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Maria do Carmo

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O Papel da Linguagem no Desenvolvimento Infantil

01/07/2015 às 16h47

Maria do Carmo de Santana *
Licenciatura Plena em Letras – UFCG Cajazeiras- PB
Pós- Graduação em Psicopedagogia – FIP Patos – PB
 

RESUMO
O processo de construção da linguagem é longo. Começa desde o nascimento até a adolescência. Inicialmente a criança domina mal o código lingüístico, sendo que entre os 2 a 4 anos de idade aproximadamente ocorre progressos significativos.A lingüística verbal implica o uso de palavras tendo início emPor outro lado, acontece também o desenvolvimento da conduta da criança tanto através da maturidade mental resultante da fase cronológica caracterizada desta realidade como do relacionamento externo, isto é, social da criança com os adultos.Este estudo tem a finalidade examinar o desenvolvimento da linguagem nos dois aspectos: aquisição da palavra e aquisição da conduta infantil referendando a importância do papel da linguagem.
Palavras – Chaves: Processos Cognitivos. Comunicação. Influências Adultas.    

ABSTRAT
The construction process of the language is long. It starts from birth to adolescence. Initially the child dominates bad linguistic code, being that between 2th to 4th years of age approximately occurs significant progress. Verbal Linguistics involves the use of words starting in on the other hand, happens also conduct child development both through the mental maturity resulting chronological phase characterized this reality as the external relationship, i.e. the child social with adults. This study aims to examine the language development in two aspects: acquisition of Word and acquisition of childish conduct endorsing the important role of language.

