header top bar

Damião Fernandes

section content

“Pulseiras do Sexo”: Causa ou Efeito?

11/04/2010 às 12h52

Por Damião Fernandes

Após ter pulseira do sexo arrancada, adolescente é estuprada em Londrina: Segundo a polícia, crime foi motivado pelo uso do adereço. Dos quatro envolvidos, três são adolescentes e um tem 18 anos.

No dia 31 de março deste ano, o G1 trouxe esta manchete em seu site, evidenciando assim o tão famigerado uso das pulseiras coloridas, que tão logo foi batizado de “pulseiras do sexo”. Antes de qualquer discussão é importante afirmar que esse modismo atual, se revela, claro, como um comportamento perturbador e que instiga a toda a sociedade á tomada de consciência clara e evidente, sem cairmos no risco de lançarmos mão de mitos ou estereótipos alheios. 

Para tanto, precisamos considerar preliminarmente algumas realidades e contextos pra que possamos entender o processo e não cairmos na tentação de julgarmos antecipadamente o comportamento dos nossos jovens e adolescentes ou diabolizarmos de imediato as pobres coitadas das pulseiras – e diga-se de passagem: “elas” não se tratam de pessoas, mas sim, apenas objetos. “elas” não são constituídas de vontades pessoais, desejos, sentimentos, etc. São na verdade objetos inanimados. 

Considerar essas característica é importante para nossa reflexão. Que ora destacariamos em dois pontos: – claro que não nos propomos á esgotar a discussão, muito pelo contrário, a nossa intenção é instigá-la e ampliá-la ainda mais. 

Num primeiro ponto, destacaria que a atual supervalorização do prazer, onde é afirmado categoricamente – não somente oralmente, mas comportalmente, midiaticamente e até muitas vezes religiosamente – que o prazer é o supremo bem da vida humana. A nossa sociedade é na verdade uma sociedade hedonista. O que é isso? 

O dicionarista Nicola Abbagnano, vai nos dizer que: Hedonismo é um termo que indica tanto a procura indiscriminada do prazer, quanto à doutrina filosófica que considera o prazer como o único bem possível, portanto, como fundamento da vida moral. Como vai dizer o filósofo Epicuro: “O prazer é o princípio e o fim da vida feliz”. 

Não precisamos fazer nenhum extremo exercício de observação ou de análise cognitiva para constatarmos essa realidade em nosso País, em nosso Estado ou até mesmo em nossa Cidade de Cajazeiras. Vemos isso estampado em Outdoors, na Internet ou na TV, onde pra anuncio de tênis ou de um cinto, de Cerveja ou de refrigerantes, os nossos marketeiros, “inocentemente” consideram importante colocar um homem ou uma mulher com um corpo seminú e quando não muitas vezes, realizando gestos insinuosos e carregados de Erotismo. 

Isso é um fato: A nossa sociedade vive nos dias atuais um radical comportamento hedonista e narcisista. E não é por menos que nossos jovens e crianças sejam “afetados”, “atingidos” por esse tipo de propaganda – isso sem falar aqui nas Eróticas músicas “rebolleichom” da vida – e quantos não poucos têm seus comportamentos influenciados por estes fenômenos culturais. 

Acredito que seja possível para o caro leitor perceber que a questão não apenas se resume em usar ou não as “pulseiras do sexo”, estar ou não “ a favor ou contra”. A questão é muito mais profunda. Que bom seria se ampliássemos a discussão. 

Num segundo ponto, poderíamos considerar que a autoridade “Patri-matriarcal”- de Pai e Mãe – está em crise. Autoridade e autoritarismo são coisas muito diferentes. Ambas as palavras têm o mesmo radical: autor. Mas, enquanto a primeira pode ser entendida como o poder de impor limites necessários para a convivência em sociedade, a segunda indica um exacerbamento desse poder, realizado pela simples imposição de uma idéia sem possibilidade de contraposição. 

É exatamente por confundir e misturar os significados de autoridade e de autoritarismo que muitos pais, professores hoje, tem medo de exercer qualquer forma de poder sobre seus filhos ou alunos- seja ele justo e necessário à boa educação da criança ou um poder ilícito e prepotente, ditado apenas pelo desejo arrogante de se impor a qualquer custo. 

Em qualquer tipo de relação humana, o autoritarismo é sempre estúpido e nefasto. Mas, em relações do tipo professor/aluno e, sobretudo, nas relações entre pais e filhos, a autoridade é indispensável para a construção sadia da criança. 

A autoridade enfrenta séria crise na sociedade contemporânea. Levadas ao exagero, sentenças do tipo "é proibido proibir", que se transformaram em palavras de ordem nos anos hippies das décadas de 1960 e 1970, fizeram muito mais estragos do que se poderia supor naqueles momentos de farra libertária. 

Plantaram nas mentes e nos corações a convicção falsa e perigosa de que, na vida, tudo são direitos e nada é dever. Boa parte dos pais e professores de hoje, simplesmente não sabe o que fazer para controlar a rebeldia dos filhos e/ou alunos. Na verdade, o que constatamos é uma inversão de comportamentos: Quem deveria ser comandado comanda, e quem deveria mandar, comete um desmando atrás do outro. 

Será que vocês, caros leitores, acreditam que o sucesso de séries televisivas tipo Supernanny se deve a um simples modismo? 

A crise da autoridade parental é real e se reflete em projeções danosas em todos os demais aspectos da sociedade. Diante de toda essa realidade, que foi amistosamente pensada aqui neste artigo, urge lançarmos as seguintes indagações: 

Serão as “pulseiras do Sexo” causa ou efeito de uma sociedade hedonista e em crise de autoridade? Serão nossos jovens e adolescentes, os únicos “culpados” pelos comportamentos modistas atuais ou a problemática é de contexto cultural, histórico-social? Apenas o ato de proibir o uso das “pulseiras do sexo” será suficiente para resolver uma questão destas proporções? Qual seria a solução?

Fica aí a possibilidade de pensarmos melhor. 


Para Saber Mais
Lipovetsky, G. (1983). A era do vazio. Lisboa: Antropos. 
Le Breton, D. (2006). A sociologia do corpo. Petrópolis: Vozes.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

Contato: [email protected]

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

Contato: [email protected]

Recomendado pelo Google: