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Maria do Carmo

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Os ares juninos no Nordeste

23/06/2023 às 19h18

Imagem ilustrativa

Por Maria do Carmo – Com os festejos no mês de junho, o Nordeste brasileiro ganha o sinônimo  de terra da dança, da diversão e sobretudo da animação. Na vivência do nordestino é prazeroso sentar-se ao redor da fogueira, contemplar o tapete de brasas avermelhadas, sentir o cheiro da fumaça espalhada pelos cantos do terreiro, isso por si só já uma grande festa.  Mesmo sendo uma região castigada pela escassez das chuvas, no período junino a felicidade é espalhada por todos os recantos da região, são manifestações folclóricas que identificam as raízes dos costumes e hábitos de um povo esperançoso e forte.

Em consonância com os ventos, resquício das chuvas que se foram no período do “inverno” no sertão nordestino, o frio é esquentado com as festas juninas cujo calor das fogueiras, o suor dos dançarinos do forró aquece as noites festeiras nordestinas onde perduram os dobrados das sanfonas, o toque do zabumba, o tinido do triângulo do forró pé de serra. Dos vestuários com as estamparias florais e cores variadas, as tranças nos cabelos das mulheres e crianças, chapéus de palha com fitas de xadrez para os homens, o linguajar despreocupado enfatizando a gíria caipira, as danças e as tradicionais quadrilhas com o bom tom humorístico no famoso casamento matuto, prevalece a atmosfera animada relembrando um pouco da simplicidade e espontaneidade do nordestino remetendo as tradições rurais do passado.

 O Nordeste, é o berço da cultura forrozeira através do instrumentista, cantor, compositor, e criador de um ritmo musical que deve perpetuar mesmo com as influências no campo da música moderna, Luís Gonzaga do Nascimento, que bebia a água do pote da casa de seu pai Januário José do Nascimento e de sua mãe Ana Batista de Jesus. São inúmeras composições da autoria de “Luiz” as quais há a exaltação do íntimo do povo nordestino: suas paixões, rotinas, tristezas, sofrimentos, mas também sua coragem, perseverança e alegrias ao enfrentar as dificuldades em decorrência do clima seco da região. Com ele, outros gênios da música foram aparecendo cujas canções enaltecem o amor, o campo, os pássaros e a água. O quanto é emocionante ouvir as vozes de tantos nordestinos cujas canções num eco de grandeza inebriam a alma de quem as escuta na difusão de tamanho potencial cultural.

É no mês de junho que o Nordeste transmite para todo o mundo o brilho e a riqueza desta região, tantos versos da literatura popular e acadêmica declamadas e cantados nas composições musicais e também acompanhadas ao som da viola. São textos nos quais descrevem os raios do luar na confusão com o clarão das fogueiras nos campos, as estrelas ficam mais ofuscantes segundo os poetas, a fim de coroar o clima harmonioso de felicidade na celebração da festa do São João, São Pedro de Santo Antonio, o santo casamenteiro, com as simpatias reforçando a crendice popular próprio do povo nordestino.

É interessante conhecer o Nordeste festeiro como também o seu espaço geográfico quando em um olhar rápido do desconhecido, talvez nem dar para acreditar que nesta região mora essa gente feliz. A região é seca com um bioma cuja vegetação característica em decorrência do clima apresenta cactos e árvores de porte mais alto nos espaços serranos sendo mais verde próximo ao litoral. Os espinhos a as flores dos mandacarus, a verdura dos juazeiros em pleno verão, as folhas do mufumbo e outras plantas enfeitam a terra árida e seca do solo. Entre as pedras e arei branca e seca nascem os cactos: mandacaru, croa de frade e outros, vizinhando há uma exuberante parede serrana com altas e verde plantas merecendo destaque para a palmeira, o babaçu, as plantas frutíferas e ornamentais as quais se abrigam ao pé das frondosas árvores altas.

Apesar do clima seco, existem áreas de terras propícias para o cultivo da lavoura cujo solo é de fertilidade abundante seja nas áreas altas ou baixas, mas todas de imensa riqueza, obra da natureza, pronta para produzir frutos e ricas colheitas, só dependendo da chuva para a germinação da semente. Assim também, é a imensa coragem e perseverança do homem do campo no trabalho do roçado, pois quantas vezes no barulho da enxada nas pedras da terra seca e sobre a poeira levantada ao ar são enterrados os grãos do feijão, do milho, do arroz para alimento da família. Todos os dias, o bom agricultor nordestino limpa o mato do pé da lavoura murcha por falta de água, nesta sequência, o céu se encobre de nuvens, o relâmpago começa a clarear e o bradar do trovão avisa que a chuva está chegando, o homem retira o chapéu da cabeça e agradece as graças de Deus.

Um outro cenário surge com a verdura das lavouras, as águas dos rios e riachos lavando as baixas e em pouco tempo a fartura aparece nas residências rurais. E o lavrador fica feliz porque a sua   experiência foi boa, uma vez que a sabedoria popular aponta somente duas variantes de clima: a estação chuvosa e a estação de clima seco e sol escaldante no sertão nordestino. É raro o período chuvoso começar no mês de janeiro,  no linguajar simples do nordestino, chega a “pesar o inverno”, nos meses de março e abril é “o coração do inverno” e no mês de maio o “inverno começa a afinar” assim dizem os mais experientes. Mês de junho, tempo da colheita e do balancete da produção agrícola que na maioria das vezes nem correspondem às expectativas, no entanto o produtor rural nordestino é conformado, satisfeito e mantem a perseverança para o próximo inverno.

A contemplação de um belo quadro real do oásis Nordestino acontece entre os meses de março e agosto, são matas e arbustos verdes, pastagens e água em abundância para os animais e as aves. A luz do dia ao amanhecer, somado ao charme do revoar das borboletas completando o colorido das flores as quais enfeitam e contornam os roçados. É o tempo dos famosos bandos de garças, em um tom de serenata nas madrugadas voam na busca de alimentos no outro ponto da região e ao cair da tarde, é hora do regresso, nesta longa viagem a brancura das suas longas asas se tornam prateadas com a claridade do sol que ainda brilha no horizonte.

A complexidade da região traduz a vida um tanto pedregosa e ora sofrida, dos seus habitantes, entretanto há o lado gostoso de sentir que o calor da região aquece a vontade de vencer e de cultivar sempre o entusiasmo para as realizações de é não se deixar abater-se diante dos obstáculos. A demonstração da garra deste povo é bem retratada nos sentimentos, na conservação das suas tradições e na produção artística dos filhos e filhas deste pedaço do Brasil.

Professora Maria do Carmo de Santana

Cajazeiras, 22 de Junho de 2023


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Maria do Carmo

Maria do Carmo

Professora da Rede Estadual de Ensino em Cajazeiras. Licenciatura em Letras pela UFCG CAMPUS Cajazeiras e pós-graduação em psicopedagogia pela FIP.

Contato: [email protected]

Maria do Carmo

Maria do Carmo

Professora da Rede Estadual de Ensino em Cajazeiras. Licenciatura em Letras pela UFCG CAMPUS Cajazeiras e pós-graduação em psicopedagogia pela FIP.

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