Beto Barbosa: "Sou um rico pobre"
Rei da lambada fala sobre seu retorno à TV com comercial da Skol, o aumento de shows e seus planos para o futuro
Foto: Beto Lima
Beto Barbosa, aos 56 anos – ele anuncia sempre 57, embora os complete apenas em fevereiro de 2012 –, o cantor está em plena forma e cheio de projetos para o futuro. Um DVD, para celebrar seus 25 anos de carreira, e a expansão da sorveteria Adocica por todo o Brasil, são alguns deles.
Beto, que fez grande sucesso nos anos 80 com canções em ritmo de lambada e esteve longe da mídia nos últimos anos, reapareceu novamente na TV em 2010, atuando em um comercial da Skol. Hoje, o músico está em seu terceiro vídeo para a empresa, onde aparece sempre cantando ou "Adocica", ou "Preta", seus maiores sucessos.
Beto Barbosa vai gravar um DVD para celebrar seus 25 anos de carreira
A aparição de Beto Barbosa na TV foi o início de uma série de propagandas com personalidades que estavam distantes da mídia, como o ator Ricardo Macchi e o cantor Biafra. “Sempre olhei essa oportunidade como um investidor. Vi ali uma oportunidade, nunca teria como pagar para aparecer em horário nobre na TV”, explicou o músico em entrevista ao iG Gente. Ele ainda comentou que, quem criou a campanha publicitária foram profissionais que, quando jovens, curtiam seu som.
Beto não revela quanto ganhou para estrelar as campanhas, mas deixa claro que não foi pouco. “Se eu me casar, minha mulher não vai passar necessidade”. Aliás, passar necessidade nunca esteve no vocabulário de Beto. Com perfil de administrador, ele conta que sempre poupou 90% do que ganhou e, por isso, não teve problemas financeiros após a passagem da febre da lambada, que ele já previa que aconteceria.
Confira o bate papo com Beto Barbosa, antes de ele embarcar para mais uma série de shows.
iG Gente: Por onde você andou?
Beto Barbosa: Eu segui fazendo shows. Antes de estourar a lambada no Brasil, ela fazia muito sucesso lá fora. Rodei todo o Brasil, me apresentava em estádios lotados, tanto no Brasil como no exterior. Depois que o auge da lambada acabou, voltei para meu gueto. Mas hoje é diferente. Estou mais maduro. Antes, nem eu nem minha gravadora estávamos preparados para tanto sucesso.
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Vi no comercial da Skol uma oportunidade, nunca teria como pagar para aparecer em horário nobre na TV. Era “tudo certo” ou “tudo errado”, e graças a Deus deu muito certo”
iG Gente: Por não estar preparado, você conseguiu guardar o dinheiro que ganhou na época? Passou por alguma dificuldade?
Beto Barbosa: Sempre brinco que sou um rico pobre. Meu avô tinha muito dinheiro. Veio do Líbano. E minha mãe se envolveu com uma pessoa pobre. Meu avô disse que, se ela se envolvesse com ele, deveria sair de casa. E minha mãe saiu. Então vivi com minha mãe a pobreza, pois meu pai era um motorista de táxi e, com meu avô que era rico. Comecei a trabalhar com ele e ganhei uma visão de administrador, que é algo bastante comum na cultura árabe. Se eu ganhava R$ 100 reais gastava 10% e poupava o resto. Por isso, quando ganhei dinheiro com a música, apliquei. Montei uma grife de roupas de lambada e abri três lojas. Depois, passei para minha irmã e minha ex-mulher, que não souberam administrar, e acabou fechando. Depois disso, abri uma sorveteria em Belém, que se chama Adocica. E estou com um projeto para expandir para o Brasil todo. Sempre soube administrar bem meu dinheiro. Posso dizer que estou dormindo bem.
Foto: Beto Lima
Beto Barbosa: "Acho que a lambada não deixou de existir pelo mundo"
iG Gente: Quais são seus luxos?
Beto Barbosa: Uma boa comida, viagens, conforto. Meu luxo é esse, é básico. Não pago R$ 30 mil em um Rolex. Até posso pagar, mas acho que não vai me acrescentar em nada.
iG Gente: Seu primeiro comercial tinha uma brincadeira de “queimar o filme” ao aparecer do seu lado. Os comerciais de Ricardo Macchi e Biafra também “ridicularizavam”, de certa maneira, algumas características deles. Você se sente incomodado com isso? Acha que pode atrapalhar a carreira de vocês de alguma forma?
