A orfandade política e a patrulha ideológica

Parece que não fazemos mais revolucionários como antigamente. Não precisamos de heróis, é certo, mas uma boa lembrança de algumas figuras da política contemporânea brasileira poderia servir para ilustrar a acefalia da esquerda e o crescimento idiotizante da direita brasileira.

Ainda uso a terminologia direita / esquerda para não falar em capitalismo contra socialismo, ausentes nos projetos políticos dos dois candidatos a presidência do Brasil. O nosso capitalismo parece ser o mais selvagem, porque permite a maior desigualdade de renda do mundo. E o nosso socialismo parece muito compenetrado em deixar os juros bancários tão altos que os verdadeiros beneficiários desta política do antigo PT socialista são os banqueiros, as empreiteiras e os megaempresários. Os mesmos que apostam num ou noutro candidato, já que apóiam os dois.

Volto aos heróis que não morreram de overdose. Não vai aí nenhuma menção ao Aécio, porque eu não sei se ele é do ramo, embora, a boca miúda, se comente que sim. Falo dos que conheci pessoalmente. Para não parecer um artigo não citarei Marx, Engels ou os neomarxistas da Escola de Frankfurt. Esses, para alguns pseudointelectuais brasileiros, têm resposta para tudo, explicam todos os problemas e dão as soluções mais ontológicas. Como diria Oswaldo de Andrade: o Brasil não precisa de ontologia, mas de odontologia. Recupero então os homens admiráveis que conheci ainda como jovem estudante de Letras da UFC, em Fortaleza. Lá estive ao lado de Luís Carlos Prestes, que imaginava um homenzarrão e não passava de um baixinho invocado que atravessou o Brasil, mandando um recado para o povo brasileiro.

“Essa política não nos representa”. O velho comunista foi tão importante que os filiados do PCB se tornaram prestistas e não apenas comunistas. Conheci também João Amazonas, do PC do B, outra liderança dos que abraçaram o stalinismo. Assisti palestras com o Nélson Werneck Sodré, Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Antonio Candido.

Estive com Brizola no Rio e me emocionei com a história da sua fuga da ditadura, para o Uruguai. Com o Lula foram quatro vezes, com direito a segurar o gravador de mão em uma das ocasiões em que discursava, em Barbalha-CE, para um público encantado com o trabalhador que se tornou presidente. Conheci e participei de eventos com grandes escritores, Jorge Amado, Adélia Prado, Ferreira Gular, Chico Buarque (esse até entrevistei junto com o amigo Rinaldo de Fernandes), Patativa do Assaré, que também entrevistei, antes de sua morte, dentre tantos outros. Essa bagagem não pode sair de mim. Orgulho-me e sei que a minha geração de estudantes, numa cidade efervescente como Fortaleza, que proporcionou muito conhecimento cultural, político e consolidou muitas ideias que hoje são fundamentais para o nosso referencial de Liberdade.

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Gildemar Pontes

Escritor e Poeta. Ensaísta e Professor de Literatura da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, em Cajazeiras. Graduado em Letras pela UFC, Mestre em Letras UERN. Doutorando em Letras UERN. Editor da Revista Acauã e do Selo Acauã. Tem 22 livros publicados e oito cordéis.

É traduzido para o espanhol e publicado em Cuba nas Revistas Bohemia e Antenas. Vencedor de Prêmios Literários locais e nacionais. Foi indicado para o Prêmio Portugal Telecom, 2005, o principal prêmio literário em Língua Portuguesa no mundo. Ministra Cursos, Palestras, Oficinas, Comunicações em Eventos nacionais e internacionais. Faixa Preta de Karate Shotokan 3º Dan.

Contato: [email protected]