Key Words: Cognitive Processes. Communication.AdultInfluences

INTRODUÇÃO
O desenvolvimento de uma criança é realizado por vários fatores que se expande além do crescimento físico também os processos cognitivos, sendo estes fundamentais para a evolução da criança.Quando se aborda as instâncias mentais leva-se em consideração o desenvolvimento do pensamento e da linguagem. Esta, por sua vez, é atividade essencial do conhecimento do mundo, do ponto de vista da aquisição.
É o espaço em que a criança se constitui como sujeito, embora aconteça todo um processo de experiência ao longo do desenvolvimento infantil. Assim sendo, os objetos do mundo físico, os papéis das palavras e as categorias lingüísticas não existem inicialmente, só mediante o processo de evolução cognitiva através da situação cronológica da criança e a interação com os adultos ocorrerá a aquisição da palavra/significados/conceitos: simples e complexos.Isto porque nesta idade a criança já começa a entender o significado das palavras de uma forma simples comum e passa a interiorizá-la e emitida por meio das palavras.
 Pavlov, apud Lúria&Yudovich(1985), afirmam que a fala é a maneira pela qual o homem busca orientar-se e adaptar-se ao meio, sendo a mesma o elemento fundamental na socialização da criança. Neste ponto a influência dos adultos tem relevante papel uma vez que a criança recebe a orientação dos mesmos na formação de conceitos a fim de agir seguindo regras que os adultos impõem, através da linguagem, haja vista que a memória e a consciência da ação já funcionam através da compreensão do  intercâmbio entre as palavras.
Esta pesquisa tem o objetivo de apresentar duas abordagens sobre o tema em questão. A primeira abordagem tratado significado,   do desenvolvimento e do sentido da palavra; em seguida a linguagem em relação ao desenvolvimento infantil, o surgimento do conceito e da função reguladora da palavra.Na segunda abordagemregistra como a linguagem influencia na conduta infantil, focalizando a influência da palavra na formação dos processos mentais e o  desenvolvimento da inteligência infantil através das teorias de wallon, Vygotsky e Piaget. Vale salientar também que há um rápido comentário sobre a importância do brinquedo através da análise Vygotskiniana, respaldado por outros teóricos compartilhadores do respectivo pensamento. 
1)A LINGUAGEM E A AQUISIÇÃO DA PALAVRA
 A fala expressa o pensamento as emoções, as necessidades da criança e é também o meio de regulação dos processos psíquicos superiores.A aquisição da linguagem verbal implica o uso das palavras tem início entre 12 a 24 meses de idade sendo que aos dezoito meses corresponde à idade média de tal aquisição. O desenvolvimento dessas habilidades pode ser acompanhado ao longo do crescimento do bebê, servindo também de incentivo na formação de uma boa ou má competência significativa.
1.1O Significado da palavra
A palavra é a unidade fundamental da língua. Lúria (1979),ensina que o elemento fundamental da linguagem é a palavra, a qual designa coisas individualiza as características desses objetos e os reúne em determinadas categorias designa também ações e relações entre as coisas, ou seja, “a palavra codifica nossa experiência”(LÚRIA, 1979,p.27).
A estrutura da palavra é constituída de dois componentes linguisticamente falando: a) o significante constitui o lado material representado pela palavra (falada ou escrita), sendo esta considerada a parte constituinte da linguagem que permite ao homem evocar imagens de objetos correspondentes até quando estão ausentes;b)o significado é a parte abstrata do signo lingüístico ou seja, da palavra caracterizada pelo lado abstrato, é o processo mental no qual as capacidades cognitivas funcionam na análise do significado da palavra.Por isto,as palavras só serão pronunciadas quando a criança atinge um certo nível de maturação mental onde acontece a construção do conceito do significado o qual é exteriorizado através do significante (a fala).
    Vygotsky(1993), atribui a própria gênese da palavra a característica de imagem, ensinando que “a palavra primitiva não é um símbolo direto de um conceito, mas sim uma imagem, uma figura, um esboço mental de um conceito, um breve retrato dele. Ao nomear um objeto por meio de tal conceito pictórico, o homem relaciona-o a um grupo que contém certo número de outros objetos”(VYGOTSKY 1993,p.65).
Lúria e Yudovich(1986) dizem que a palavra na sua função básica, indica o objeto correspondente ao mundo externo, abstrai e isola o sinal necessário, generaliza os sinais percebidos e os relaciona com determinadas categorias.
AprofundaEloci (2013 apud LÚRIA ET YUDOVICH, 1986), que os autores citam o exemplo para mostrarem que a palavra relacionada à percepção direta do objeto isola seus traços fundamentais; ao nomear o objeto percebido “copo” e acrescentar o seu papel fundamental “serve para beber” isolam-se suas propriedades essenciais e se inibe aos mesmos essenciais como peso e forma exterior; ao assinalar com a palavra “como” (para que serve) qualquer copo, independente da forma, toda a percepção desse objeto é permanente generalizada.
Com base nas colocações teóricas, entende-se a importância da palavra por sua vez colaboradora do processo de desenvolvimento da linguagem da criança. É através da mesma que algo residido na mente possa ser exteriorizado. Outro fato importante conforme os estudiosos, Vygotsky, Lúria, Yudovich é que a palavra uma vez exteriorizada estabelece um nexo designificação com o objeto, mesmo que não muito completo, como no exemplo do  “copo”. Mas, a grosso modo, pelo que se sabe conforme aborda as teorias dos autores a palavra é uma concretude do pensamento exteriorizada através da fala, isto  porque estamos falando de crianças  que não apresentam deficiências mentais complicadas.
