava na prisão e fostes ver-me”(Mt 25:31-46).
Queiramos bem a todos. Nada de individualismo. Partilhemos. Sejamos solidários, fraternos, irmãos. Não pensemos só em nos mesmos, no nosso mundo, no nosso castelo pessoal. Compartilhemos com os pobres o que podemos compartilhar: o amor, a ternura, o calor humano e até mesmo os bens materiais. Não custa nada sair de si em direção ao outro. São João da Cruz assim expressava: “no entardecer da vida, seremos julgados pelo amor”.
Quando uma pessoa humilde, que vive no desprezo da vida, por nada ter, recebe amor, carinho, atenção, ela se sente gente, importante, considerada e amada. Por que os pobres, os excluídos, os sem nada na vida, corriam atrás de Jesus? Porque sentiam-se amadas pelo Senhor. Era o amor (amor libertador) de Jesus pelos pobres que o tornava admirado, querido, respeitado e tratado com autoridade: “quando Jesus deixou o barco, viu numerosa multidão; sentiu-se movido de grande compaixão pelo povo, e curou os seus doentes (Mt 14: 14).
Jesus não oferecia dinheiro nem outro bem material aos pobres. A única coisa a dar-lhe era o amor. Jesus os amava incondicionalmente. Era esse amor profícuo que o fazia famoso. Jesus tinha doutorado no amor. E por ser doutor na arte sublime de amar, deixou-nos o mandamento do amor: “um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como Eu vos amei ( João 13,34).
Padre Djacy Brasileiro, em 10 de outubro de 2015
E-mail: [email protected]
Twitter: @Padredjacy
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