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Edivan Rodrigues

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A última guerrilha

15/07/2008 às 10h02

Restam poucas guerrilhas na América Latina. A maioria nasceu em reação às ditaduras instaladas no continente. Grupos de esquerda foram para matas e serras de armas nas mãos na esperança de seguir a trilha aberta em Cuba por Fidel Castro. Assim foi, em 1964, com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), comandadas por Pedro Antônio Marin, conhecido como Manuel Marulanda, de apelido Tirofijo (Tiro Certeiro). Muito antes, em 1948, o assassinato de Jorge Gaitán abalou a Colômbia. Advogado de formação acadêmica, parlamentar de largo prestígio, querido e popular, Gaitán foi morto a tiros à luz do dia, em pleno centro de Bogotá, às vésperas de concorrer à presidência da República. A frustração do povo transformou Bogotá num inferno, descrito por García Márquez, sem faltar sequer o macabro linchamento do assassino enquanto era carregado nos ombros de populares.

Essa tragédia virou símbolo das barreiras interpostas à mudança não violenta do sistema de partidos políticos diferenciados apenas pelos nomes (Liberal e Conservador), que revezavam no poder facções oligárquicas. Gaitán foi a última esperança democrática de reverter esse quadro. Aí está a raiz da criação das FARC e de outros movimentos que buscavam o poder pela via armada na Colômbia. Outros países viveram situações reais semelhantes, com deposição, assassinatos e suicídios de presidentes eleitos pelo povo.

Marulanda morreu no início deste ano, velho e com câncer. Antes, porém, a guerrilha já tombara como opção para desalojar a oligarquia. Envelhecera. Fidel Castro a desestimula há décadas. Mudou a geopolítica mundial. O ciclo democrático abriu perspectivas de alterar a correlação de forças nas Américas, a ponto de a América do Sul e o Caribe deixarem de ser o quintal do império. Há exceções, sendo a Colômbia a mais saliente. Núcleos guerrilheiros subsistem aqui e ali. Por quê? Impossibilitados de voltarem à vida normal e sem chances de vitória armada apenas sobrevivem.

Resta aos remanescentes da luta armada a alternativa da negociação política, as FARC em desvantagem, sobretudo depois da libertação de Ingrid Betancourt e outros 14 reféns. A busca de saída honrosa, intermediada por Hugo Chávez, esbarrou em obstáculos internos à própria guerrilha, ao que tudo indica, e na estratégia de Álvaro Uribe, assessorado pelos Estados Unidos. Agora, ele deve negociar em posição de força com uma guerrilha esgarçada, corrompida pela ligação com o narcotráfico, há muito tempo. E caduca historicamente. A última guerrilha se esvai. Trafega na contramão, numa época que exige novos caminhos. Longe das selvas e das serras. E junto da população.

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

Contato: [email protected]

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

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