Consciência NEGRA
Por Damião Fernandes
O que é consciência negra?
Até parece que atualmente está na moda falar sobre consciência negra, para o bem ou para o mal, todos já ouviram falar nesse tema. Aqui poderiamos fazer uma pergunta de máxima importância ontológica e histórica: Será que sabemos de fato o que é essa tal de consciência negra?
Sobre o fato histórico de que a Terra de Santa Cruz – o Brasil – foi escravista, todos estamos cansados de saber; que o negro sofreu, foi humilhado, e obrigado a negar sua identidade; incentivado a ter vergonha de si próprio, de sua história, de seu presente… Isso todos sabemos, ou pelo menos deveriamos saber.
O processo de escravidão foi massacrante e deixou marcas até hoje, pois mesmo depois da falsa abolição o racismo permaneceu detonando nossas condições de vida, fechando portas, nos exterminando. O racismo no Brasil é degretativo e dissimulado, que muitas vezes se reveste de uma falsa nobreza que difilmente identificamos suas atução. Utiliza-se da política, da cultura, da religião, da mídia,das Cotas raciais e aí por diante. O racismo está por aí…O rascismo está por aqui.
Por se tratar de um fenomeno cultural-social presente desde cabral chegou por aqui, o racismo também está presente na cidade – lá vou eu repetir isso de novo – que ensinou a Paraíba a ler, berço da Cultura Paraibana . E para não pensarem que estou falando apenas em suposições ou especulaçõe vazias, cito um fato: No ano de 2007 fui Professor Substituto da Disciplina de História no CNSC. Muito contente por ter sido aprovado no teste de seleção, lá fui eu para a minha primeira aula na sala do 2º ano do Ensino Médio. Estou na sala de aula , quando de repente entra na sala a Diretora da Escola, D. Carmelita Gonçalves. Ela me apresenta como novo professor e num dado momento ela diz – nunca me esquecí de suas palavras – : “ Não fiquem admirados, ele é assim mesmo, mas tem a Alma Branca”. Fiquei estarrecido. Não consegui ter nenhuma reação, nem naquele momento e nem depois. A prova é que não me deixaram terminar o ano Letivo, pois me demitiram antes. Os motivos até hoje não sei. Nunca me disseram.
Mas é necessário frisar, que a ação preconceituosa-racista, não se manifesta apenas quando somos chingados em particular ou em público ou se me olham com desconfiança (e olha que isso acontece frequentemente) , mas é principalmente o fato de os negros terem menos acesso ao ensino, a moradia digna, saúde, trabalho, renda etc – em todos esses gráficos nós estamos em desvantagem… Alguma coisa tem que ser feita. Mas quem vai fazer? Será que quem tem o poder vai abrir mão de seu privilégio em detrimento de uma minoria? É claro que não. o nome já está dizendo: minoria. quem se interessa com elas?
O Racismo foi importantíssimo para construir o capitalismo – esse Sistema Econômico no qual vivemos -. Toda a riqueza dos Estados Unidos e maior parte da Europa são fruto da escravidão e colonização dos paises africanos, asiáticos e americanos. O sangue de nossos ancestrais garantiu a qualidade nos paises de primeiro mundo. Exterminaram os indígenas, milhões de africanos morriam na travessia do atlântico; Os povos “não brancos” fora roubados em suas riquezas materiais; intelectuais; culturais etc…
Foi pensando nisso que o movimento negro brasileiro lutou para que o dia da consciência negra fosse no 20 de novembro (data que lembra de Zumbi e do quilombo dos palmares) e não no dia 13 de maio (data da falsa abolição).
A Consciência Negra é algo que temos que ter o ano todo. Devemos conhecer a historia de nosso povo, conhecer, valorizar e dar continuidade em nossa tradição cultural – presente na capoeira, candomblé, congadas, maracatu e muita vezes nos ditados de nossos avós, em nosso jeito de fazer as coisas – mas ao mesmo tempo buscarmos sempre mecanismos de resistência, conscientização e organização de lutar contra o racismo e seus impactos em nossa vida no nosso cotidiano. Pois a luta sem consciência da identidade é vazia e a consciênca da identidade sem luta é mentirosa.
Para Saber Mais
BANTON, Michael. A Ideia de Raça. Lisboa, Ed.70, 1977
FREYRE, Gilberto. Sobrados e Mucambos. RJ/Brasília, José Olympio,1977
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