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Renato Abrantes

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Coração podre

31/03/2011 às 00h00

Dentre as virtudes que assemelham o homem a Deus, o perdão é a mais sublime. A Santíssima Trindade, que ao longo da história mostrou-se a nós de diferentes formas, também nos apontou inúmeras maneiras de perdoar.

Aos pais, o Deus Criador dá o exemplo, ao perdoar os filhos desobedientes, Adão e Eva, poupando-lhes a vida e educando-os através da dor e do sofrimento. Aos irmãos, o Deus Redentor, Jesus Cristo, pregado na cruz, suplicou o perdão para os seus algozes e o obteve para a humanidade ferida pelo pecado. Aos humilhados sob o peso da própria consciência, o Deus Espírito Santo, através das mãos sacerdotais, não deixa de assistir aos que buscam a certeza do perdão sacramental.

Não perdoar é a mais dramática escolha. Não querer ser perdoado (o pecado contra o Espírito Santo, frente ao qual não há perdão) é a opção mais insana. As portas do perdão estão sempre abertas. Não há Deus – se Deus é – que não perdoe, até os mais graves delitos, quando o pecador, convencido das próprias limitações, dEle se aproxima. Não há ninguém que, querendo ser perdoado, deixe de receber esse refrigério divino, desde que arrependido e portador dos melhores propósitos. O orgulho é o câncer da alma. Mas, Deus é maior que nossas misérias.

Ele, respeitando a liberdade que nos deu, deixa de agir apenas em um momento: quando recusamos o Seu perdão. Objetivamente, quando não perdoamos os outros, quando nos obstinamos em não perdoar, impomos uma barreira à ação de Deus. Nesta situação, rezar o Pai Nosso seria uma grande contradição. Nas santas palavras, ensinadas pelo próprio Cristo, condicionamos o perdão de Deus ao perdão que damos aos outros: “perdoai-nos as nossas ofensas (ou as nossas dívidas), assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido (ou aos nossos devedores)”.

Quem não perdoa alimenta um verme miserável que corrói dia e noite a alma e que faz apodrecer o coração soberbo. Quem não perdoa não vive. Morre em vida, pois deixa de existir para si e para os outros.

Dizer “não perdoo” é o mesmo que assinar a própria condenação, pois, quando aos outros não perdoamos, de Deus não recebemos o perdão. É ofensa sobre ofensa. Porém, quando perdoamos, temos a certeza de que Deus, que foi prejudicado com nossos pecados, nos perdoará. Há um condicionante ao perdão de Deus: o nosso.

Perdoar não é fácil, especialmente quando a ofensa contra nós é grande. Imaginem a dor de um pai que tem a sua filha estuprada e morta. Não é nada fácil. Mas, acredito que bem mais fácil é perdoar e confiar na misericórdia divina. Só assim, a dor se torna menos duradoura. E são muitos os casos de perdão. Mas, infelizmente, bem maior é a quantidade de quem insiste na própria perdição.

Para quem quer, a sua graça e amizade de Deus não faltarão. Eis a Quaresma, o tempo do perdão. Façamos uma Santa e boa confissão sacramental. Mas, antes, perdoemos para sermos perdoados.

Renato Abrantes

Renato Abrantes

Advogado (OAB/CE 27.159) Procurador Institucional da Faculdade Católica Rainha do Sertão (Quixadá/CE)

Contato: [email protected]

Renato Abrantes

Renato Abrantes

Advogado (OAB/CE 27.159) Procurador Institucional da Faculdade Católica Rainha do Sertão (Quixadá/CE)

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