A verdade é unívoca
Inúmeros podem ser nossos motivos, intenções ou até mesmo argumentos sobre as mais diversas realidades e temas. Profundas podem ser nossas teorias, aporias ou alegorias sobre alguém, sobre coisas ou sobre nada. O homem sente necessidade de explicação e de explicar-se. O homem sente necessidade da revelação e do revelar-se. Somos seres que não ficamos satisfeitos com a explicação trivial, banal, superficial.
Queremos sim, a explicação completa, exata, conclusa, sem máscaras. No fundo buscamos a verdade. A mentira não nos completa, não nos satisfaz e muito menos nos realiza. A verdade se revela como uma complementaridade daquilo que somos. Poderíamos dizer que a verdade é a nossa outra metade, e enquanto não a encontramos, vivemos como seres catatônicos, alheios á toda realidade exterior, alheios á nós mesmos. Estamos vivos, mas sem vida. Temos necessidade da verdade como temos necessidade de dormir, de tomar água, de respirar. A necessidade da verdade faz parte de nossa natureza humana.
Quando conversamos com alguém ou lemos um jornal, temos a impressão que alguém está dizendo algo sobre nós. Mas que verdade é esta que desconhecemos? Quando assistimos á televisão ou ouvimos um rádio temos a ligeira impressão que estejam passando para nós uma mensagem. Mas que mensagem é essa? O que nela, nos diz respeito? Enquanto ouvimos ou assistimos os guias eleitorais ou ouvimos algum candidato “discursar”: Temos a impressão que o que ele fala diz respeito a nós, ao meu dia-a-dia, á minha vida profissional, estudantil, afetiva, religiosa. Mas, que verdades são essas que muitas vezes se perdem na multiplicidade e na fragmentação das coisas? Que verdades seriam essas, que se escondem nas dobras dos acontecimentos cotidianos e que nos parece tão difícil de decifrar? O que é múltiplo nos confunde e aterroriza.
A multiplicidade nos perturba e nos dispersa. Penso que a mentira é a mãe da multiplicidade, da fragmentação e da angústia. Quando mentimos sobre algo ou sobre alguém, em última análise, estamos fragmentando e por conseguencia dispersando o Outro. Pelo contrário, a verdade tem poder agregador, unitário, salvífico. Por isso, que certa vez Jesus disse que a verdade liberta. Ela nos liberta de toda e qualquer tentativa de multiplicidade, coisificação. Nos liberta do perigo de nos sentirmos “todos”, “iguais”, “multidão”, “Povo”. A verdade de Jesus sobre nós, tem o poder de nos tornar “distintos”, “Pessoais”, “diferentes”, “Discipulos e amigos”. Esta é a Verdade, que ao contrário da mentira, nos torna singulares e únicos.
O desejo e a busca pela verdade é o sinal claro da nossa unicidade antropo-teológica. Somos homens criados para a verdade. A nossa causa existencial-antropológica é em vista da verdade. Vai-nos dizer o Papa Paulo VI em sua declaração Dignitatis Humanae que "é postulado da própria dignidade que os homens todos, por serem pessoas se sintam por natureza impelidos e moralmente obrigados a procurar a verdade."
Como afirmamos acima, a mentira é geradora da multiplicidade e da fragmentação ontólogica e/ou antropológica. A mentira tem como que o poder de roubar de nós o que nós temos de melhor: Nós mesmos. A mentira nos torna prisioneiros dos outros e de nós mesmos. Quando mentimos, agimos como traficantes da verdade alheia, que a troco de valores iníquos, comercializamos com os primeiros interessados. A verdade, ao contrário, devolve ao Outro o que lhe é devido. A verdade implica a discrição e a solicitude.
“Com toda a justiça, um homem deve honestamente a outro a manifestação da verdade.” (Santo Tomás de Aquino)
Para saber Mais
CONCILIO ECUMÉNICO VATICANO II, Declaração Dignitatis humanae, 2008
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