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Renato Abrantes

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Mãe Maria

15/09/2011 às 00h00

                                                              

“Senhora da piedade, pedimos com devoção, abençoa esta cidade, aumenta a fé do sertão”.

Ao relembrar a melodia simples, mas tão bonita, volto a lembrança para a minha Cajazeiras. Bem vivas ainda estão as procissões de que participei quando criança, com minha tia, Maria, ou com minha mãe, Judith. A voz aveludada do Padre Antônio Luiz do Nascimento, que me batizou, é a marca registrada deste hino (sempre ouvi dizer que é de sua autoria), acompanhado pelos acordes da Banda Santa Cecília. À época, emocionava-me com o “mar de gente” que seguia ao lado da imagem sofrida de Maria.

O tempo passou, entrei no seminário e pude ficar um pouco mais próximo daquela estátua que tanto me provocou os sentimentos. Uma imagem triste, chorosa, “lacrimosa”, de mãos postas e de olhar perdido. Como seminarista, em fila indiana, acompanhava a procissão ao lado da imagem da Virgem, honrado por “protegê-la”, ouvindo o seu hino e meditando sobre as cenas imediatamente posteriores à crucificação: a mãe com seu filho nos braços.

Ordenado sacerdote, na Igreja Mãe da diocese de Cajazeiras e aos pés da Virgem, a espiritualidade mariana fortaleceu-se, sempre sob a ótica da dor de Maria que, porque não, contribuiu para a salvação que Cristo trouxe para o mundo. Vivi meu sacerdócio pensando na Mãe e com ela sofri por seu filho e nosso irmão.

Neste ano, 2011, eis-me aqui, em Quixadá, distante da procissão, da imagem de minha Mãe, mas presente. Uno-me aos que, em devoção filial, participaram ontem (no dia 15 de setembro) do cortejo e aos que vivem sob este ângulo tão bonito e límpido da fé. E penso, também, no presente, no meu, dos meus familiares, dos meus amigos. Penso no presente da minha cidade. E por ela rogo, mesmo de longe.

Pobre Cajazeiras, digna da Piedade da Virgem. Mãe, roga ao Filho, Jesus, para que em Cajazeiras não haja mais homens que ateiem fogo uns nos outros, por ódio. Para que em Cajazeiras não se ouça mais falar que um “pai” vendeu a um estuprador sua filha de três anos de idade por quatro pedras de craque. Para que nunca mais haja crianças dormindo nas ruas, sob o olhar indiferente das lentes fotográficas e dos olhares dos transeuntes. Para que nunca mais, Mãe, aconteçam na minha cidade os absurdos veiculados dos meios de comunicação e que nos deixam envergonhados de ser cajazeirense.

Pobre Cajazeiras, Mãe, volta o seu olhar para nós.
 

Renato Abrantes

Renato Abrantes

Advogado (OAB/CE 27.159) Procurador Institucional da Faculdade Católica Rainha do Sertão (Quixadá/CE)

Contato: [email protected]

Renato Abrantes

Renato Abrantes

Advogado (OAB/CE 27.159) Procurador Institucional da Faculdade Católica Rainha do Sertão (Quixadá/CE)

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