1.2Desenvolvimento do Significado da Palavra
Eloci( 2013 apud LÚRIA, 1979) enfatiza que  a referência objetal da palavra não está terminada na criança aos três primeiros nos de vida, tendo  a palavra alcançado seu desenvolvimento pleno de tal forma que daí em diante haveria apenas um enriquecimento do vocabulário, como pensava anteriormente. Segundo Lúria (1979) o significado da palavra não conclui seu desenvolvimento neste período. Depois que o desenvolvimento da palavra alcança o seu significado objetal exato e estável, desenvolve-se em direção ao seu referencial de função generalizadora, chegando ao seu significado. Esta hierarquia estrutural com categorias subordinadas entre si constitui-se “sistema de conceitos abstratos diferenciando-se dos enlaces situacionais imediatos característicos da palavra nos estágios iniciais do desenvolvimento”(LÚRIA, 1985,p.53),mostrando que o significado muda ao mesmo tempo em que os processos psíquicos se realizam.
Para Vygotsky (1993), a palavra tomada como um estímulo e mediada pelo signo, tem como reação o resgate de conceitos, imagens e sentimentos pelo sujeito relacionados ao contexto da produção de estímulos: […] o sentido de uma palavra é a soma de todos os eventos psicológicos que a palavra desperta em nossa consciência. É um todo complexo, fluido e dinâmico, que têm várias soma de estabilidade desigual. O significado é apenas uma das zonas do sentido, a mais estável e precisa. Uma palavra adquire o seu sentido no contexto em quesurge; em contextos diferentes, altera o seu sentido. O significado permanece estável ao longo de todas as alterações do sentido. O significado dicionarizado de uma palavra nada mais é do que uma pedra no edifício do sentido, não passa de uma potencialidade que se realiza de formas diversas de fala (VYGOTSKY,1993,p.125).
Conformeo que foi enfatizado no início do tópico, mesmo nos três primeiros anos, fase em que a criança dita normal começa a falar a pronunciar as palavras, as teorias sobre o desenvolvimento cognitivo comprovam que o processo de maturidade mental com relação ao significado e ao objeto, ainda não estão totalmente prontas. Eis porque podemos citar exemplo do dia a dia em que a criança ver um objeto, mas diz outro nome que não tem nada a ver com o mesmo. Isto porque a cognição ainda na situação de formação, digamos que a zona de estabilidade do significado não está totalmente preparada, sendo aperfeiçoadade acordo com a idade cronológica da criança.
1.3 O Sentido da Palavra
    O sentido da palavra deriva do “processo de escolha do significado adequado entre todo um sistema de alternativas que surgem”(LÚRIA, 1986,p.22), ou seja, o sistema de relações  destacadas entre muitos significados possíveis; o sentido da palavra, assim, depende da tarefa concreta que o sujeito tem diante de si e da situação concreta em que ele vai empregar a palavra: o significado pode então ser diverso em várias situações,mesmo que exteriorizado permanecerá o mesmo.
    Eloci (2013 apud LÚRIA, 1986, p. 22) reforça que o emprego real da palavra é a escolha do sentido adequado ao que se quer expressar entre ospossíveis significados e só com um sistema de escolha funcionando com precisão, com realce do sentido adequado e a inibição deoutras alternativas se pode desenvolver com êxito a comunicação.
    Quando se fala do sentido da palavra está envolvido não só o significado concreto do objeto, mas também aspectos do campo semântico conforme a lingüística defende. O que se quer dizer é o fato de muitas vezes a criança empregar uma palavra que pode ter uma grande carga afetiva sendo importante na comunicação desta criança. Exemplificando: quando a mãedirigi-se ao seu filho com a expressão “minha flor” logicamente o sentido desta expressão tem uma carga de significação afetiva muito forte de carinho e exerce grande influência na compreensão da criança, ao mesmo tempo ela verá que na verdade, não é uma “flor” e sim uma “pessoa”.
1.4 O Surgimento do Conceito
    Vygotsky (1993) a aquisição da linguagem pela criança modifica suas funções mentais superiores: ela dá uma forma definida ao pensamento possibilita o aparecimento da imaginação, o uso da memória e o planejamento da ação. Neste sentido a linguagem sistematiza a experiência direta dos sujeitos e por isso adquire uma funçãocentral no desenvolvimento  cognitivo reorganizando os processos que nele estão em andamento.
    Todas as funções psíquicas superiores são processos mediados, e os signos constituem o meio básico para dominá-los e dirigi-los. O signo mediador é incorporado à sua estrutura como parte indispensável, na verdade a parte central do processo como um todo.Na formação dos conceitos este signo é a palavra, que em princípio tem papel de meio na formação de conceito e posteriormente, torna-se o seu símbolo (VYGOTSKY,1993, p.70).
    Eloci (2013 apud VYGOTSKY, 1993, p.70) afirma que as concepções de Vygotsky sobre o processo de formação de conceitos remetem às relações entre pensamento e linguagem, à questão no processo de construção de significados pelos os indivíduos ao processo de internalização e ao papel da escola na transmissão do conhecimento, que é de natureza diferente daqueles aprendidos na vida cotidiana, propõe uma visão de formação das funções psíquicas superiores como a internalização mediada pela cultura.
