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Radomécio Leite

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Robinho

09/11/2007 às 01h04

Uma mãe aflita. Uma mãe desesperada. Uma mãe que clama por justiça. Uma mãe sem recursos. Uma mãe que tenta explicar, com seu coração angustiado e sofrido, que ainda tem amor por seu filho. Uma mãe, cujo filho se desgarrou do seu rebanho, que fugiu de seu controle, do seu afeto, do seu afago, do seu carinho, vive hoje, este filho, por trás das grades da cadeia pública de Cajazeiras. É a ovelha desgarrada do rebanho.

Ela tem conhecimento que o filho andou praticando delitos, infrações, furtos e pequenos roubos e está aguardando o julgamento da justiça dos homens.

E como neste país uma pessoa que não tem dinheiro para pagar um bom advogado, “mofa atrás das grades”, ela tenta resgatar o filho para o seu convívio.

Este processo deve estar criando teia de aranha em alguma gaveta, entre uma delegacia e as mesas do Ministério Público e do juizado que cuida destes casos. Mas haveremos de perguntar: por que não procurar os defensores públicos, que são pagos pelo Estado para fazer a justiça dos pobres? Funciona plenamente? Com a resposta quem está precisando dela.

Mas o mais grave nesta prisão de Robinho é que sua mãe fez uma séria denúncia: seu filho está sendo seviciado na cadeia. Está servindo de “prostituta” para os demais detentos, além da coação de ter que dar dinheiro e alimentos para o deleite de todos. Todas as vezes que tem ido à cadeia para vê-lo, o mesmo não se apresenta, se esconde, talvez com vergonha da própria mãe. Foi ainda informada que o mesmo teria sido espancado e estava com hematomas pelo corpo.

Tem mais um agravante: quem conhece Robinho sabe que ele “não tem o juízo completo”. Embora já tenha 21 anos de idade tem atitudes infantis. É um piolho de sepultamentos e sente prazer de ir a quase todos, canta, reza e quando é um enterro de um rico faz questão de levar uma das coroa de flores. Participar de sepultamento, para os católicos, é um ato de caridade cristã.

Robinho é ainda um freqüentador habitual das missas celebradas em quase todas as igrejas de Cajazeiras, onde se destaca com sua voz nos cânticos e orações e quando a igreja está lotada, muitas vezes cede o seu lugar para uma pessoa mais idosa. Algumas pessoas não aceitam este jeito de ser de Robinho nas celebrações da igreja, sua inquietude e colocações extemporâneas.
Como estão sendo estes dias para ele sem assistir sepultamentos, missas e procissões?

Robinho foi preso no dia 2 de julho de 2007 e no processo que foi iniciado na delegacia consta que ele roubou 4 (quatro) reais, repito: quatro reais. Será que Robinho vai ser recuperado desta sua “mania” de fazer pequenos roubos, depois de passar por tantos constrangimentos, pressões, massacres, além da freqüência sexual a que é “obrigado” a praticar com outros detentos, segundo denuncia sua própria mãe? Robinho, segundo se comenta, é homossexual, mas uma coisa é o livre arbítrio das relações amorosas com quem e quando deve haver e acontecer este ato, a outra é coação, a sevícia, que o outro ou os outros parceiros impõem.

A Pastoral Carcerária está sabendo da situação de Robinho? E o diretor da cadeia? Um fato como este, denunciado pela mãe dele, dona Eclivaneide e a mesma já comunicou ao defensor público e que a comunidade e os meios de comunicações estão tomando conhecimento, vem cada vez mais escarnar, esfolar e reafirmar que o sistema penitenciário brasileiro continua cada vez pior, sem saída e que o Poder Judiciário, com o reduzido número de juizes e promotores para atenderem uma infinidade de processos fica sem saída para praticar justiça.

Um cidadão rouba quatro reais e já passa de quatro meses para uma decisão da justiça, este é pobre, não tem um advogado particular, não tem “prestígio”. Um outro rouba 184 milhões dos cofres do governo, é um juiz do trabalho, hoje está em casa aguardando um julgamento que é continuamente adiado. Estas são as duas faces da justiça brasileira.

Sem dúvida, Robinho tem que ser julgado pelos atos criminosos que cometeu, mas será que não existe uma outra alternativa de punição, que não seja esta a que está submetido, não tinha uma maneira deste processo “caminhar” e faze-lo chegar à mesa do juiz para um pronunciamento? São perguntas que circulam no nosso imaginário, que entendemos serem dificieis de respostas e soluções.

Anotem esta data: 02 de julho de 2007, data da prisão. Vamos ver quantos meses Robinho vai passar ainda preso aguardando julgamento.

Enquanto sua mãe se debulha em lágrimas e vendo o quanto é enorme a sua impotência e a sua dor, busca forças para minorar o seu sofrimento e fazer voltar seu filho ao seio da família.

Aproveitando o tema é preciso dizer que a cadeia pública de Cajazeiras está superlotada, com presos dormindo uns por cima dos outros. Quando é que o novo presídio vai ser inaugurado? Neste país se brinca com a dignidade e com os direitos do cidadão. Por onde passeiam os defensores dos direitos humanos de Cajazeiras? Vamos acordar senhores vereadores, senhores deputados é tempo de trabalhar pelos que não têm sido aquinhoados com um pouco de justiça. Criem coragem para denunciar fatos como estes, não tenham medo.

Robinho ou Robson Henrique da Silva, tem 21 anos de idade e precisa de uma palavra, de um gesto nosso para que se faça justiça para que ele sai do processo de degradação humana porque está passando. Uma vergonha.

Coluna transcrita do Jornal Gazeta do Alto Piranhas

Radomécio Leite

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Contato: [email protected]

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