Carlos Rafael, o homem extraordinário!
Crime e Castigo narra a história de um jovem estudante de Direito, Raskolnikov, que passa por severas dificuldades financeiras e comete um assassinato para supri-las.
Em sua obra “Crime e Castigo” o grande literato russo Fiodor Dostoievski (1821-1881) narra a história de Raskolnikov. As dualidades do personagem principal serão explicitadas ao longo de toda obra. Ao mesmo tempo em que ele se preocupa com a humanidade, ele é um tremendo egoísta. Se em alguns momentos o personagem tenta racionalizar todos os seus atos, em outros percebemos que várias de suas ações são irracionais, movidas por paixões. Em suma, Raskolnikov representa o homem como cada um de nós, o homem na realidade.
Ao levar a sério sua pretensão de cometer um homicídio, Raskolnikov leva adiante seus motivos e mata Ivanovna, uma velha usurária, e, por acaso também mata a irmã da velha, Lisavieta.
Para Raskolnikov, o homem extraordinário é aquele que, tendo em si a capacidade de produzir obras de imenso valor para a humanidade, tem o direito de burlar as leis morais. Ou mais profundo ainda, de simplesmente ignorá-las, para conseguir realizar o que pretende. O homem extraordinário não se submete às leis que governam os outros homens, pois está acima delas. O exemplo repetidamente lembrado por Raskolnikov ao longo do romance é Napoleão, que não hesitou nem um momento em cometer todos os crimes que cometeu para chegar ao poder e governar. Essa ausência de remorso, esse sentimento de poder ser imoral e, ao mesmo tempo, de que não se é imoral, pois se está acima da moralidade, é o que caracteriza o homem extraordinário.
Atualmente em Cajazeiras, vemos como muita clareza, que o jovem estudante de Direito, em muito se assemelha ao estudante de Direito da obra Crime e Castigo do pensador russo. Ambos atribuem a sí mesmo uma terrível supremacia moral. Tanto lá quanto cá, os jovens estudantes de Direito insistem em desrespeita as leis e em última análise, o Povo. Não há juíza de Direito dessa comarca, que tenha tinta na caneta suficiente, para fazer com que o jovem estudante Direito, seja um fiel discípulos dos Mestres aos ele estuda na academia. Que seja um fiel cumpridor das Leis. Carlos Rafael nesses últimos dias tem deixado bastante claro a sua postura dostoievskiana. Ele parece estar acima do bem e do mal. Será que a sua consciência consegue comportar-se assim, numa tranquilidade cadavérica? A do jovem Raskolnikov, não conseguiu.
Iremos descobrir ao longo da trama que o personagem principal cria uma teoria para efetivar sua ação: ele defendia a ideia de que alguns indivíduos tinham o direito de cometerem atos desonestos e crimes. Esses indivíduos são os “homens extraordinários”, que podem chegar ao ponto de cometerem crimes e desobedecerem às leis, já que seriam superiores a essas. Eles conseguiriam dar um salto em suas consciências. Estes homens são os que fazem a história. O grande exemplo de homem extraordinário citado pelo personagem é Napoleão Bonaparte. No entanto, a maioria dos homens são os “homens ordinários”, isto é, homens vulgares e obedientes da lei. Sofrimento e dor seriam características de suas consciências fracas.
Raskolnikov ao cometer o crime queria ter certeza de que ele também era um homem extraordinário. Desejava estar acima dos conselhos da consciência e de qualquer regulação moral e estatal. Assim como o Jovem Carlos Rafael vem tratando os servidores públicos municipais como insignificantes e irrelevantes, o Jovem Raskolnikov, também tenta se convencer de que matar uma senhora idosa não representaria nada para a humanidade, já que era velha e usurária. Da mesma forma, o Jovem estudante de Direito, Carlos Rafael julga que pode “matar” os dignos trabalhadores e trabalhadoras dessa Polis em nome de um ideal. Ideal? Que ideal? O ideal da Incoerência e do revanchismo.
No final da Obra, Raskolnikov falha em provar para si mesmo que seria um homem extraordinário, já que se arrepende de seu ato ao longo da obra. Quem sabe, o Jovem estudante de Direito, nos surpreenda e reconheça que ele não é nada de extraordinário e portanto, não está acima do bem e do mal e nem muito menos é superior á moralidade instituída. Que ao final desse rápido mandato, Carlos Rafael compreenda que não poderá ser colocado entre os homens extraordinários, pelo simples motivo de que ele sentirá culpa pelo que fez, apesar de porventura, tê-lo feito por um motivo maior. Quem sabe?
Na Obra Crime e Castigo, Ivanovna é uma personagem menor para toda trama, mas traz em si uma forte simbologia. Ela representa os seres humanos que podem ser “excluídos” pela humanidade, já que sua morte não faria diferença alguma. A proposta de Raskolnikov leva a uma dualidade perigosa onde existiram uns poucos homens excelentes e uma grande parcela de homens banais e descartáveis. É difícil encontrar alguém que não se sinta superior aos demais homens. Na verdade, pouco me importa esse sujeito. O problema é quando o Estado começa a fazer o papel de “homem extraordinário”, decidindo quem são os “homens descartáveis”, como tem ocorrido nos últimos dias na cidade que ensinou como criar “Homens Extraodinários”.
Para saber mais
DOSTOIEVSKI, F. Crime e castigo. Trad. Luiz Cláudio de Castro. Rio de Janeiro: Ediouro; São Paulo: Publifolha, 1998
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