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Lidiane Abreu

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Os erros de Maranhão

10/10/2010 às 12h03

Pode parecer bastante radical, mas o maior erro do governador José Maranhão foi tentar a reeleição. Isso mesmo, Maranhão não deveria ter entrado nessa disputa, mas sim colocado outro candidato, mais jovem e moderno, que pudesse se contrapor à imagem de Ricardo Coutinho.

O fato é que a “mudança” é um apelo retórico muito forte na nossa democracia eleitoral. Ainda mais quando essa mudança é sustentada por um candidato que nunca foi governador e teve uma administração muito bem avaliada em João Pessoa. E esse apelo retórico se torna mais forte ainda quando o adversário é um senhor de quase 80 anos e que já administrou o Estado por uma década.

O “novo” e a “mudança” foram os responsáveis pelas derrotas dos caciques políticos Brasil a fora. Só para citar alguns: César Maia (RJ), Marco Maciel (PE), Tasso Jereissati (CE), Mão Santa (PI), Collor (AL), entre outros. Mas o que tem haver Maranhão com todos esses casos? Ora, tudo! Maranhão é considerado um dos políticos que por mais tempo governou um Estado, talvez só perca pra Roriz no Distrito Federal.

Maranhão, por ter uma rejeição cristalizada, tenta, mas não consegui atingir 50% mais 1 dos votos válidos. Foi assim contra Cássio em 2006 e vimos isso se repetir agora no primeiro turno. Acontece que Maranhão entrou numa eleição sem ter mais pra onde crescer, pois ele já é conhecido em quase toda a Paraíba.
Ricardo Coutinho, por sua vez, teve a tarefa de percorrer a Paraíba e mostrar sua cara nos mais longínquos municípios que ainda não conheciam bem o Mago e suas propostas. E como Ricardo tem uma imagem política bastante conservada, tornou-se um produto bastante vendável e de fácil aceitação. Se não fossem os erros de estratégia discursiva e propaganda em seu programa eleitoral na TV – que veio melhorar nos últimos 10 dias – Ricardo talvez tivesse sido eleito governador já no primeiro turno.

Outro erro estratégico de Maranhão foi confiar demais nas adesões dos “cassistas” que não encontraram muito espaço no palanque da oposição. O fato de você conquistar três ou quatro líderes políticos e por tabela mais duas dezenas de prefeituras, não significa que o eleitorado dessas regiões está vindo a reboque das negociatas políticas. O povo, por mais humilde que seja, tem suas preferências eleitorais e não muda de voto tão facilmente.

O terceiro erro de Maranhão foi iniciar a disputa polarizando a eleição com Cássio, que não era mais seu concorrente direto. Esquecer que Cássio existia era a melhor estratégia no primeiro turno, pois assim ficaria mais fácil para Maranhão conquistar os eleitores simpáticos ao tucano. Mas ao bater em Cássio – que já vinha numa via-crúcis desde 2007 – Maranhão só fazia afastar ainda mais o eleitor que poderia lhe dar a vitória.

O quarto maior erro de Maranhão foi superestimar a transferência de votos do presidente Lula. O povo sabe, Lula é um fenômeno. Maranhão é apenas mais um político querendo se aproveitar dessa boa imagem do presidente. A verdade é que Lula não elege ninguém na Paraíba. Foi assim em 2002 e 2006, quando o barbudo teve mais de 70% dos votos e Cássio conseguiu vencer a disputa estadual.

E essa eleição ainda tem um diferencial que em 2002 e 2006 não existia, Ricardo também é amigo de Lula. E fundador do PT. Votou em Lula desde 1989. Já Maranhão, veio votar no PT apenas em 2002, quando Lula já tinha uma eleição totalmente segura. Isso ajuda ainda mais a enfraquecer essa estratégia de associação de imagem, porque Coutinho é mais “lulista” que o Zé.

Antes da eleição eu já havia alertado sobre a fragilidade de transferência dos votos de Lula na Paraíba, inclusive nesse blog. O perigo dessa estratégia (ou falta de estratégia) é que Maranhão acaba tendo sua imagem enfraquecida, pois perde seu brilho, perde sua luz própria em detrimento de outra imagem política. É como se alguém entrasse numa briga e chamasse uma terceira pessoa por temer levar uma surra.

Porém, não podemos dizer que Maranhão e sua equipe ficaram de “salto alto” na reta final da campanha. Muito pelo contrário, pudemos perceber que quanto mais as pesquisas (mentirosas) mostravam uma vantagem pró PMDB, mais Maranhão caia em campo e fazia campanha, talvez por ele mesmo não acreditar naqueles números surreais do Ibope e Datafolha.
 

Lidiane Abreu

Lidiane Abreu

Estudante do curso de Licenciatura em História (UFCG) e redatora do portal Diário do Sertão.

Contato: [email protected]

Lidiane Abreu

Lidiane Abreu

Estudante do curso de Licenciatura em História (UFCG) e redatora do portal Diário do Sertão.

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