    Lúria (1976) através da pesquisa realizada pelos estudiosos sobre a formação de conceitos. Enfatiza que os conceitos espontâneos ou do cotidiano chamados também de senso comum, são aqueles que não passaram pelo crivo da ciência. Os conceitos científicos são formais, organizados, sistematizados, testados pelos meios científicos que em geral são transmitidos pela escola e que aos poucos vão sendo incorporados ao senso comum.
    Conforme Lúria (1976) os conceitos adquiridos no processo de aprendizagem da criança são formulados verbalmente mediados pelo professor e só mais tarde ela tem condições de juntar a eles um conteúdo válido. A criança adquire consciência dos seus conceitos espontâneos relativamente tarde; a capacidade e definí-los por meios de palavras, de operar com eles à vontade aparece muito tempo depois de adquirir os conceitos. Ela possui o conceito, isto é, conhece o objeto ao qual o conceito se refere, mas não há consciência do seu próprio ato de pensamento.Segundo Eloci (2013 apud LÚRIA, 1976) a autora enfatiza que na formação dos conceitos comuns (espontâneos ou do cotidiano -se formam a partir da atividade prática e da experiência figurada direta) predominam as relações circunstanciais co a participação das operações lógico-verbais as relações abstratas.
    Segundo Oliveira (1992), Vygotsky propôs o pensamento genético do desenvolvimento do pensamento conceitual em três estágios: Primeiro estágio a criança forma conjunto sincrético agrupando objeto com base em nexos vagos, subjetivos e baseados em fatores perceptuais como a proximidade espacial, por exemplo.
Esses nexos são instáveis e não relacionados aos atributos relevantes dos objetos; o segundo estágio é chamado por Vygotsky de pensamento por completo: “é m um complexo, as ligações entre os seus comportamentos são concretas e factuais e não abstrata e lógica”(OLIVEIRA apud LATAILLEY,1992, p.33). No terceiro estágio, onde ocorre a forma cão dos conceitos, propriamente ditos a criança agrupa objetos com base num único atributo, sendo capaz de abstrair características isoladas da totalidade da expressão concreta.
      Nas experiências realizadas por Vygotsky eLúria (1976) observam que em diferentes etapas o significado da palavra encobre formas de generalização e diferentes processos psicológicos e assim evoluem.Continua os autores  enfatizam também a importância diagnóstica da formação dos conceitos estabelecendo  “o nível que a criança pode atingir, estando numa fase inferior do desenvolvimento intelectual, as peculiaridades do processo de formação dos conceitos que caracterizam determinados estados patológicos da atividade cerebral”(LÚRIA,1976,p.47).
    Conforme Vygotsky, quando a criança adquire a linguagem , a capacidade de falar, há um desenvolvimento das capacidades mentais no sentido do uso da memória.Neste aspecto, há um re-ordenamento do pensamento e uma relação direcionada entre a palavra e o conceito que a mesma emite. Há uma relação intrínseca entre o pensamento, neste, se encontra o conceito de algo e linguagem-palavra, o meio pelo qual um conceito é exteriorizado e socializado. De acordo com o pensamento dos estudiosos enfocados os quais estabelecem significados em duas linhas: os adquiridos culturalmente e os outros de ordem científica.
    Neste sentido já estamos falando de uma situação mais complexa.Aos conceitos do cotidiano – digamos que a criança aprende no contato com a comunicação entre a família Lúria atribuiu de censo comum. Quando se trata de forma sistematizada através dos meios científicos transmitidos pela escola são denominados por Lúria, de conceitos científicos. Popularmente exemplificamos que a criança aprende o conceito de copo, ela sabe no geral qual é a utilidade do copo (senso comum), na escola ela vai conhecer a significação morfológica e as relações de significados campo semântico da palavra copo (conceito científico) assim como a física a química estabelecem seus conceitos com relação ao objeto “copo”.
1.5 Desenvolvimento da Criança X o Desenvolvimento da Palavra
    De acordo com Vygotsky, todas as atividades cognitivas básicas do indivíduo ocorrem de acordo com sua história social acabam se constituindo no produto do desenvolvimento histórico-social de sua comunidade (1985). Neste processo de desenvolvimento cognitivo, a linguagem tem papel crucial na determinação de como o sujeito vai aprender a pensar, uma vez que formas avançadas de pensamento são transmitidasà criança através da palavra.
    As etapas de aquisição da linguagem conforme (PEDROSO,et al 2006), são elencadas da seguinte maneira: a) produção de sons (choro, gritos)- 0 a 3 meses de idade; b) discriminações dos sons da fala –compreensão das palavras, expressões faciais -4 a 6 meses; c) balbúcio, (bá-bábá) de forma interativa, produção gestual, apontar um objeto 7 a 8 meses;d) primeiras palavras reais e jargão ( balbucio com fala), contato visual, expressões faciais e gestos 10 a12 meses; f) produção de dez ou mais cinqüenta palavras e frases de três palavras – chama atenção para receber uma resposta verbal do adulto 12 a 18 meses; g)  produz  cento e cinqüenta a duzentas palavras e frases de três palavras – nomeia objetos 2 anos; h) sentenças gramaticais – artigos, preposição plural, formula questão – 3 anos; i) clara sintaxe – completa integridade é esperada aos quatro meses a seis meses, meninas em média um antes.
