Uma palmada educa muita gente
Ter filhos é uma escolha no nosso tempo. Antigamente não. Nossos antepassados iam dar uma namoradinha e meses depois as mulheres pariam os rebentos. Não havia planejamento. Resignado, pai programava: “onde come um, come dois”. A criação era sem muitos dengos, os pais exerciam autoridade, às vezes, por meio de uma ou outra palmada. Um olhar bastava para colocar o filho no seu devido lugar.
Hoje não. O casal passa anos planejando o filho. A mulher engravida e aí o processo mais natural do mundo, repetido trilhões de vezes na história da humanidade, se transforma num espetáculo. Tudo é pensado, o nome do menino é escolhido, o quarto arrumado, as roupas já estão esperando, todas na última moda. A criança nasce e todos ficam felizes. Nisso surge o problema. Como criar? Como educar?
Os pais sem muito tempo, que jeito, recorrem à televisão. Os desenhos começam logo cedo e entram pela noite. O filho passa a ser educado por uma galinha cantante.
Pobre do pai que só tiver um aparelho de TV. Pode esquecer o jogo, o jornal, pois o menino de maneira ditatorial domina o controle remoto. E a mãe? Coitada, sofre na cozinha, tentando criar pratos ao gosto das exigências do filhinho, que, contrariado, grita, esperneia, chora, berra. O menino vira um semideus. Impõe medo.
Agora os nossos deputados e senadores, por total falta de escrúpulos, acham que têm o direito de intervir na criação das crianças e aprovam a estapafúrdia Lei Menino Bernardo. A aprovação dessa lei foi uma verdadeira aula de oportunismo. Até a dita Rainha dos Baixinhos esteve por lá, fazendo o patético coramão para um deputado que a “ofendeu” apenas por dizer a mais cruel das verdades. Até o nome, Lei Menino Bernardo, foi pensado no intuito de causar comoção. Dois psicopatas matam e enterram uma criança e aí uma lei que proíbe os pais de darem palmadas nos seus filhos é batizada com o nome do menino. Oportunismo neste caso é elogio.
Fico imaginando o futuro desta lei e chego a antever as cenas. Crianças pequenas cometendo todo tipo de atrocidades, enfiando o pé na jaca. Quando os pais esboçarem a reação de uma palmada, digo uma palmada, a criancinha mal saída dos cueiros, balbucia: “não encoste a mão, eu chamo o camburão”.
O pai e a mãe, reféns, passam então a sonhar com a Lei do Tabefe, para se protegerem dos filhos.
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