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Cristina Moura

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As próximas tantas outras tintas

17/12/2020 às 16h18 • atualizado em 18/12/2020 às 19h38

Coluna de Cristina Moura

Por Cristina Moura

Ao revisitar as telas que pintei, vejo o quanto de narrativas brotam. Falo isso, principalmente, quando lembro do tema natureza. Sim. É um dos meus preferidos. Foram muitas as telas, que tento catalogar, em galerias virtuais, para facilitar a divulgação.

Eu teimava em pintar somente telas pequenas, como se fossem mimos, itens para presente, algo assim. Cartões pintados em armações de madeira, em dez por dez centímetros. Às vezes, dez por doze; doze por doze; quinze por quinze. Veja só, querido leitor, como o número, por extenso, cria outra armadura. Avisa: não estou algarismos, mas letras. Estende-se na frase, como um lagarto faminto de sentidos.

Alguns amigos me aconselharam a tentar pintar em telas maiores. Quarenta por quarenta; sessenta por oitenta; trinta por setenta. Pronto. Consegui. Mas ficou aquela saudade das menores. Elas guardam, realmente, uma proposta diferente para quem olha de longe. Ao reorganizar algumas grandes e pequenas com o tema floresta, mergulhei em contos, crônicas, poemas, reportagens, cartas. Coisas minhas que compartilho, quando decido expor os trabalhos. Quando a tela sai dos meus domínios físicos, continua com minha assinatura e autoria. E autoria é tão mais que intelecto: beira o invisível, o divinizado, a essência da respiração.

Claro e bem claro está que fui e sou influenciada por quem está na estrada faz tempo e se instalou no meu repertório cultural. Os grandes mestres da pintura todos são reverenciados e me ensinam todos os dias. Meu pontilhismo, ou seja, a técnica do pontilhismo que utilizo, é uma espécie de catarse, pois tudo é pintado em certa velocidade, um pouco rápido; por outro lado, é razão, análise, intenção. Quando pinto a base de uma cor qualquer, para que a próxima tinta e as próximas tantas outras tintas fixem com mais intensidade, espero uma inspiração para compreender de que maneira começo o cenário, a paisagem, o personagem.

Nas minhas florestas, os personagens são os animais que ali moram e se esconderam na pintura. Quando me perguntaram se eu copiava de algum lugar, eu respondi que sim, copio de um lugar abrigado na minha memória. Copio de mim mesma, de mim para mim, comigo mesma, em cada tela. Copio sabendo que não sou capaz de copiar de maneira fidedigna. Bom, e se não reproduzo igual, significa que sou gente, que falho, que erro. Nesse caso, nem me preocupo se é cópia das minhas lembranças.

Engraçado como entra o lado racional: uso o preto ou o cinza ou o marrom, pois algo tem que ser escuro para que o claro seja percebido. Em determinado momento, é hora de finalizar. Que tortura. Não é fácil perceber que a pintura foi concluída. Demoro alguns dias, depois de observar e observar o quadro, para entender que o trabalho terminou por ali. Assino. Agradeço.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Cristina Moura

Cristina Moura

Jornalista e Professora cajazeirense, radicada no estado do Espírito Santo.

Contato: [email protected]

Cristina Moura

Cristina Moura

Jornalista e Professora cajazeirense, radicada no estado do Espírito Santo.

Contato: [email protected]

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