A fórceps
Foi um dia duplamente histórico. Pelo acirramento do resultado da disputa hercúlea entre os deputados Adriano Galdino e Ricardo Marcelo e pelos inusitados episódios que circundaram um pleito de colegiado restrito, mas nem por isso blindado das registradas agressões, violações, bate-boca e muito tensionamento.
Era uma crônica esperada. Cada qual, trabalhou nos bastidores intensamente para vencer essa batalha. Adriano Galdino usou a estratégia da exposição. Fez questão de atravessar o processo apresentando publicamente quem seriam seus votos, uma forma de amarrar compromisso.
Ricardo Marcelo, apesar do silêncio, era candidato desde o começo. Agiu como sempre, com a conhecida cautela peculiar ao seu estilo recatado e reservado. Até o último instante, apostou no voto surpresa e no fator secreto da eleição, um convite sedutor às traições no parlamento.
Ainda conseguiu conquistar dois da lista de Adriano Galdino, protegidos pelo manto do sigilo da votação, mas não foi o suficiente. Um voto o separou do empate que lhe daria vitória pelo critério da idade superior ao concorrente. A derrota, entretanto, não tira o legado de sua gestão marcada por avanços administrativos e institucionais e pela postura de independência, coisa que há muito não se via.
Para Adriano Galdino, uma vitória suada. Só de sessão, foram praticamente nove horas de espera, jogo de cintura e muita paciência. Antes, suou para conseguir maioria. Começou a vencer quando teve o desprendimento de abdicar de cara da reeleição e fechar apoio à chapa sucessora, primando pela alternância de poder.
Nos últimos dias, diante dos rumores e ameaças de defecções, Galdino – mesmo ajudado logisticamente pelo governo – precisou de todo o estoque de nervos para não colocar tudo a perder. Apagou incêndios, manteve a serenidade e acreditou na palavra dos colegas. O filho humilde de Pocinhos chega com méritos.
Réu… – Com a vitória do seu grupo, o deputado Tião Gomes (PSL) não deve sofrer qualquer sanção pelo lamentável ato, público e flagrado, de quebra de decoro parlamentar.
…Confesso – Para impedir o processo de votação eletrônico, conforme prevê o Regimento, Tião usou a força. Danificou o sistema e ainda ironizou: “Eu fui um herói”. Coisas da Paraíba.
Fim da batalha – “Foi um processo difícil, doloroso e complicado. A Paraíba tem pela primeira vez um presidente da Assembleia genuinamente filho do povo”, comemorou Galdino, visivelmente emocionado, tão logo assumiu a cadeira de presidente, após o proclamado resultado de sua vitória por 19 votos contra 17 de Ricardo Marcelo.
Tranquilo – Eleito para o segundo biênio, o deputado Gervásio Filho (PMDB) não teme a anunciada ação do deputado Renato Gadelha (PSC) contra a antecipação do pleito.
Reprise – “Não foi a primeira vez que antecipamos, é a quarta vez.”, registrou Gervásio, votado pelos seus colegas de PMDB, Trócolli Júnior e Raniery Paulino, eleitores de Marcelo.
Estupro – “Esse poder não pode ser violado da forma que foi”, bradou Gadelha, revoltado com o ataque desvairado de Tião Gomes ao sistema eletrônico e a antecipação do pleito.
Afinadas – As deputadas Camila Toscano (PSDB), novata, e Daniella Ribeiro (PP) sentaram lado a lado durante toda a primeira tumultuada sessão. Foram com vestidos de cores parecidas.
Lanche – Durante o longo intervalo, gerado pelo impasse da dúvida entre voto eletrônico e voto em cédula, deputados recorreram a biscoitos para saciar a fome do adiantado da hora.
No braço – Dono de quase dois metros de altura, o deputado Jeová Campos (PSB) justificou o confronto físico com um segurança da Casa. “Saí em defesa de Gervasinho”.
Filosofia – “A força não pode vencer o pensamento”, criticou o deputado Bruno Cunha Lima (PSDB), lamentando os episódios de confronto registrados na Assembleia.
Penetra – À exceção dos deputados, só uma paraibana conseguiu entrar no plenário da Câmara Federal, na posse ontem: Maria Doida. Só faltou ser chamada de vossa excelência.
Degustação – O governador Ricardo Coutinho terá um sabor especial hoje na leitura da mensagem ao Poder Legislativo. Pela primeira vez, estará no ambiente sob comando de um aliado.
Judas – Superadas todas as turbulências, entre os vencedores da eleição de ontem na Assembleia agora comenta-se apenas uma coisa: os dois votos que, secretamente, traíram Galdino.
PINGO QUENTE – “Basta verificar os semblantes dos traidores”. Do suplente de deputado Hervázio Bezerra (PSB), afirmando conhecer a identidade das duas traições de votos que assinaram a lista de Adriano.
*Reprodução do Jornal Correio da Paraíba.
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