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Abraão Vitoriano

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A expectativa de não criar expectativa

29/11/2015 às 18h36

O celular toca e você sai correndo pelos cantos da casa, derrubando móveis, abrindo a bolsa e jogando os pertences no chão, tudo porque acredita ser a ligação da pessoa com quem você ficou ontem, a mesma que anotou seu número numa guardanapo de papel? Você se decepciona amargamente com amigos e gente próxima por esperar deles uma retribuição à altura do que faz para deixar tudo a contento e todo mundo feliz? Você vai duas semanas seguidas para a academia, toma aquele suplemento e shake caríssimos; mas, ainda assim, percebe que nada mudou? Lamento informar: você sofre da síndrome de criar expectativas. 

Calma, não se apavore, até os sujeitos mais tranquilos, alguma vez na vida passaram por algo assim. Quem sabe, seja este um dos motivos deles simplesmente desencanarem um pouco e esperarem o fluxo acontecer. Chega mais perto, cá entre nós, vejo que você não dispõe de muito tempo e paciência, certo? Errado. Apesar dos avanços da ciência, não se tem um remédio de maior eficiência que a serenidade, capaz de reavaliar as ações e ajudar a lidar de um modo construtivo com os resultados, mesmo aqueles indesejáveis.  

Para alcançar a serenidade, porém, necessitará de doses iniciais do “se sentir ridículo”. Ocorre, mais ou menos, assim: você fantasia um fato, como imaginar que o cara com quem você está namorando será seu marido, o homem com quem protagonizará uma cena de família feliz estilo comercial da Qualy? Para e pense, quantas vezes isto será possível? A princípio, sua mesa da madeira – herança da mamãe – não abriga metade daqueles alimentos – e você geralmente faz dietas, lembra? Depois, você não acorda dadivosa, levanta à força e com marcas de lençol na cara; seu namorado não sabe fritar um ovo, imagine preparar um jantar? Só mais um adendo: você tem intolerância à lactose e não pode comer margarina. Curtiu se sentir grotesca? 

Tudo bem, admito que exagerei um pouco, fui contrário à expectativa que você arquitetou, mas não prometi ser responsável por aquilo que tu cativas, pior: nem disse que se chegasse às quatro horas desde as três estaria te esperando. Idealizações à parte, não faça das esperas, esperas vãs. Esqueça o que disse, seja você mesmo o remédio, a realização, o salvador da própria pátria. Viva, sonhe, se distraia, permita com que a energia de viver ancore o ser. O imprevisto e imprevisível podem abrigar muito além que o plano cartesiano das expectativas.  Assim como canta Zélia Ducan: “se você não se distrai, a estrela não cai”. Nada acontece exatamente como pensamos, quiçá o Amor. 
 

Abraão Vitoriano

Abraão Vitoriano

Formado em Letras e Pedagogia. Pós-graduado em Educação. Escritor. Poeta. Revisor de textos. Professor na Faculdade São Francisco da Paraíba e na Escola M. E. I. E. F Augusto Bernadino de Sousa.

Contato: [email protected]

Abraão Vitoriano

Abraão Vitoriano

Formado em Letras e Pedagogia. Pós-graduado em Educação. Escritor. Poeta. Revisor de textos. Professor na Faculdade São Francisco da Paraíba e na Escola M. E. I. E. F Augusto Bernadino de Sousa.

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