    Segundo Lúria (1979), no início do desenvolvimento da criança a consciência tem caráter afetivo esse caráter reflete o mundo afetivamente; a seguir a consciência passa ao concreto imediato, assim como as palavras que se refletem em seu mundo; no estágio seguinte a consciência passa a ser a lógica verbal e abstrata mesmo que os estágios anteriores permaneçam encobertos.
    Corroborando com as palavras Eloci (2013 apud LÚRIA, 1979), corroborando com a autora: a significação da palavra muda de acordo com o desenvolvimento da criança. Inicialmente o papel fundamental da palavra é desempenhado pelo afeto, pelo agradável ou desagradável; mais tarde pela imagem imediata, a memória reproduzindo uma situação determinada; para o adulto são os enlaces lógicos presentes nas palavras que configuram o papel principal.
    Continua Eloci (2013 apud LÚRIA 1979) a partir do momento em quecriança descobre que tudo tem um nome, cada novo objeto que surge representa um problema que ela resolve atribuí-lo um nome.Quando lhe falta apalavra para nomear este novo objeto, a criança recorre ao adulto. Esses significados básicos de palavras assim adquiridos funcionarão como embriões para a formulação de novos e mais complexos conceitos.
    Neste ponto entende-se que o desenvolvimento cognitivo depende de duas situações fundamentais: uma está ligada a idadecronológica que segundo  o relato de (PEDROSO, et al, 2006)  evidencia-se o processo de maturação, mas também(VYGOTSKY, 1989)  evidencia que o desenvolvimento da palavra pode ser influenciada pela situação social e cultura da criança.
    À proporção que há o desenvolvimento da criança há o progresso de compreensão do significado das palavras, acontecendo um aprofundamento de sentido das mesmas. Quando antes uma palavra só tinha um significado afetivo com a evolução da consciência a criança passa a entender significados mais complexos da palavra.
1.6Função Reguladora da Linguagem
    Levando – se em consideração os autores Vygotsky e Luria em relação à subordinação da criança ao adulto; quando uma criança adquire uma palavra que designa um objeto em particular e serve de uma ação concreta ela se subordina a esta palavra assim como a instrução verbal do adulto. A palavra regula a conduta da criança, organizando sua atividade num nível mais alto e qualitativamente novo. “Esta subordinação das reações da criança á palavra de um adulto é o começo de uma longa cadeia de informação de aspectos complexos da sua atividade consciente e voluntária” (LÚRIA, 1986, p.13).
    Lúria (1979) enfatiza que “além da função cognoscitiva da palavra e sua função como instrumento de comunicação a sua função pragmática ou reguladora; palavra  não é somente um instrumento de reflexo da realidade, é o meio de regulação da conduta”(LÚRIA,1979,p.95-96). Vygotsky (1993) ensina que é indispensável examinar como os processos voluntários se formam no curso do desenvolvimento da atividade concreta da criança e na sua comunicação com o adulto.
    Segundo (LÚRIA,1979 p.96), a primeira etapa da função reguladora da linguagem da criança – função base do comportamento voluntário é a capacidade de subordinação à instrução verbal do adulto e a partir dessa “subordinação primitiva” formam-se o ato voluntário. Conforme Eloci (2013 apud LÚRIA 1979), os experimentos  mostraram que a subordinação da ação da criança à instrução verbal do adulto não é algo simples e desenvolve-se progressivamente. Observa-se que a linguagem tem uma grande importância na organização da conduta e desenvolvimento infantil: a) sua influência é feita de fora para dentro e depois passa a se organizar de dentro para fora; b) no início o controle da conduta é feito pelos pais através da linguagem; c) mais tarde, pela própria criança; d) a conduta da criança inicialmente controlada pelos adultos sob forma de incitações e ordens verbais; e) progressivamente passa a ser contida por ela própria através da linguagem interiorizada.
    Agora se reforça que o desenvolvimento da criança e da palavra tem raízes no fator social, digamos, no ambiente no qual a criança interage com os adultos. O adulto exerce função importantíssima no processo de aquisição da fala das crianças mesmo esta não estando com as capacidades cognitivas prontas. Lúria enfatiza a linguagem como uma forma de nortear o comportamento da criança. Neste aspecto Vygotsky focaliza os chamados processos voluntários, isto significa que a palavra do adulto exercerá influência no comportamento da criança se esta estiver com os processos formados através da comunicação. Isto acontece quando a criança alcança a maturidade de compreender a linguagem do adulto.
2  A LINGUAGEM COMO REGULADORA DA CONDUTA INFANTIL
    Durante muito tempo a psicologia não considerava importante o papel da linguagem na formação dos processos mentais. A explicação do aparecimento de formas complexas de atividade mental (atenção voluntária, memorização ativa ou conduta ativa) não consiste preocupação da psicologia em estudar a gênese dos mesmos. 
    Na visão dos Behavioristas, todas as formas de atividades da criançapodiam ser reduzidas a uma combinação de hábitos, uma vez que considerava a linguagem como um aspecto dos atos motores, sem nenhum lugar especial na conduta da criança. O desenvolvimento da atividade nervosa superior da criança acontecia gradualmente como uma simples manifestação de uma atividade espiritual em desenvolvimento constante que aparece nas primeiras etapas do desenvolvimento da criança, aumentando à medida que aconteça a maturação (LÚRIA, A.R.& YUDOVCH, 1987).

