Ainda há salvação para esse país?
Por Abraão Vitoriano
Começo o meu dia assistindo a um vídeo de Ana Paula Valadão. A cantora exagera num tom fofinho para rebater críticas em relação ao seu posicionamento contrário à campanha da C&A: “misture, ouse e divirta-se” – na qual casais“heterossexuais” trocam de roupa. No vídeo, Ana Paula manifesta sua piedade para com seus inimigos, manifestação implicitamente recoberta de preconceitos.
Entro na van e o motorista puxa o assunto sobre política. Ele defende a extinção do ministério da cultura, argumenta que tem muito dinheiro sendo mal empregado, está na hora de cortar! Quase tenho um infarto, mas decido desenhar a importância da cultura para a construção de uma sociedade. De uma vez por todas, não existiríamos sem nossos artistas: cantores, pintores, escritores, artesãos cujo ofício delineia a arte de nos fazer história. Mas o condutor desejou não compreender, pior, fez questão de sair com um discurso clichê de puro reducionismo: arte não é coisa de homem nem dá dinheiro.
Ao descer do carro e caminhar pela avenida dou de cara, para o meu profundo desgosto, com a seguinte pichação: Bolsonaro para Presidente em 2018. Naquele momento, tive duas tromboses seguidas. Meu Deus, a que ponto chegamos? Quem errou na educação dessa geração retrógrada e substancialmente dotada de hipocrisias? Qual ordem querem reinstalar? O neonazimo? Alô, marte, estou chegando! Impossível conviver com opiniões tão radicais.
O pão com ovo que comi deu um nó nas tripas.
Para minha sorte, peguei a moto e corri para ver a palestra de Marcia Tiburi, filósofa e professora da UFRJ. Na sua fantástica exposição, ela situou temas da atualidade, a citar: “como conversar com um fascista?”. Para a intelectual, o fascista possui uma imensa dificuldade em acessar seus sentimentos, em sentir a vida. Na realidade, ele não aceita nada que não esteja relacionado diretamente chavões e torpes verdades. Por isto, a lógica da superioridade e a ideia de ser sempre confrontado. Neste cenário, a sexualidade do outro muito o incomoda. Marcia discorreu sobre outros temas também. Aludiu a ideia que a inteligência manifesta abertura ao outro e um espírito livre e curioso. De outro modo, vem a ser um tanto difícil perfurar o muro de concepções extremadas e conversar com uma pessoa de personalidade autoritária.
Ah, mas nem Marcia Tiburi nem eu sabíamos que o ministro Mendonça Filho receberia hoje uma visita solene de Alexandre Frota para discutir propostas para a educação. Corri para o banheiro, vomitei, estou a chorar até agora.
Ainda há salvação para esse país?
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