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Heron Cid

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A derrota do PT, a vitória de Bolsonaro

29/10/2018 às 14h56

O título pode parecer pra lá de óbvio e sem sentido. Por trás, da obviedade o complexo processo eleitoral em que um fator retroalimentou o outro. O fracasso de um projeto e o cansaço de um modelo político viciado e pesado para o contribuinte criaram o terreno para a aparição de um fenômeno fulminante que quase ninguém foi capaz de antever ou identificar com exatidão o seu poder de multiplicação e penetração na veia do eleitor brasileiro.

Os sinais foram ignorados. Eles começaram lá em 2013. Naquelas manifestações, sem dono, sem líderes e sem propósitos claros, o Brasil já dava um sinal claro de que a paciência com a política – nos moldes e padrões nossos – já havia ultrapassado os limites.

A eleição de 2014 foi o último tape da decantada, desgastada e enfadonha polarização PT e PSDB. O que veio depois dela foi a clareza de quem projeto sucumbiu e o alternativo – encarnado por Aécio Neves – era um engodo tão amoral quanto o que governava seguidamente ao preço da compra do poder e da fraude (via corrupção) das eleições.

A derrota do PT. O antipetismo funcionou como ingrediente de sabor presente no caldeirão de 2018. O PSDB não percebeu e tentou desqualificar a figura que passou a encarnar esse sentimento. Um tiro no pé que custou o derretimento da legenda ao final do primeiro turno.

O PT errou muito na retórica. Protagonista de escândalos, se fez de vítima o tempo todo e condecorou seu líder, preso por corrupção e lavagem de dinheiro. Falseou uma candidatura sabidamente impossível e depois apresentou o verdadeiro plano. Deslizou quando demorou a enfrentar temas polêmicos, subestimou as dúvidas de uma sociedade de maioria conservadora e religiosa e decidiu falar somente para os guetos. Quando acordou para retirar pontos do programa de governo, era bem tarde.

A vitória de Bolsonaro começou quando quixotescamente saiu em caravanas pelo Brasil afora tão logo as urnas de 2014 foram encerradas. Teve faro para perceber o desapontamento brasileiro e o enfastiamento da dança das tesouras de PT e PSDB. Peitou a lógica política, não era candidato de ninguém e levava uma mensagem dura, mas que encontrava eco nas pessoas e na revolta delas.

É preciso reconhecer. Ele desafiou o ‘sistema’. Foi candidato sem apoios políticos dos partidos tradicionais, usou uma legenda sem expressão para se abrigar e cumprir as regras do jogo, não teve tempo de guia eleitoral, detinha fundo partidário irrisório, foi massivamente criticado pela imprensa pelas posições radicais e até extremistas, mas soube usar como poucos em toda sua odisseia as redes sociais e uma linguagem simples, direta.

Para usar um clichê, Bolsonaro catalisou um sentimento e quebrou paradigmas. A começar pela opção arriscada de assumir um credo, sua religião evangélica, coisa que nenhum candidato da nossa história recente ousou. A regra do jogo sempre mandou o pretende ao Planalto evitar melindres com as demais religiões e preferir o politicamente correto. O ‘capitão’ implodiu também esse ‘mandamento’. Se custou o preço das críticas, também rendeu a adesão praticamente unânime do segmento evangélico.

Os dois movimentos se encontraram: o profundo desgaste do PT, agravado na leitura arrogante de suas lideranças de que tinham o domínio das classes pobres e da intelectualidade brasileira e o feeling de Bolsonaro, um agente político de longa carreira, mas que não se deixou ser abatido e nem arranhado pelo Mensalão e Petrolão, diferencial que lhe credenciou, paradoxalmente, como representante da “nova política”.

Chocou sempre com suas posições contundentes, mas ontem – diante da Nação e depois de orações – assumiu o solene compromisso com a Constituição, a liberdade e o Estado de Direito.

Bolsonaro venceu e – a despeito de todos os receios e terrorismo – a democracia se mostrou de pé. Depois de 30 anos de redemocratização, um militar chega ao poder pelo voto e dentro das regras democráticas. Seus críticos – entre os quais me incluo por dever e ofício – e aqueles que sempre invocaram a democracia como contraponto aos flertes autoritários do então candidato precisam reconhecer: foi a democracia – em pleno vigor no Brasil – que o elegeu.

Que se respeite a decisão da maioria. E quem tanto exortou a necessidade do respeito à pluralidade possa conviver bem com a opção diferente registrada nas urnas.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Heron Cid

Heron Cid

Filho de Marizópolis, Sertão da Paraíba, jornalista desde 2007 pela UFPB, tendo enveredado na comunicação aos 13 anos de idade. Apresentador de rádio e televisão, entrevistador, articulista político, fundador e diretor do Portal MaisPB e da Rede Mais Conteúdo. No Blog, traz a análise da política nossa de cada dia e o debate dos grandes temas sociais.

Contato: [email protected]

Heron Cid

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Filho de Marizópolis, Sertão da Paraíba, jornalista desde 2007 pela UFPB, tendo enveredado na comunicação aos 13 anos de idade. Apresentador de rádio e televisão, entrevistador, articulista político, fundador e diretor do Portal MaisPB e da Rede Mais Conteúdo. No Blog, traz a análise da política nossa de cada dia e o debate dos grandes temas sociais.

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