2.1 A Influência da Palavra na Formação do Processo Mental
A linguagem intervém no processo de desenvolvimento da criança desde os primeiros meses de vida através da comunicação, processo em que aconteça atransmissão do saber e da formação de conceitos constituindo oprocesso central do desenvolvimento intelectual infantil.Os dois princípios da psicologia soviética sobre os estudos dos processos mentais infantis apresentam o seguinte:
2.1.1 Comunicação entre a criança e o adulto. 
A produção de intercomunicação da criançacom os adultos significa a aquisição de um sistema lingüístico. Neste aspecto, supõe-se que há a reorganização de todos os processos mentais da criança. É o momento em que a palavra exerce fundamental importância, dando forma à atividade mental aperfeiçoando o reflexo da realidade e criando novas formas de atenção, de memória e de ação.
2.1.2 A palavra. 
Além de indicar o mundo, externo, abstrai, generaliza os sinais percebidos os relaciona com determinadas categorias, além de transmitir as experiências de gerações tal como foi incorporada à linguagem introduzindo formas de análises e síntese da percepção infantil.
2.1.3 A influência da palavra na consciência infantil. 
A palavra funciona na consciência da criança como reguladora de conduta, através das reações da criança à palavra de um adulto. A fala constitui o meio de comunicação básico de análise da realidade e um regulador mais elevado de conduta.Pavlov afirma que:
Apalavra introduz um novo princípio de atividade nervosa – a abstração, a análise e síntese destes novos sinais. Nisto se apóia a capacidade infinita do homem de orientar-se no meio e à sua mais alta forma da adaptação: a c ciência. (PAVLOV, apud, LÚRIA & YUDOVICH, 1987: 12).
    A percepção, e atenção, a memória e imaginação, a consciência e a ação resultam do desenvolvimento da atividade infantil nos processos de intercâmbio como atos reflexivos e complexos cujos conteúdos se incluem a linguagem que tem como elemento fundamental a palavra. A linguagem, segundo a terminologia de Pavlov “se efetua com a participação dos sistemas de sinais: o primeiro relativo aos estímulos percebidos diretamente e o segundo com sistema de elaboração verbal” (PAVLOV,apud LÚRIA & YUDOVICH, 1987: 14).
    Há várias décadas, os psicólogos estudam o desenvolvimento mental relacionando-o como desenvolvimento da linguagem.L. S. VYGOTSKY (1934:14), afirma que a linguagem representa um papel decisivo na formação dos processos mentais.Quanto ao desenvolvimento da compreensão nas crianças, Vygotsky (1934), conclui que novas formas características de comunicação começam quando se dá a generalização de diversos objetos como um todo, a partir de impressões diretas.
    Quanto aos processos de formação ativa, Vygotsky e Leontiev (1930) relatam que estes processos começam s se construir graças à participação da palavra através dos processos de desenvolvimento da memória. Segundo eles, o desenvolvimento dos processos mentais é conseqüênciada organização da linguagem e o desenvolvimento mental humano tem origem na comunicação verbal entre a criança e o adulto constituindo elemento fundamental na organização da conduta pessoal da criança.
2.2 O Desenvolvimento da Inteligência Infantil
    No final dos anos 30 e começo dos 40, G.L. Rosegart (1947) investigou o papal da palavra na formação da percepção e na memorização durante os primeiros anos de vida.Estas investigaçõesdemonstraram que a palavra é um fato importante e decisivo e quea percepção e a memória da criança adquirem novas características sob sua influência.Investigações posteriores esboçaram o papel essencial que representa a linguagem nas formas complexas da conduta infantil.
 Os processos verbais capacitam à criança, através da generalização, a formular objetivos e lhes proporcionar os meios necessários para sua consecução, possibilitando a criança de um plano de brinquedo “imaginativo”, a cujo serviço põe a aquisição de complexas formas de conduta, inacessíveis em abordagem direta (LÚRIA & YUDOVICH,1987:16)
    O brinquedo “imaginativo”, além de uma situação imaginária, é também uma atividade regida por regras. ”São justamente as regras da brincadeira que fazem com que a criança se comporte de forma mais avançada do que aquela habitual para sua idade”(OLIVEIRA, 1993: 67).
2.2.1 Pensamento de Wallon
    Henri Wallon (1879-1972), realizou um estudo integrado do desenvolvimento infantil nos aspectos: afetivo, motricidade e inteligência. Segundo ele, o desenvolvimento da inteligência depende das experiências que o meio oferece e do grau de apropriação que acriança utiliza, como também os aspectos físico do espaça; as pessoas próximas, a linguagem e os conhecimentos presentes na cultura. Outro aspecto é a idade cronológica, a partir do três anos em diante (estágio sensório-motor) predominam as relações cognitivas com o meio, a criança desenvolve a inteligência prática e a capacidade de simbolizar, neste estágio há uma confirmação da conduta, construção da consciência de si, predomínio das relações afetivas através das interações com outras pessoas (WALLON, apud CRAIDY &KAERCHER,2001:28).
