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Renato Abrantes

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Mea culpa

14/04/2011 às 00h00

A humanidade, vez por outra, explicita a sua pequenez. Às vezes, ela é coerente, mas também contraditória. Séria e cômica. Muito sensata e ridícula. Grande e pequena. Nobre e plebéia.

Fatos como o recentemente acontecido mostram o quão somos frágeis. Um rapaz, portador de grave desequilíbrio mental, consegue adquirir, por intermédio de terceiros, armas e munição pelo preço irrisório de R$ 200,00 e, com elas, tirar a vida de 12 crianças, lesionar outras, traumatizar inúmeras famílias e sensibilizar todo um país. Revestindo-se do personagem de “terrorista”, o assassino do Realengo cumpriu sua missão. Sua solitária e esquizofrênica missão.

O que ele fez foi um “tapa na cara” de cada um de nós, que se sequer conseguimos identificar os pontos críticos da convivência em sociedade. E esse “tapa na cara” expõe nossas chagas, dolorosas chagas que precisam ser curadas.

Assim, permitam-me colocar o dedo nas feridas. Porque aquele rapaz de Realengo não estava recebendo tratado psiquiátrico num CAPS? Consta que ele não tomava seus medicamentos há meses. Por quê? E a família dele, que sabia que ele tinha tais problemas, porque não providenciou ajuda para o seu ente? Porque ele estava morando sozinho? Quem o ajudou a comprar as armas (na clandestinidade, evidentemente)? Quem é culpado nessa história toda? Há uma atmosfera religiosa nos seus textos e falas (doentias, é verdade). Por que, então, ninguém dentre as seitas e religiões por ele mencionadas procurou aproximar-se dele e penetrar aquele mundo misterioso, certamente redirecionando para fatos diferentes do que se deu.

Acho que todos nós, eu que escrevo, você que lê, devemos sentir um pouco do peso por aquelas mortes. Pela nossa omissão, pelo nosso silêncio perante as imundícies que são praticas hoje na esfera governamental, mas também pelo nosso egoísmo. Nem reclamamos quando os direitos alheios não são protegidos, nem nos preocupamos com “os outros”.

Pouco nos lixamos, se o SUS gasta anualmente R$ 16,00 por cabeça, ou se as verbas públicas estão sendo desviadas. Não estamos nem aí, se o vizinho está batendo na mulher, ou se o sobrinho está espancando a tia velhinha. “Não é comigo!!!”, “Não tenho nada a ver com isso”, “Cada um cuida da sua vida” são as nossas frágeis, esfarrapadas e covardes desculpas .

Enquanto isso, o mundo vai ficando pior. Graças a mim e à minha covardia.

Quem serão as próximas vítimas do meu/nosso egoísmo?

Renato Abrantes

Renato Abrantes

Advogado (OAB/CE 27.159) Procurador Institucional da Faculdade Católica Rainha do Sertão (Quixadá/CE)

Contato: [email protected]

Renato Abrantes

Renato Abrantes

Advogado (OAB/CE 27.159) Procurador Institucional da Faculdade Católica Rainha do Sertão (Quixadá/CE)

Contato: [email protected]

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