Quando se separa

Por Réa Sylvia – Separar é doloroso, mas ficar também é. Você tem que escolher qual a sua batalha.
Separar é ter coragem de mudar a rotina, para mexer em um lugar que por mais desconfortável que esteja, é conhecido.
Separar custa, custa dinheiro, custa dividir bens que estão envolvidos, custa até dividir o cachorro de estimação, custa conversar com os filhos, negociar com crianças ou pré-adolescentes que não tem a compreensão necessária para saber que não foi por culpa deles.
É a desconstrução de um castelo que a gente construiu, onde achávamos que era fincado na rocha, na verdade se tornou areia movediça. Investimos todas as nossas fichas, e acreditamos no “felizes para sempre”, sem saber que o pra sempre, sempre acaba.
Por mais que não esteja bom, separar dói. E fica a interrogação se vai ser algo melhor, ou é trocar o certo, que é incerto, pelo duvidoso.
Mas o mais difícil, o mais doloroso, o pior e mais complicado, é permanecer numa relação que te consome diariamente, cada pedacinho seu, cada célula boa sua, cada parte das boas histórias vão dando lugar a traumas invisíveis.
E a cada dia que a gente tem que suportar o insuportável, é um pedacinho nosso que morre, é aí onde a gente se desconecta da nossa essência para caber em um lugar que não é nosso. Para caber em expectativas dos outros, e fingir que amanhã tudo vai ficar bem, mas nunca fica.
A coragem de separar-se transcende o simples ato de afastar-se fisicamente. É um gesto profundo de autoconhecimento e respeito próprio.
Requer um coração valente para reconhecer que certos laços, por mais significativos que tenham sido, já não nutrem a alma como antes.
A gente se entrega, luta e tenta de todas as formas. Mas quando a dor supera o amor, é o momento de reescrever a nossa história. Desistir não é fraqueza, é um ato de coragem e amor-próprio.
Encerrar um ciclo não é o fim, é a chance de se abrir para um novo começo. Às vezes, segurar o que já não faz sentido pesa mais do que soltar. Ao encerrar um ciclo, respeitamos a nossa jornada e a do outro, criando espaço para o renascimento dentro de nós.
Eu precisei aceitar que a felicidade não podia ser encontrada no mesmo lugar que me feriu tantas vezes. Foram inúmeras tentativas, esperanças renovadas, mas a dor sempre voltava, insistente. No fundo, eu sabia que, por mais que eu quisesse acreditar na mudança, o ambiente que me causava tanto sofrimento não seria capaz de me oferecer a paz que eu buscava.
É chegada a hora de partir, por uma questão de autopreservação. Não é fácil.
Nesse ato de coragem, encontramos a liberdade de sermos verdadeiros com nós mesmos e a possibilidade de um novo começo, onde florescemos em nossa plenitude.
Separar-se é um ato de auto amor, uma escolha consciente de abrir espaço para o crescimento e a renovação. É aceitar que a dor da despedida é temporária, mas a paz que advém da integridade é eterna.
Dói mais segurar a corda invisível do que soltar o respiro de alivio.
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