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Francisco Cartaxo

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A emenda Castro Pinto

01/07/2019 às 09h29

Coluna de Francisco Cartaxo

Castro Pinto é nome de biblioteca pública em Cajazeiras. Homenagem do prefeito Antônio Quirino de Moura (1973-1976), que a construiu e inaugurou. Não tenho lembrança se questionaram a escolha. Antônio Quirino pode muito bem explicar as razões de sua preferência por um filho da litorânea cidade de Mamanguape.

João Pereira de Castro Pinto nasceu em 1863. Formou-se em direito no Recife, na mesma turma de Epitácio Pessoa (1886). No livro História da Faculdade de Direito do Recife, Clóvis Bevilaqua fez este registro: Representou a Paraíba no Congresso Nacional e foi seu governador sempre com grande distinção. Orador brilhante, erudição notável, figura de destaque.

Castro Pinto foi deputado estadual, deputado federal, senador da República e presidente da Paraíba (1912-1915). Sua ascensão ao governo estadual ocorreu em meio ao processo de conciliação das oligarquias que dominaram a Paraíba de 1890 até 1930. Álvaro Machado firmara-se como grande chefe, a partir do golpe que alçou o marechal Floriano Peixoto à presidência da República (1892). Em parceria com monsenhor Walfredo Leal, Álvaro dominou a política paraibana até sua morte em janeiro de 1912. A conciliação veio quando eclodiu o movimento da salvação nacional, contrário às oligarquias estaduais, sobretudo no Nordeste, com a eleição do general Dantas Barreto ao governo de Pernambuco, desalojando Rosa e Silva do poder. Na Paraíba, os chefes das oligarquias fizeram um acordo que resultou na eleição do então senador, Castro Pinto, para governador. Por isso, e dada a ligação de Epitácio com o presidente da República, general Hermes da Fonseca, o salvacionismo não obteve apoio na Paraíba para a candidatura do coronel Rego Barros.

Castro Pinto governou sob tensão.

Nos 40 anos da Primeira República, afora o atípico governo do presidente João Pessoa, talvez tenha sido a mais complicada, politicamente. O acordo de 1911 não durou sequer o quatriênio (1912-1915), cheio de permanente desconfiança entre as facções. Água e azeite não se unem. Então, os dois grupos oligárquicos foram para o confronto nas eleições de janeiro de 1915. Justo aí, cresceu para a história a figura de Castro Pinto, que se comportou como magistrado. Veja só, em tempo de eleição a bico de pena e atas falsas, ele presidiu a eleição sem pender para os condores (epitacistas) ou os bacuraus, (walfredistas).

Foi esse o último gesto político de Castro Pinto.

Advogado, intelectual, erudito, ele estimulou um clima favorável às letras e às artes na Paraíba. Fundou a primeira biblioteca e divulgou autores locais. Encerrado o longo processo eleitoral, com a vitória da chapa do grupo de Epitácio Pessoa, Castro Pinto se licencia e, em seguida, renuncia ao mandato de presidente do estado. Viaja para o Rio e aguarda um emprego vitalício federal. Para isso, foi necessário criar um cargo específico para ele. O senador Pedro da Cunha Pedrosa apresentou emenda a um projeto de lei, em tramitação no Senado, criando um cargo de Distribuidor para servir de distribuição dos papéis e documentos entre os dois Ofícios do respectivo Registro.

O presidente Venceslau Brás colocou o retrato na moldura. Castro Pinto, longe da política e da Paraíba, até que enfim, entregou-se à leitura dos seus bons livros, aos quais denominava como seus melhores amigos, como anotou em suas Memórias o senador Cunha Pedrosa. Castro Pinto morreu em 1944, 30 anos antes de ser nome de biblioteca em Cajazeiras!

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

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Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

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