2.2Pensamento de Vygotsky
    Para Vygotsk (1896-1934), o funcionamento psicológico estrutura-se a partir das relações sociais estabelecidas entre o indivíduo e o mundo exterior, neste aspecto, prevalece a cultura fornecendo os sistemas simbólicos de representação da realidade. A liguagem constitui outro elemento importante uma vez que, esta possibilita o intercâmbio entre os indivíduos que por sua vez associa cultura e linguagem. Vygotsk enfatiza a importância do brinquedo, do faz-de-conta como elementos fundamentais no desenvolvimento da criança em que a mesma reconstrói individualmente aquilo que é observado nos outros, transformando o aprendizado em experiências que futuramente irão interferir na conduta da criança (VYGOTSK, apud CRAIDY &KAERCHER,2001: 29-30).
2.2.3 Pensamento de Piaget
    Conforme a teoria de Gean Piaget (1896-1980), a inteligência aprimora-se na medida em que a criança estabelece contato com o mundo, mas também de acordo com a idade cronológica. Os estágios de desenvolvimento caracterizados segundo Piagetse realiza da seguinte forma: a)estágio sensório-motor (de zero a dois anos) – nesta período as atividades externas desenvolve dimensão interna importante, as experiências vão sendo representadas mentalmente, com a aquisição da linguagem, inicia-se uma socialização afetiva da inteligência; b) estágio pré-operacional( dois anos a seis anos) – período em que a criança constrói a capacidade de efetuar operações ( lógica matemática, se para objetos por tamanhos, cor e forma), a inteligência é capaz de empregar símbolos e signos. Os estágios seguintes – operacional concreto (dos sete aos onze anos) e operacional abstrato (dos doze anos em diante) – acriança adquire a capacidade de pensar abstratamente, criando teorias econcepções a respeito do mundo que a cerca (PIAGET, apud CRAIDY & KAECHER, 2001: 30-31).
    Diante das colocações acerca do desenvolvimento da inteligência relacionada ao meio externo da criança, surge a importância dos jogos imaginativos e dos brinquedos no desenvolvimento cognitivo, afetivo e social da criança.
    Quando a criança assimila o mundo à sua maneira há descompromisso com a realidade, os objetos passam a ter funções que são atribuídas por elas. O jogo simbólico apresenta-se inicialmente solitário evoluindo para o estágio de jogo sócio – dramático (representações de papéis, substituição de um objeto poroutro, atribuição de novos significados a vários objetos, sugestão de temas e  adoção de papéis). De acordo com a ocasião pode transformar-se em coletivo, o jogo simbólico situa-se entre dois a quatro anos de idade declinando de acordo com o avanço da idade (PIAGET,apud BOMTEMPO, Edda, 1999: 59-60).
2.3 O brinquedo na Análise Vygotskiniana
    “O brincar” é uma situação imaginária criada pela criança onde a brincadeira proporciona á mesma a realização ilusoriamente de desejos incapazes de serem real com mais de três anos de idade, nesteperíodo ela começa a perceber o objeto da maneira como ela desejaria que fosse, confere um novo significado ao objeto, onde o mais importante é o gesto atribuído ao utilizar o objeto. O brinquedo tem grande importância no desenvolvimento, pois cria novas relações entre situações no pensamento e situações reais (VYGOTSK, apud BOMTEMPO, 1999: 61-62).
    Elkonin (1971), citando Vygotsky explicita a evolução do jogo de papéis partindo das atividades da criança com o objeto e desenvolvendo somente na relação da atividade da criança com o adulto. A interpretação de ações adultas realizadas através da dramatização pela criança consiste numa reprodução das relações adultas entre si e com a criança, onde a mesma, através da simbologia, aprende a se relacionar com os outros e adquire experiências e aprendizagem auxiliada pela fala, continuando a reflexão Vygotsky assegura que:
Linguagem e jogo e jogo simbólico as expressões de um sistema mediado, no qual eventos internos, imagens ou palavras, servem para orientar e dirigir o comportamento (VYGOTSKY, apud BOMTEMPO, 1999:64)
    Segundo Bettelheim (1988), as fantasias imaginativas e as brincadeiras ajudam à criança a compensar as pressões na realidade cotidiana. Outro aspecto importante é que através das brincadeiras a criança coloca-se num papel de poder, de construir autoconfiança, aprende a superar obstáculos da vida real, adquire auto-estima e cultiva a sua própria vida interior, desenvolvendo relações e confiança  consigo mesmo e com os outros, preparando-se para lidar com as dificuldades que surgirá à sua frente na vida adulta e ao mesmo tempo demonstram através das brincadeiras a realidade vivenciada no seu dia a dia.
    Assim, entendemos que para cada realidade da vida infantil manifestam-se os tipos de brincadeiras que as crianças utilizam entendidas como resultados de uma contextualização de onde as mesmas se inserem. É importante também observar que com as brincadeiras e o manuseio com os brinquedos, a criança adquire a oportunidade de desenvolver o canal de comunicação entre ela e os adultos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS 
    
