Capricho do poeta
Constantino Cartaxo é um poeta cheio de manias. Cuidadoso, capricha na métrica e na rima de seus versos, enquadra-os no figurino técnico. Mantém caprichos que nem ele sabe as razões. Alguns não têm lógica nenhuma para nós simples mortais. Quer um exemplo? Ao completar 70 anos, a lei dispensa o eleitor da obrigação de votar. Dessa idade em diante, ele vota se quiser. Pois bem, quando Tantino chegou aos setenta, disse que não votaria mais. Espalhou o propósito aos quatros ventos de Cajazeiras, com seu jeito irreverente, às vezes, brincalhão, a gente pensando que era mais uma de suas travessuras. Engano. Era sério. Virou capricho. Poucos dias antes da eleição de 5 de outubro, houve quem o provocasse.
— Ora, Tantino, deixe de onda, você vive louco que Léo vença a eleição e fica com essa conversa mole de que não vai votar… eu vou fotografar você na cabine, só para lhe desmoralizar.
De tanto torcer, Tantino começou a apostar que Léo ganharia. Muitos testemunharam: Raimundo Faustino, Chiquinho de Moisés, Antônio de Hozana, Francisquim, do Pirolito, Tico Miudeza, Hilário, Ivan, do Supermercado Melo e outros amigos. Como é que o sujeito aposta na vitória de um candidato, casa dinheiro e um relógio, e no dia da eleição nem comparece para votar? Escutei esse argumento inúmeras vezes. De fato, isso não faz sentido. No entanto, Tantino disse e cumpriu. Mais um capricho do poeta. Correu o risco de perder grana e um relógio de estimação, mas no dia cinco de outubro nem sequer passou em frente ao local de votação, com medo de ser fotografado por J. França… Capricho puro ou a certeza da vitória de Léo Abreu, independente de seu voto. Justo no dia da eleição, alguns amigos e parentes, convictos de que Marinho ganharia com mais de 2.000 votos de diferença, debocharam do poeta.
— Tantino, os eleitores de Léo são como você e seu irmão, você não vai votar e Frassales mora no Recife.
E, em meio a gargalhadas, até o convidaram para a festa que já estava preparada, com uísque, cachaça, cerveja, refrigerante e um cento de coco verde. Tudo pronto para realizar um desfile pelas ruas em regozijo por mais quatro anos no poder. Falavam e riam na maior camaradagem, enquanto os eleitores compareciam às urnas na confirmação da mudança. Menos o poeta Tantino. Só por capricho.
Esta semana, Tantino e eu recordamos esses episódios, sentados à sombra das cajazeiras em flor, na praça Cristiano Cartaxo, com os olhos postos na mureta (quebrada) de proteção da ponte sobre o canal do sangradouro do Açude Grande, na esperança de que o vereador eleito, Marcos do Riacho do Meio, assuma a Secretaria de Infra-estrutura para consertá-la. Antes do inverno, é claro. Pensando nisso e nas apostas embolsadas, Tantino suspirou: É, mano, ri melhor quem ri por último. E foi abrir outro uísque. Por conta da aposta…
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