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Edivan Rodrigues

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Capricho do poeta

21/11/2008 às 20h43

Constantino Cartaxo é um poeta cheio de manias. Cuidadoso, capricha na métrica e na rima de seus versos, enquadra-os no figurino técnico. Mantém caprichos que nem ele sabe as razões. Alguns não têm lógica nenhuma para nós simples mortais. Quer um exemplo? Ao completar 70 anos, a lei dispensa o eleitor da obrigação de votar. Dessa idade em diante, ele vota se quiser. Pois bem, quando Tantino chegou aos setenta, disse que não votaria mais. Espalhou o propósito aos quatros ventos de Cajazeiras, com seu jeito irreverente, às vezes, brincalhão, a gente pensando que era mais uma de suas travessuras. Engano. Era sério. Virou capricho. Poucos dias antes da eleição de 5 de outubro, houve quem o provocasse.

— Ora, Tantino, deixe de onda, você vive louco que Léo vença a eleição e fica com essa conversa mole de que não vai votar… eu vou fotografar você na cabine, só para lhe desmoralizar.

De tanto torcer, Tantino começou a apostar que Léo ganharia. Muitos testemunharam: Raimundo Faustino, Chiquinho de Moisés, Antônio de Hozana, Francisquim, do Pirolito, Tico Miudeza, Hilário, Ivan, do Supermercado Melo e outros amigos. Como é que o sujeito aposta na vitória de um candidato, casa dinheiro e um relógio, e no dia da eleição nem comparece para votar? Escutei esse argumento inúmeras vezes. De fato, isso não faz sentido. No entanto, Tantino disse e cumpriu. Mais um capricho do poeta. Correu o risco de perder grana e um relógio de estimação, mas no dia cinco de outubro nem sequer passou em frente ao local de votação, com medo de ser fotografado por J. França… Capricho puro ou a certeza da vitória de Léo Abreu, independente de seu voto. Justo no dia da eleição, alguns amigos e parentes, convictos de que Marinho ganharia com mais de 2.000 votos de diferença, debocharam do poeta.
— Tantino, os eleitores de Léo são como você e seu irmão, você não vai votar e Frassales mora no Recife.

E, em meio a gargalhadas, até o convidaram para a festa que já estava preparada, com uísque, cachaça, cerveja, refrigerante e um cento de coco verde. Tudo pronto para realizar um desfile pelas ruas em regozijo por mais quatro anos no poder. Falavam e riam na maior camaradagem, enquanto os eleitores compareciam às urnas na confirmação da mudança. Menos o poeta Tantino. Só por capricho.

Esta semana, Tantino e eu recordamos esses episódios, sentados à sombra das cajazeiras em flor, na praça Cristiano Cartaxo, com os olhos postos na mureta (quebrada) de proteção da ponte sobre o canal do sangradouro do Açude Grande, na esperança de que o vereador eleito, Marcos do Riacho do Meio, assuma a Secretaria de Infra-estrutura para consertá-la. Antes do inverno, é claro. Pensando nisso e nas apostas embolsadas, Tantino suspirou: É, mano, ri melhor quem ri por último. E foi abrir outro uísque. Por conta da aposta…

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

Contato: [email protected]

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

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