Pornô de 1ª no Vale dos Dinossauros
Confesso: eu assisti. Assisti ao filme mais assistido dos últimos anos na Paraíba. Que Batman que nada! Indiana Jones qual o que! O filme que vem quebrando recordes e recordes de bilheteria nas bancas de venda de DVD’s piratas da cidade de Sousa é o já aclamado curta "Tiranossauro Sex: safadeza no Vale dos Dinossauros".
Tiranossauro Sex é uma produção feita com custo mínimo: uma câmera digital de 7 megapixels, atores sem maquiagem, cenário natural, iluminação a cargo da luz do sol do sertão de cinco da tarde, e não há perda de tempo com diálogos – quando muito, ouve-se apenas murmúrios do tipo: “pera, a câmera tá torta”. Até na camisinha economizaram.
Em Tiranossauro Sex os atores são também diretores – outro gasto a menos: vez e outra o negão aponta as maneiras mais seguras de apoiar-se nas árvores para não cair nas pegadas de um triceratops logo ao lado. A loirinha, por sua vez, dá dicas de posicionamento de câmera, captação de luz e detalhes como a intensidade das tapas e solavancos na sua cabeça nas tomadas sadomasoquistas. Tudo bem ensaiadinho. Pena que ela esqueceu de apagar todos os vestígios do filme quando foi salvá-lo em mídia numa lan house da cidade. Resultado: o vídeo se espalhou de celular para celular, de e-mail para e-mail rápido como um câncer. Algo semelhante ao que aconteceu com Tropa de Elite, outro grande sucesso do nosso cinema.
Dizem que ao saber da existência do vídeo, a mãe dela não suportou tamanha vergonha e se mandou da pequena Sousa, não sem antes deportá-la para São Paulo. Lá minha filha está mais segura dessas tentações carnais, a velha deve ter pensado. Quanto a ele, sumiu no rastro das lagartixas.
Assistindo Tiranossauro Sex me lembrei do ídolo pornô da minha adolescência, a She-ra, do desenho animado da TV. Para mim, a She-ra era uma entidade sexual, a deusa por trás de toda a perversão das festas de Baco, a Estátua da Liberdade enfim nua, o sonho de consumo de minhas espinhas, a perfeição. Enquanto meus amigos sonhavam com uma bicicleta Caloi ou um vídeo-game Atari, eu sonhava com a She-ra. Todos os anos eu escrevia para o Papai Noel pedindo a She-ra de presente, ou pelo menos as pernas se custasse muito ao bom velhinho me trazê-la inteira. E só parei de pedir quando descobri que o Papai Noel não passava de um coroa que rapta criancinhas para derretê-las nos tanques de ácido da Coca-Cola.
Porém a She-ra, antes de se transformar naquela poderosa e sensual guerreira com seu apetitoso par de pernas à mostra e aquela mini saia revelando parte de suas voluptuosas nádegas e aquele decote que deixava saltar seus imponentes seios e aqueles lábios carnudos e pintados com cerejas frescas e aquele olhar de masoquista e aquela voz de imperatriz das orgias, era apenas a singela, bem vestida e respeitosa, indubitavelmente respeitosa princesa Adora, um poço de pureza. Pois é: a gente nunca sabe o que uma espada pode fazer com uma pudica princesa e uma câmera de 7 megapixels com uma colegial.
Jocivan Pinheiro também escreve no www.blogueriot.blogspot.com
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