Da cultura de elite ao desamor
Hoje, debatemos em sala o texto “Cultura de elite”, do Nélson Werneck Sodré. E analisamos as razões da nossa apatia e da nossa inconsistência enquanto sociedade pré-falida que herdou o autoritarismo e a negligência com a Educação e o Conhecimento Científico de um Estado patriarcal e escravista que nos deixou um legado maldito da ignorância e do preconceito.
Somos pouco afeito às discussões e às ideias próprias, preferimos a opinião alheia e o pensamento pronto, enlatado numa camisa de força, muitas vezes justa demais para a nossa agonia. E vamos cozendo retalhos de teorias, pactuando doutrinas e desentendendo a realidade, que já vem pronta num sistema político antipopular. A nossa escola preparava os filhos da elite para manter o status e o poder do Estado sobre as massas pobres e destituídas de educação. E aí nos tornamos o paraíso dos “doutores” com formação jurídica, que se formavam em Coimbra, Lisboa, depois Paris, para o deleite de uma classe que queria manter os seus privilégios à custa do Estado. E a justificativa de ascensão social pela carreira de bacharel em Direito, de Medicina ou Engenharia levou-nos a subestimar as outras profissões, faltando-nos quem consertasse uma goteira, uma torneira, sentasse um tijolo ou fosse para a sala de aula, invadida pelos bacharéis que ensinavam Língua Portuguesa, História, Geografia, Filosofia e Latim. Cultivamos a cultura do intelecto e negligenciamos a Ciência, como se fôssemos inaptos para o pensamento científico. E talvez aí tenha culpa a forma como somos iniciados pelas religiões. Sem ler, discutir e exercer o dever de que falam os evangelhos e as doutrinas transcendentais baseadas no amor.
São essas perdas que nos fazem relevar a ética, o sentido de justiça, o equilíbrio moral e apatia com relação à política, ao estudo e ao amor, sim, porque o amor é um nutriente extraordinário na riqueza da natureza humana. Mas a elite e sua cultura de segregação transformaram o país numa nação de desalmados. Criaturas sobrevivem de favores, de auxílio-bolsa ou como humilhados pelas hostes cruéis do parasitismo político. Somos em grande ou talvez na maior parte coniventes, porque deixamos de cumprir tarefas simples, como ler, estudar, provocar o conhecimento, esclarecendo os que ignoram ou simplesmente não amamos o próximo. Digo isto para não perder de vista o sentido religioso num país de tanta ignorância e tantas fés.
Está difícil encontrar as soluções para tanta estupidez reunida. O povo não acredita nas promessas, mas aceita as migalhas; os intelectuais de gabinete defendem privilégios e endossam a política do clientelismo e do assistencialismo como forma de propagar um abrandamento da miséria. Uma parte significativa do povo está desiludida e descrê nas mudanças porque já está decretada a falência deste modelo. Só os governistas não querem enxergar? Ou estão seduzidos pelo canto privilegiado da sereia-estado?
De uma ou outra forma precisamos de uma atitude reflexiva diante da realidade. Estamos sós, desarmados, fugidios e em busca de algo que nos possa acalmar o coração e a mente.
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