A Sociedade do Espetáculo e a Beleza
Nos dias atuais, na sociedade do espetáculo, as pessoas são constantemente induzidas a exporem suas vidas sem que para isso seja necessário estabelecem critério de tempo lugar. A sacralidade e a dignidade das pessoas são valores que estão sendo cada dia mais arrastados ao calabouço da indiferença e da profanação. Nos dias de hoje, mostrar-se sem inibição parece ser argumento de maturidade ou no mínimo, certeza de ascensão midiática.
De acordo com as palavras do filósofo Feuerbach: “Nosso tempo, sem dúvida… prefere a imagem à coisa, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência ao ser… O que é sagrado para ele, não passa de ilusão, pois a verdade está no profano. Ou seja, à medida que decresce a verdade a ilusão aumenta, e o sagrado cresce a seus olhos de forma que o cúmulo da ilusão é também o cúmulo do sagrado”
Segundo o escritor francês Guy Debord «o que aparece é bom, o que é bom aparece». Numa sociedade onde é super valorizado a aparência em detrimento das qualificações morais, os critérios estabelecidos para “ser bom” não são tão confiáveis. Na sociedade do espetáculo tudo deve estar sempre á mostra. Numa constante iminência de profanação.
Ledo engano. A verdadeira beleza é escondida aos olhos daqueles afeitos a feiúras catalogadas, nomeadas ou até mesmo pirateadas. É próprio da beleza esconder-se, para provocar a necessidade da busca naqueles querem e não se acostumaram com as imagens construídas por mãos estranhas. A beleza exige originalidade. Parece contraditório, mas a Beleza, ela tanto mais se revela quanto mais se esconde.
Percebemos na vida e nas atitudes de Jesus – Beleza inconfundível – esta dinâmica: Esconder-se para revelar-. Ele se esconde não como um negligencia de si mesmo ou por uma recusa de sua identidade. Esconde-se para que pela sua aparente “ausência” fique evidente a profunda ausência existencial do homem, que sendo incompleto, tem nele a sua completude eterna. Jesus – a beleza – esconder-se para revelar.
Jesus, o homem que sempre viveu na contramão do mundo. Insistentemente sempre deixou claro, que estava, mas não era deste mundo. Ao mundo do espetáculo e da fanfarronice, Ele estabeleceu: “entra no teu quarto… e o Deus que vê o que está oculto te escutará”. Jesus era um homem coerente, jamais ele daria um conselho sem antes ele mesmo ter experimentado. Por experiência própria ele sabia que o Pai conseguia enxergar a beleza que temporariamente estava escondida, para num momento oportuno revelar-se.
Quantos homens e mulheres, que para assemelharem-se ainda mais com este Cristo escondido e silencioso, travam no silêncio de seus cotidianos, violentas e sangrentas lutas de superação de problemas, limites e pecados. Homens e mulheres que escondem sua beleza do mundo e a depositam naquele que vê o está escondido.
São estes os grandes santos e santos dos nossos tempos. Não buscando o recurso do espetáculo como afirmação da aparência ou do fantástico como sinalizante do estéreo, fazem a opção pelo escondido fecundo e pelo silêncio que santifica o mundo. Preferem a beleza que se esconde a feiúra que se emancipa e se estabelece como critério de sucesso ou ascensão. Recusam as luzes das aprovações humanas e escolhem a sombra aconchegante da Cruz. Homens e mulheres do escondimento e do silêncio que fecunda perspectivas, esperanças, santidade.
No mundo realmente invertido, o verdadeiro é um momento do falso. […] o espetáculo é a afirmação da aparência e a afirmação de toda a vida humana, socialmente falando, como simples aparência. (A Sociedade do Espetáculo – Guy Debord)
Para saber mais
DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo: comentários sobre a sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.
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