A derrota do PT, a vitória de Bolsonaro
O título pode parecer pra lá de óbvio e sem sentido. Por trás, da obviedade o complexo processo eleitoral em que um fator retroalimentou o outro. O fracasso de um projeto e o cansaço de um modelo político viciado e pesado para o contribuinte criaram o terreno para a aparição de um fenômeno fulminante que quase ninguém foi capaz de antever ou identificar com exatidão o seu poder de multiplicação e penetração na veia do eleitor brasileiro.
Os sinais foram ignorados. Eles começaram lá em 2013. Naquelas manifestações, sem dono, sem líderes e sem propósitos claros, o Brasil já dava um sinal claro de que a paciência com a política – nos moldes e padrões nossos – já havia ultrapassado os limites.
A eleição de 2014 foi o último tape da decantada, desgastada e enfadonha polarização PT e PSDB. O que veio depois dela foi a clareza de quem projeto sucumbiu e o alternativo – encarnado por Aécio Neves – era um engodo tão amoral quanto o que governava seguidamente ao preço da compra do poder e da fraude (via corrupção) das eleições.
A derrota do PT. O antipetismo funcionou como ingrediente de sabor presente no caldeirão de 2018. O PSDB não percebeu e tentou desqualificar a figura que passou a encarnar esse sentimento. Um tiro no pé que custou o derretimento da legenda ao final do primeiro turno.
O PT errou muito na retórica. Protagonista de escândalos, se fez de vítima o tempo todo e condecorou seu líder, preso por corrupção e lavagem de dinheiro. Falseou uma candidatura sabidamente impossível e depois apresentou o verdadeiro plano. Deslizou quando demorou a enfrentar temas polêmicos, subestimou as dúvidas de uma sociedade de maioria conservadora e religiosa e decidiu falar somente para os guetos. Quando acordou para retirar pontos do programa de governo, era bem tarde.
A vitória de Bolsonaro começou quando quixotescamente saiu em caravanas pelo Brasil afora tão logo as urnas de 2014 foram encerradas. Teve faro para perceber o desapontamento brasileiro e o enfastiamento da dança das tesouras de PT e PSDB. Peitou a lógica política, não era candidato de ninguém e levava uma mensagem dura, mas que encontrava eco nas pessoas e na revolta delas.
É preciso reconhecer. Ele desafiou o ‘sistema’. Foi candidato sem apoios políticos dos partidos tradicionais, usou uma legenda sem expressão para se abrigar e cumprir as regras do jogo, não teve tempo de guia eleitoral, detinha fundo partidário irrisório, foi massivamente criticado pela imprensa pelas posições radicais e até extremistas, mas soube usar como poucos em toda sua odisseia as redes sociais e uma linguagem simples, direta.
Para usar um clichê, Bolsonaro catalisou um sentimento e quebrou paradigmas. A começar pela opção arriscada de assumir um credo, sua religião evangélica, coisa que nenhum candidato da nossa história recente ousou. A regra do jogo sempre mandou o pretende ao Planalto evitar melindres com as demais religiões e preferir o politicamente correto. O ‘capitão’ implodiu também esse ‘mandamento’. Se custou o preço das críticas, também rendeu a adesão praticamente unânime do segmento evangélico.
Os dois movimentos se encontraram: o profundo desgaste do PT, agravado na leitura arrogante de suas lideranças de que tinham o domínio das classes pobres e da intelectualidade brasileira e o feeling de Bolsonaro, um agente político de longa carreira, mas que não se deixou ser abatido e nem arranhado pelo Mensalão e Petrolão, diferencial que lhe credenciou, paradoxalmente, como representante da “nova política”.
Chocou sempre com suas posições contundentes, mas ontem – diante da Nação e depois de orações – assumiu o solene compromisso com a Constituição, a liberdade e o Estado de Direito.
Bolsonaro venceu e – a despeito de todos os receios e terrorismo – a democracia se mostrou de pé. Depois de 30 anos de redemocratização, um militar chega ao poder pelo voto e dentro das regras democráticas. Seus críticos – entre os quais me incluo por dever e ofício – e aqueles que sempre invocaram a democracia como contraponto aos flertes autoritários do então candidato precisam reconhecer: foi a democracia – em pleno vigor no Brasil – que o elegeu.
Que se respeite a decisão da maioria. E quem tanto exortou a necessidade do respeito à pluralidade possa conviver bem com a opção diferente registrada nas urnas.
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