Eles não perdoam nunca
Eles ignoram muitas coisas. Limitam-se à superficialidade das manchetes, da informação ligeira, da notícia folclórica. Apesar das ferramentas adquiridas na academia, eles restringem seu raio do saber ao mundo que os cerca. São Paulo basta-se a si mesmo. O resto não importa. E mais, alimentam preconceitos, desconsiderando o Brasil real. O termo “paraíba” é aplicado pejorativamente a todo nordestino em desrespeito ao Estado de origem do trabalhador imigrante. Nada mais simbólico do preconceito e da ignorância. Eles desdenham até nosso modo de falar, arrastado, às vezes, cantante, apontado como sinal de inferioridade, mesmo quando falado por escritores que eles aplaudem, como Ariano Suassuna. Até fazem ouvido de mercador a quem senta ao seu lado, a embrulhar a língua quando fala “corrda”, “porrtal”, como faz, por exemplo, o paulista José Dirceu.
Eles engoliram Lula, o migrante escapado da seca do Nordeste, região que, para eles, se restringe a sol, praia de águas mornas, miséria, corrupção, oligarquia. Lula presidente, racionalizam, já deixara de ser “paraíba”. É verdade, a cabeça de Lula é de paulista, mas o sentimento é nordestino. Lula não esqueceu o seu passado. Eles, ao contrário, esquecem fácil. Querem um exemplo? A mais avassaladora oligarquia construída no Brasil tinha raiz na lavoura do café. A oligarquia paulista, dissimulada na modernidade, sugava a seiva nacional, através de mecanismos cambiais, financeiros, fiscais, responsáveis pelo empobrecendo de outras regiões, como Celso Furtado demonstrou, sobejamente. Isso eles fingem esquecer. Na Velha República, eles pingaram o leite mineiro no seu café, na armação do federalismo hegemônico, defeito em 1930 por gaúchos, paraibanos e mineiros, quando a ganância dos “coronéis” do café quis alijar Minas do revezamento do poder nacional. Por isso, nunca perdoaram Getúlio.
E a corrupção? Para eles, corrupção só existe da Bahia para cima. Minha mãe, bisneta de índia, se fosse viva, decerto, sentenciaria: “macaco olha teu rabo e deixa o rabo da cutia”… E, fingindo distração, ela perguntaria, “meu filho, Paulo Maluf nasceu no Ceará que nem eu? E aquele juiz, o Lalau, era magistrado na Bahia ou no Piauí?” Sábia mulher, minha mãe.
Eles não perdoam. Nunca. Agora mesmo, focaram o olhar midiático num sertanejo do São Francisco, em atitude de atirar no que não enxergam para acertar o que começam a ver: a ascensão de jovem governador nordestino de sotaque igual ao dos “paraíba”. Mandaram jornalistas a Pernambuco, cascavilhar o passado do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, para “provar” que a merreca de 90 milhões de reais liberados para seu Estado era um pecado anti-republicano, visando engordar a corrupta oligarquia nordestina, na visão preconceituosa deles, claro.
Não acharam o que buscavam. Em compensação, encontraram cinco barragens em construção para prevenir enchentes na Zona da Mata de Pernambuco e Alagoas. Eles viram, mas sonegaram a realidade de uma região em franco crescimento, mercê de um processo de modernização econômica, empresarial, tecnológica, educacional e, também, da gestão pública, guiada por métodos eficientes e eficazes de aplicar bem os recursos públicos. Nada parecido com o “rouba, mas faz” que imortalizou o ex-governado de São Paulo, Ademar de Barros, ícone político de muitas gerações paulistas, renascido nos Maluf da vida, competentes e aplicados discípulos de Ademar.
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