Beto Barbosa: Eu não vi desta maneira. Sempre olhei essa oportunidade como um investidor. Nunca teria como pagar para aparecer em horário nobre na TV. Os comerciais da Skol estão programados na novela das 21h e no futebol, por exemplo. Mais nobre, impossível… Esse comercial era “tudo certo” ou “tudo errado”, e graças a Deus deu muito certo. Sempre analiso antes de aceitar os convites para TV. Tem coisas que não faço de jeito nenhum.
iG Gente: Que coisas são essas que você não faz de jeito nenhum?
Beto Barbosa: Ficar de frente para câmera lavando roupa suja, brigando, falando de minha ex-mulher. Não é meu perfil.
iG Gente: E participar de um reality show, como A Fazenda, por exemplo?
Beto Barbosa: Fui convidado para A Fazenda. Se estivesse lá, aproveitaria cada momento para me promover. Eu só não aceitei participar porque tenho contrato com a Skol e o programa é patrocinado pela Itaipava.
iG Gente: O que o comercial da Skol representou para sua carreira?
Beto Barbosa: Uma nova e boa fase em minha vida. Reconhecimento, shows, outras campanhas que estão sendo negociadas pelo meu escritório…
iG Gente: Sente falta de fazer shows em grandes estádios, como citou anteriormente?
Beto Barbosa: Já fiz shows em muitos grandes espaços como Maracanã no Brasil e River Plate na Argentina, em grandes casas de shows. No último Carnaval, cantei no Galo da Madrugada para 2 milhões de pessoas, e no Camarote da Skol em Salvador, para aquela multidão na Bahia. Mas também sou feliz cantando para 200, 400 ou 1000 pessoas em um evento corporativo ou espaços fechados. Então, não sinto essa falta de público.
iG Gente: Quanto ganhou para fazer o comercial?
Beto Barbosa: Olha, foi muito bacana isso. Por contrato, não posso dizer nenhum valor, mas posso garantir que foi bom tanto para mim, quanto para eles. Pode ter certeza que não foi o cachê da Gisele Bündchen (risos). Mas, se eu me casar, minha mulher não vai passar necessidade.
iG Gente: Mesmo não sendo adepta de bebida alcoólica, Sandy se tornou garota propaganda de uma cervejaria. E você? Bebe?
Beto Barbosa: Bebo. Bebo socialmente. Se vou almoçar, não bebo. Mas depois do show, é sempre bom tomar uma cerveja para relaxar.
iG Gente: Você agora vai gravar um DVD de 25 anos de carreira. Como será esse projeto?
Beto Barbosa: Vou presentear as pessoas que, como eu, adoram dançar. Sou um dançarino. Não tenho formação, mas sou daqueles que vão à uma festa e não passam vergonha. Então estou com esse projeto para celebrar os 25 anos de carreira. É engraçado que, alguns garotos me falam: “minha mãe é sua fã, minha avó é sua fã” (risos). Caramba, passou tanto tempo assim? Em meus shows, não vão só as mães e as avós. Vão as mães que levam os filhos e os filhos que levam os amigos. Vai toda a família.
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Três dos meus filhos estudam direito e um deles, tem uma banda. Ele tocava escondido e eu descobri. Mas ele faz tudo sozinho. Não ajudo em nada na carreira dele”
iG Gente: O que pretende cantar nesse especial?
Beto Barbosa: Eu sempre brinco que, nos meus shows, não podem faltar “Preta” e “Adocica”, assim como Roberto Carlos não pode deixar de cantar “Detalhes” e “Emoções” e no show de Chitãozinho e Xororó não pode faltar “Fio de Cabelo” e “Evidências”.
iG Gente: Você compôs "Adocica" durante uma briga com uma ex-mulher. A música virou sucesso. Mas e o relacionamento? O que aconteceu?
Beto Barbosa: Ficamos juntos ainda por um tempo. Mas eu falo que ela foi um anjo, uma luz na minha vida. Eu cheguei em casa de madrugada, depois de uma balada e ela começou a brigar. Enquanto ela falava, eu tentava tocar algo no viola… comecei a dedilhar “Ai que vida…”. No meio da briga, ela disse que era um doce na minha vida. E aí veio “adocica, meu amor”. Foi bacana porque a palavra nem existia no dicionário e virou sucesso. Existia “adoçar”, não adocica.
Foto: Beto Lima
Beto Barbosa: "É engraçado que, alguns garotos me falam: minha mãe é sua fã, minha avó é sua fã. (risos). Caramba, passou tanto tempo assim?"
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Meu luxo é básico. Não pago R$ 30 mil em um Rolex. Até posso pagar, mas acho que não vai me acrescentar em nada”
iG Gente: Acha que a lambada pode voltar a fazer sucesso?
