A agonia do Hospital Regional
Por José Antonio
Foi numa tarde do dia 5 de julho de 1941 que o Hospital Regional de Cajazeiras foi instalado, sob a presidência do Diretor da Saúde Pública do Estado, Jandui Carneiro, ladeado pelo prefeito do município Coronel Juvêncio Carneiro, do Monsenhor Assis Feitosa, Vigário da Catedral do Crato, do Coronel Elísio Sobreira, prefeito de Pombal e de outras autoridades.
Era uma conquista do povo. Era uma vitória da região. O sertão passava a ter o seu hospital. O seu primeiro diretor foi o médico Deodato Cartaxo e na composição do quadro clínico tivemos os médicos Celso Matos, Otacílio Jurema e Nelson Carreira, renomado cirurgião. Durante a solenidade todos os oradores falaram da importância desta obra para os sertões como um inestimável beneficio público.
O velho nosocômio, que este ano completa 68 anos de vida, teve seu tempo áureo, com relevantes serviços prestados ao povo e que orgulhava a todos e se tornou referencia como uma casa de saúde cujo prestigio e importância iam além de nossas fronteiras.
A política partidária, durante décadas, não interferiu na sua administração, muito diferente dos dias atuais, que infelizmente foi transformado numa “máquina de fazer votos” e os seus serviços estão se deteriorando e ao invés de melhorarem estão cada vez ficando piores.
Nestes 68 anos de vida já passou por inúmeras reformas. Já foi até totalmente posta por terra toda a sua estrutura física, que podemos considerar como o maior crime contra o patrimônio público já realizado nesta cidade, bem debaixo dos olhos do povo desta terra, que covardemente silenciou, ficou mudo e foi conivente.
Como podemos crer e admitir que um hospital, considerado um dos maiores da Paraíba, não tenha mercúrio, gaze e sequer um tubo de soro para atender os que dele necessitam? São denúncias que chegam aos ouvidos do povo através das emissoras de rádio e mais uma vez ficamos mudos, calados, acovardados e coniventes com esta triste situação. Cobrar de quem? Não adianta. Nossas vozes e clamores não vão além do Riacho da Curicaca. Parece até que as nossas autoridades não têm interesse em resolver definitivamente esta questão e preferem o quanto mais ruim a qualidade do serviço, melhor, para que possa funcionar o sistema de transferência de doentes, sob as expensas dos mesmos, para que o paciente fique devendo o favor para pagar com o voto na eleição seguinte. Quanta tristeza!
Foi implantado, recentemente, um modelo de gestão tripartite e a sua direção ficou a cargo da Universidade Federal de Campina Grande, Campus de Cajazeiras e mais dois representantes: um do município e outro do estado. É uma experiência nova, com a tentativa de banir a política partidária, que sempre predominou o interior do hospital.
Tenho uma descrença com relação ao êxito da medida: mudar os gestores, sem ter autonomia para mudar o quadro de pessoal, administrativo e funcional, cujos vícios vêm de longas datas, é o mesmo que tomar banho e vestir a mesma cueca, suja e fedorenta. Com a burocracia do estado, associada a uma burocracia mais forte ainda que é a da Universidade, este hospital vai continuar sem funcionar a contento.
Não adianta o deputado José Aldemir trocar insultos com o deputado Jeová Campos da tribuna da Assembléia Legislativa envolvendo as questões do hospital e muito menos trocarem tapas e sopapos porque nada disto resolve.
Continuo a defender a construção de um outro hospital, que poderia ser o da própria universidade. Sem concorrência, sem ter uma referencia de quem presta um melhor serviço fica difícil e aí o povo tem que cair nos braços do moribundo hospital que nem um soro tem para aplicar em suas veias entupidas e esclerosadas.
Aguardem: pode vir aí uma nova reforma no prédio do hospital para encher de dinheiro os donos das construtoras e empanturrar os agentes políticos com a propinagem de 20% do valor das obras. Enquanto isto… Falta soro, mercúrio, médicos de várias especialidades de plantão, anestesistas, pediatra, UTI neonatal.
A salvação é que ainda existem alguns heróis e abnegados que fazem milagres para continuar atendendo este maior doente que é o próprio hospital em sua eterna e longa agonia.
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