 O pensamento humano se formula e se expressa através da linguagem, sendo esta caracterizadora da comunicação das pessoas.Como foi visto nos aportes teóricos há uma estreita relação entre o pensamento e a linguagem uma interdependência entre ambas, uma vez que sem o auxilio da linguagem muitos pensamentos e conceitos seriam impossíveis de se realizarem, visto que no âmbito interno da mente funcionam as capacidades de organizar significações que serão exteriorizadas através da linguagem ocorrendo assim uma simbolização do pensamento, uma concretização das idéias.
A linguagem é também um fator primordial no comportamento infantil no que diz respeito às relações sociais influenciando a criança a enfrentar situações difíceis na vida adulta. Assim entendemos que para cada realidade da vida infantil manifestam-se os tipos de brincadeiras que as crianças utilizam entendidas como resultados de uma contextualização de onde as mesmas se inserem. É importante também observar que com as brincadeiras e o manuseio com os brinquedos a criança adquire a oportunidade de desenvolver o canal de comunicação entre ela e os adultos.
Entra em cena a participação dos adultos no processo da formação da conduta infantil através da linguagem, a qual exerce fortes influências no comportamento das crianças. É preciso se fazer uma ressalva no tocante ao desenvolvimento infantil quando se trata de pessoas ditas normais, esta por sua vez em pleno gozo da saúde física e mental. A aquisição da linguagem e o desenvolvimento das capacidades comunicativas são indicadores do processo evolutivo que pode sinalizar normalidade ou anomalia podendo ser observada na criança na fase do desenvolvimento psíquico ou mental.

REFERÊNCIAS 
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WWW.profala.com/arteducesp111.htm. Acessado em 05/09/2013
Eloci Glória de Mello – Pedagoga. Aluna do curso de Pós-Graduação da Pontifícia Universidade Católica do Rio grande do Sul.

Maria do Carmo

Maria do Carmo

Professora da Rede Estadual de Ensino em Cajazeiras. Licenciatura em Letras pela UFCG CAMPUS Cajazeiras e pós-graduação em psicopedagogia pela FIP.

Contato: [email protected]

Maria do Carmo

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