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Cristina Moura

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De segunda a segunda

28/01/2021 às 15h55

Coluna de Cristina Moura

Por Cristina Moura

Sim. Assim mesmo. Poesia está em todo canto. Sim, claro, pode ser qualquer coisa. Mas em cada pedaço há uma ponte a ser decifrada, em cada esquina há uma canção em estado de vigília, em cada coração há uma sílaba a se solidificar, em cada compartimento há um sinal. Sim, e, com certeza, espera. Espera para remover as cinzas, para apitar o início do jogo ou assistir à partida na arquibancada, para crer em porções suntuosas de mistérios, para sentir o que trafega no novo dia. Mas também pode ser o contrário de tudo isso que falei.

É a chuva de palavras de trás pra frente, é o âmago do ponto, é o implícito e o escancarado das interrogações. Sim, claro. É que poema pode ser recorte, mas gera amplitude. Quem abre os ouvidos sabe o que vem e como vem. Olha. Vem de voo rasteiro. Vem a bordo de um foguete. Vem de miudinho. Vem às cambalhotas.

O que vem é verso, mas nem é somente raiz; pode ser folha, caule, fruto; pode ser de plástico ou de vidro; pode ser de coturno ou descalço; pode ser lá fora ou aqui pelas curvas e entranhas. Sim. É de todo jeito mesmo. Não precisa ser interventor, genitor, malabarista, curandeiro: qualquer sentido é estação, qualquer dúvida vira melodia.

O verso trabalha de segunda a segunda. É vivo. É aberto. É para toda a gente, de fora a fora, sem medida. A poesia é o bolo, mas o fermento é colocado a cada tanto de horas ou anos ou eras que quisermos. Não é apenas o encanto da natureza, o esplendor do inexplicável. Pode ser protesto, alerta, solicitação. Nem tenho o direito de achar que é tema exclusivo das coisas românticas ou lânguidas, com suspiros e suspiros nos arremates das frases perfumadas. Não. Poesia se mexe com tudo o que é de vento. Também reivindica, atrapalha o trânsito, agita as torcidas, inflama as gargantas, pedala em terrenos pantanosos.

Não posso me dar a chance de pensar que as mensagens poéticas são compreendidas de modo uniforme. Nem quero. O bom é a diferenciação de olhares. O que vejo de poema no início do anoitecer pode, por outra visão, encontrar um rol de incertezas; o que vejo de palavra no passarinho cantando pode ser interpretado como um recurso instintivo do animal; o que vejo de ideia em cada estrada que se move pode, de outro jeito, diagnosticar um calafrio.

Agora mesmo minha intenção pode ser uma doce fantasia, mas me conforto com tantas possibilidades, mesmo que estas venham como estátuas. Sim, pois é. Do mesmo pacote em que retiro aquela sensação de poetizar, pego uns farelos de brincadeira, junto com uns grãos de palpites saudáveis, misturo com o dia de amanhã. Como não sei o que vem em detalhes, espero a largada. Eu e bilhões. Todos os nossos silêncios ou clamores, segundo o regimento interno e invisível das compreensões, estão preparados. Alguém aciona o começo, por favor. Bora. Um, dois, três.

Cristina Moura

Cristina Moura

Jornalista e Professora cajazeirense, radicada no estado do Espírito Santo.

Contato: [email protected]

Cristina Moura

Cristina Moura

Jornalista e Professora cajazeirense, radicada no estado do Espírito Santo.

Contato: [email protected]

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