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Damião Fernandes

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A Covardia dos Bons!

16/03/2012 às 10h23

Leiamos esta espetacular estória que nos ajudará em nossa reflexão:

"Um homem que vivia perto de um cemitério, uma noite, ouviu uma voz que o chamava de uma sepultura. Sendo covarde demais para, sozinho, investigar o que se passava, confiou o ocorrido a um corajoso amigo que, após estudar o local de onde saíra a voz, resolveu vir, à noite, para ver o que aconteceria.

Anoiteceu. Enquanto o covarde tremulava de medo, seu amigo foi ao cemitério e ouviu a mesma voz saindo de uma sepultura. O amigo perguntou à voz quem era e o que desejava. A voz, vinda de baixo, respondeu: "Sou um tesouro oculto e decidi dar-me a alguém. Eu me ofereci a um homem ontem à noite, mas ele era tão medroso que não veio me buscar; por isso dou-me a você que é merecedor. Amanhã de manhã, irei à sua casa com meus sete seguidores. "

O homem corajoso disse: "Estarei esperando por vocês, mas, por favor, diga-me como devo tratá-los." A voz replicou: "Iremos vestidos de monge. Tenha uma sala pronta para nós, com água; lave o seu corpo, limpe a sala e tenha oito cadeiras e oito tigelas de sopa para nós. Após a refeição, você deverá conduzir a cada um de nós a um quarto fechado, no qual nos transformaremos em potes cheios de ouro."

Na manhã seguinte, o homem lavou o corpo e limpou a sala, como lhe fora ordenado, e ficou à espera dos oito monges. À hora aprazada, eles apareceram, sendo cortesmente recebidos pelo homem. Depois que tomaram a sopa, ele os conduziu um por um ao quarto fechado, onde cada monge se transformou em um pote cheio de ouro.

Um homem muito ganancioso que vivia naquela mesma aldeia, ao tomar conhecimento do incidente, desejou ter os potes de ouro. Para tanto, convidou oito monges para virem até sua casa. Depois que eles tomaram a refeição, o ganancioso, esperando obter o almejado tesouro, conduziu-os a um quarto fechado. Entretanto, ao invés de se transformarem em potes de ouro, os monges se enfureceram e denunciaram o ganancioso à polícia que o prendeu.

Quanto ao covarde, quando ouviu que a voz da sepultura havia trazido riqueza ao seu corajoso amigo, foi até a casa dele e avidamente lhe pediu o ouro, insistindo que era seu, porque a voz foi dirigida primeiramente a ele. Quando o medroso tentou pegar os potes, neles encontrou apenas cobras, erguendo as cabeças prontas para atacá-lo.

O rei, tomando conhecimento desse fato, determinou que os potes pertenciam ao homem corajoso, e proferiu a seguinte observação : Assim se passa com tudo neste mundo. Os tolos cobiçam apenas os bons resultados, mas são covardes demais para procurá-los, e por isso, estão continuamente falhando. Não têm fé, nem coragem para enfrentar as intestinas lutas da mente, com as quais, exclusivamente, pode-se atingir a verdadeira paz e harmonia."

As palavras caminham dentro de nós e passo a passo transmuta-se em idéias, em sentimentos. Acredito que as palavras, assim como a água que quando colocada á certa temperatura, ferve intensamente, da mesma forma são as palavras. As Palavras fervem dentro nós numa necessidade caudalosa "de sair". As palavras evidenciam em nós a coragem ou o temor, a bondade ou a maldade. As palavras muitas vezes nos explicam.

Nesses dias tenho pensado sobre o que escrever. Várias foram as sugestões que meus pensamentos me deram: escrever sobre a angústia, a insatisfação, sobre a existência autêntica, sobre a arte de morrer todo dia ou sobre a solidão, sobre Deus, sobre a fé ou incerteza dela, etc.

Mas o vento que sopra á inspirar as palavras que ora escrevo, sopra com um ar de urgência e transgreção. Pois pensar é transgredir o supostamente pronto e acabado. Pensar é desacorrentar-se, é libertar-se dos grilhões da covardia que muitas vezes se apresenta sobre a mascara da sensatez.. Ver o bem e não fazê-lo é sinal de covardia, já dizia o filósofo antigo Confúcio.

Pois bem, resolvi escrever sobre os covardes e suas covardias.

O que é a covardia? O que é ser covarde? Quando e porque eu e você muitas das vezes agimos assim? A covardia é o medo de assumir o que somos para não perdermos o que temos. Covarde é todo aquele que substitui o ter pelo ser. Sempre é bom recordar que ter não significa aqui a capacidade de acumular bens materiais, mas ter significa sim a incapacidade do ser humano de sair de si, de desprender-se de seus enganos e acomodações. É própria dos covardes a busca por uma vida cômoda e segura, livre de importunações. Dificilmente eles se revelam como são, mas apenas como querem.

Os Covardes sempre querem "pegar carona" na luz do Outros, nos talentos e nas Capacidades dos Outros. O covarde é sempre insatisfeito com o sucesso alheio. Poderíamos dizer, que via de regra, os covardes sempre são nascisistas. A covardia é uma constante negação do Ser tal qual ele é.

Há uma frase de Abraham Lincoln que diz “Pecar pelo silêncio, quando se deveria protestar, transforma homens em covardes." Quantos homens verdadeiramente bons que não pecam pelo silencio muitas vezes omisso e permissivo. Quantos que se escondem numa desvelada sensatez ou cordialidade e se calam diante de práticas injustas, humilhante ou desleal. Quantos não assumem uma postura covarde diante do que vêem e do que ouvem.

Há um trecho de uma música que diz: “O alimento da audácia dos maus, infelizmente é a covardia dos bons”. Vamos vivendo acreditando que tudo aquilo que nos acontece, as injustiças que sofremos, aquilo que não conquistamos, todo o mal que há no mundo ou até mesmo aqueles que nos acontecem são justificados por um querer Divino. Tudo atribuímos à Deus – até mesmo a origem de nossa covardia – . A covardia não é um atributo de Deus.
 


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

Contato: [email protected]

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

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