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Nadja Claudino

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Impressões de Uiraúna, 2ª Parte

04/09/2008 às 07h58

De fato, Uiraúna é a terra dos músicos. Quase todos os dias passam crianças nessa avenida, carregando flautas, tambores e baquetas, numa empolgação de quem morria de sede no deserto e agora achou o oásis. Passam em direção a algum lugar onde se dá aulas por aí. Hora passam sem tocar coisa com coisa, meio apressadas pra tirar dos taróis alguma melodia, mas não tiram, hora dá pra perceber as primeiras notas saindo das flautas de plástico – aquelas mesmo, de lojinhas de variedades.

Uiraúna é, de fato, a terra dos músicos. Tem na praça central uma placa com o desenho de uma arpa dando as boas-vindas. E à noite passam aqui em frente um pivete e uma jovem com pinta de crente, carregando um violão cada um, tentando caminhar e tocar ao mesmo tempo. Tenho percebido que ele já consegue formar um Ré Maior com muito sacrifício. E ela, com a saia tocando as pontas dos dedos dos pés, pretende louvar ao senhor com canções do Reino de Deus. É bonita, diga-se de passagem.

Uiraúna é a terra dos músicos, assim como Cajazeiras é a terra da cultura. Na verdade, são títulos de honra. Cajazeiras não é essa tal terra. E é evidente que Uiraúna não forma mais e melhores músicos que a capital João Pessoa, por exemplo (é uma questão de estrutura e tamanho). Mas certa vez eu estava de bobeira no apartamento, tomando café e preparando um disco do Strokes pra ouvir, quando entrou pela janela um som de flauta. Doce som. Vinha da vizinhança, lá em baixo. Imediatamente desisti do rockn roll e me voltei pra melodia que vinha devagar e quase muda lá de fora. Uma ou outra nota entrava errada, como se a pessoa que tocava tivesse os dedos ainda curtos pra alcançar bem alguns buraquinhos. Ainda assim, a primeira canção ela conseguiu concluir, aos trancos e barrancos, mas conseguiu. Era Sabão Crá Crá, dos Mamonas Assassinas. Já a segunda – paradoxo! – era Noite Feliz. Eterno hino natalino. Porém, quando resolvi descer pra ver quem era, aconteceu que minha presença acabou deixando-a envergonhada. Era uma mocinha de…

– Quantos anos cê tem, bebê?

– 6.

E saiu de mancinho pra dentro de casa. De fato, Uiraúna é mesmo a terra dos músicos.

J. P. também escreve no seu blog: www.osfilhosdoshippies.blogspot.com

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Contato: [email protected]

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