A morena contra a loura
Higino Rolim Neto é leitor exigente. Costuma reclamar, via internet, de texto que não lhe agrada. Semana passada, criticou meus cavacos: você agora só fala de política. É verdade. Tenho dedicado tempo e espaço a temas relacionados com o pleito, em particular, o de Cajazeiras. O clima exige.
Aposentado do Banco do Brasil, escritor, pai, avô e bisavô, Higino mora em Fortaleza há mais de 50 anos. Talvez por isso não lhe sensibilizem os artigos que falam das próximas eleições. Não que ele tenha ojeriza à democracia. Nada disso. Mesmo sem obrigação legal, vota com prazer e paixão. Cidadão esclarecido, Higino se liga nos fatos do dia-a-dia e tem motivo peculiar para acompanhar a vida política de Fortaleza com especial carinho: reside em prédio que fica em frente ao da prefeita Luizianne Lins, candidata a reeleição. De sua varanda ele suspira vê-la em trajes caseiros, na esperança de uma aceno de mão, o coração safenado à cata de suave emoção… Emoção de eleitor anônimo, é claro. E mais que isso, de apaixonado defensor da loura corajosa que enfrentou quase sozinha, quatro anos atrás, até mesmo a cúpula de seu partido, o PT, incluindo o presidente Lula, que ao final teve de curvar-se à vontade popular inclinada para Luizianne.
Agora, a briga em Fortaleza é outra. Cúpula e base estão unidas em torno dela, porém, velhos caciques, outrora travestidos de renovadores, unem-se para derrubar a menina ousada que os desalojou do poder, carregada pela intuição do povo fortalezense. Para enfrentá-la foram buscar a senadora Patrícia Saboia, morena de raiz sobralense, fruto rebelde de uma das mais poderosas oligarquias cearenses. Rebeldia que a levou à militância comunista em tempos de estudantes, se não me trai a memória.
O sentimento dominante a dois meses da eleição em Fortaleza é o de que a luta se trava entre duas mulheres. A loura e a morena. O policial-deputado, Moroni Torgan, perdeu o bonde da história, na medida em que seu discurso contra a violência esgarçou-se com ações policiais adotadas pelo jovem governador do PSB, Cid Gomes, sobretudo, a criação do Ronda, a polícia motorizada que esquadrinha os quarteirões, criando laços com a comunidade. Nos quatro dias que passei no Ceará ouvi muitos elogios às peruas de luxo em circulação pelas ruas e praças da Região Metropolitana de Fortaleza, o 190 estampado na lataria e o número do celular dos policiais do Ronda entregue de prédio em prédio, de casa em casa, na área de atuação de cada viatura. Um sucesso contra a violência na boca do povo. Até agora.
Da varanda de seu apartamento, Higino contempla as luzes acesas no tugúrio da prefeita que ele vai ajudar a eleger de novo. Com seu voto e sua torcida. Por isso, penso que ele voltará a ler minhas crônicas acerca da eleição de nossa terra. Crônicas escritas com amor, sem paixão, na esperança de ver Cajazeiras melhor, a partir de janeiro de 2009.
P S – E as entrevistas na Câmara Municipal? Meu Deus, que despreparo…
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