Beto Barbosa: Eu acho que a lambada não deixou de existir pelo mundo. As danças são as mesmas, os giros, os movimentos, só que vão ganhando outros passos, outros nomes.
iG Gente: Você recebe muitos pedidos para dar aulas de lambada?
Beto Barbosa: Não, pois uma coisa é você ensinar. A outra é dançar. Eu não tenho a técnica para repassar. Se eu pego uma mulher para dançar, ela sai dançando. Mas não tenho a técnica para o passo a passo.
iG Gente: O assédio feminino aumentou com o comercial?
Beto Barbosa: Nos shows, chamo alguma mulher da plateia no palco para dançar comigo e as outras enlouquecem. Mas é isso. Quando o show acaba, existe, sim, o assédio. O palco é sedutor. O público fica de um lado e eu saio para o camarim, direto para o hotel ou para a solidão do momento.
iG Gente: Então você está solteiro?
Beto Barbosa: Sim, estou solteiro.
iG Gente: Sairia ou já saiu com fãs?
Beto Barbosa: Minha primeira mulher era minha fã. Fiquei com ela por 18 anos. Minha segunda não era minha fã, e tive que insistir bastante pra sair com ela. A que inspirou Adocica era casada. Essa história é muito doida. Uma jovem havia se suicidado por causa de um namoro mal sucedido. Soube do caso e passei a visitar o túmulo no cemitério. Me impressionou muito a frase em sua lápide: “No teu infinito amor e na tua infinita bondade deparaste com um desamor traiçoeiro e desleal, que, no lá, a tirou de nós”. Eu queria entender porque havia acontecido aquilo, com uma pessoa tão jovem, aos 18 anos. Eu me via na história, a ideia de suicídio começou a me perseguir. Rezava pedindo para Deus para tirar aquela dor de mim e aqueles pensamentos ruins. Eu ia todos os dias ao cemitério para levar flores e rezar por ela e, um dia, encontrei a mãe e a irmã da falecida. Olhei para a irmã e achei linda, então pensei, que ela podia namorar comigo. Mas ela era casada. Pouco tempo depois, eu a encontrei novamente no cemitério. Começamos a conversar e ela me contou que o marido havia morrido. Aí comecei a investir. Ficamos juntos, mas minha vida amorosa não é tão longa. Não fico com várias fãs, mas às vezes, acontece (risos).
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Deus só leva um anjo, porque esse anjo não tem mais porque ficar nessa loucura. Isso aqui é uma chaleira do inferno (sobre a morte da filha de 28 anos)”
iG Gente: Como você se vê daqui pra frente, nos próximos anos?
Beto Barbosa: Me vejo ao lado da minha família, dos meus filhos, dos meus netos. Tenho quatro filhos e perdi uma menina no ano passado, com 28 anos. Três dos meus filhos estudam direito e um deles, tem uma banda. Ele tocava escondido e eu descobri. Mas ele faz tudo sozinho. Não ajudo em nada na carreira dele. E falo pra ele largar a música. Mostro que quase não paro em casa, mas ele gosta. Está no sangue, não tem jeito. Esses dias ele me pediu ajuda para participar de um festival. E eu falei: vai lá e manda seu vídeo, não vou ajudar em nada.
Foto: Beto Lima
iG Gente: No ano passado você perdeu uma filha sua. Na época, falaram que era uma bactéria misteriosa. Você descobriu o que realmente era?
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Minha primeira mulher era minha fã. Fiquei com ela por 18 anos. Minha segunda não era minha fã, e tive que insistir bastante. A que inspirou "Adocica" era casada. Essa história é muito doida…"
Beto Barbosa: Era a bactéria KPC. É difícil, né, porque a primeira coisa que tinham que ter feito era um exame de sangue. E já foram metendo antibiótico nela. Em uma pessoa cheia de antibiótico, é impossível depois você fazer um exame e ter um resultado preciso. O fato repercutiu na imprensa, também pelo fato de ser com a minha filha e, isso reforçou a exigência de receita médica para o uso de antibióticos. Eu realmente pedi ajuda da imprensa, expliquei o que estava acontecendo e a divulgação desta superbactéria deixou tudo mais claro para todos. Muitas pessoas estavam morrendo e tinham muitos mais casos além do da minha filha. Ela morreu com 28 anos, em 28 dias de UTI. Hoje eu entendo assim: Deus só leva os bons, porque os bons já cumpriram sua missão. Não tem mais o que pagar. Sou dessa filosofia que acredita no plano espiritual. Deus só leva um anjo, porque esse anjo não tem mais porque ficar nessa loucura. Isso aqui é uma chaleira do inferno. É todo mundo brigando por espaço, profissão, ninguém está seguro.
IG
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