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Abraão Vitoriano

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Defendendo meu Nordeste querido

19/11/2010 às 21h06

É inconcebível, inadmissível, que o povo nordestino, também brasileiro, e talvez muito mais que outros, pelos serviços prestados a certos estado do País, sobretudo a São Paulo, seja vítima, em pleno século XXl, de palavras preconceituosas, ou atitudes discriminatórias, por quem quer que seja.E diria que, essa rejeição mesquinha e diabólica é uma verdadeira afronta à dignidade dessa gente por demais sofrida.

Como nordestino, filho deste sertão paraibano, não poderia ficar calado, inerte diante de tamanha grosseria: “nordestino não é gente. Faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!”. Com toda honestidade, confesso que chorei, pois essas malditas palavras foram como uma facada no meu peito nordestino. Passei dias pasmo, triste, pesaroso, sem graça. Ainda hoje, ao escrever este humilde artigo, sinto meu coração pulsar de tanta revolta, de tanto constrangimento. Aliás, peço-lhe licença para enxugar meus olhos lacrimejados. A voz parece embargada. Meu coração de sangue nordestino está acelerado num ritmo cardíaco de fazer medo, e minha alma, toda nordestina, chorando, a gritar: “ó vós, que passais pelo caminho, vede e julgai, se existe dor igual, a dor que me atormenta”.

O povo nordestino é, indubitavelmente, um povo heróico, forte, valente, corajoso, pois enfrenta os desafios difíceis da vida com determinação, valentia. Não se entrega. Basta ver aqui no meu sertão paraibano. Em tempo de seca braba, não vejo meus irmãos sertanejos se maldizendo, pedindo a morte, revoltados. Pelo o contrário, continuam alegrem, de bom humor, esperançosos em dias melhores. No meu sertão, as mulheres são fortes, resistentes. Dos homens, nem se fala. Pense num povo que não se entrega: não vive estressado, revoltado com a vida, e nem fala em depressão. Mesmo nas dificuldades braba do dia a dia, é alegre, espontâneo, brincalhão, convidativo. E mesmo no sofrimento, ainda tem coração cristão para socorrer seus irmãos nas suas agruras. Esse povo é maravilhoso. É um doce povo. Amá-lo-ei sempre. Até porque sou parte integrante, com muito orgulho, dessa população abençoada.

O nordestino, por incrível que pareça, é todo especial. Nunca vi coisa igual: amoroso, acolhedor, solidário, fraterno, humano, humilde, pacato, fiel, festivo, alegre, brincalhão, tem pavor a preguiça, e é pau para toda obra. Pense num cabra da peste e mulher macho sim, senhor? Sem esquecer outra notável qualidade de fazer inveja a muita gente besta deste País: Trabalhador. Eita povo que trabalha feito uma peste. Enfrenta sem gemer o sol causticante, o calor de rachar, se embrenha no meio da jurema, e se vai a São Paulo, trabalha feito um diabo e nem reclama do cansaço, para deleite do patrão. Sinceramente, sou apaixonado por esse povo; louco de amor por essa gente. Os nordestinos, para quem não os conhece , têm coração de mãe, sentimento de mãe, olhar de mãe, mãos de mãe. No meu sertão seco e torrado,quando você entra numa casa qualquer,é logo recebido festivamente com estas lacônicas palavras: “entre, sente-se, fique `a vontade, vou fazer um cafezinho”.E também: “já almoçou? vou preparar o almoço”. Onde é que existe isso, lá no sudeste, no sul? Duvido que tais atitudes existam por ai afora. Só mesmo no meu nordeste. Não é radicalismo. É realidade!

Aliás, gostaria de expor, para quem mora no sudeste e sul, ou em outras regiões deste País, a maneira sincera e carinhosa, como os sertanejos, deste nordeste querido, tratam as pessoas em suas casas, ou onde quer que seja:

-“Pode entrar, sente-se. A casa é pobre, mas o coração é grande”.
-“entre, pode se sentar. Quer água? Ou Maria, diz o dono da casa, traga um cafezinho para o pessoal”. E lá vai a dona da casa fazer o cafezinho, e com alegria

Alguém bate na porta, e a dona da casa responde: “já vou, espere um pouco. Quando abre a porta, diz, sorridente: pode entrar, moços, a casa é sua.Vamos sentar.Vocês querem café ou chá?” Conversa vem, conversa vai. O tempo passa e eles nem percebem.

Mesmo não conhecendo os visitantes, dizem: “esperem para almoçar, o almoço já tá na mesa.Ninguém vá embora sem comer nada.O que a gente tem, a gente come.”Que solidariedade mais linda.Coisa do nordeste do padim Ciço Romão e padim frei Damião.
Alguém diz: uma esmola pelo o amor de Deus, e o sertanejo responde: “vou dar um pouquinho do que tem. Olha, é pouco, mas é com amor”. Este povo sabe amar de verdade, não sabe o que é egoísmo.

Aqui no sertão,quando a dona da casa mata uma galinha,ou outro animal qualquer, diz logo: ““ prepare um prato cheio para nossos vizinhos”.Que coisa mais linda no meu sertão.

Na casa do sertanejo paraibano,quando chega alguém na hora do almoço ou jantar ,o dono ou a dona vai logo dizendo: “ bota um prato para ele(a)”. Não deixa a pessoa sair sem almoço.
“Eita meu Deus, a seca tá grande. Tem nada não, Deus não vai deixar a gente passar fome e nem sede”.

-Olha seu padre, a gente não tem preguiça não. “Lá em casa, todo mundo trabalha no pesado, e ninguém reclama da vida”.
“Bom dia, boa tarde, boa noite. Como vai, tudo bem. Qualquer coisa, conte comigo”.

“Trabalho dia e noite, seu padre, e não sinto esmorecimento, nem cansaço. Nasci para trabalhar feito máquina, e vou até o fim da vida”.

-“meus filhos estão em São Paulo, coitadinhos, trabalham feito bichos. Meus filhos trabalham tanto, mas ganham tão mal, seu padre”. “Eles estão lá porque é o jeito, eles dizem que vêm embora, porque lá ninguém vive,vegeta”.

“Fui para são Paulo, seu padre, trabalhei,trabalhei, trabalhei pra morrer só para enricar o patrão”.

“Quando eu morava em São Paulo, seu padre, eu trabalhava demais: levantava casa, prédios, escolas, igrejas. Eu passava o dia todo carregando latas de barro nas costa, e sabe o que arrumei? Uma dor danada na coluna. Estou aleijado, mas ainda hoje trabalho feito bicho”.

“sei não, padre, voltei para meu sertão, porque em São Paulo, eu estava me acabando, só trabalhava e não via melhora. Trabalhei feito escravo”.

“lá no sul , a gente não vive,vegeta”. “Lá, é o seguinte: os pobres trabalham de se lascar, enquanto os ricos vivem de banquete, de farra”.

“Nesses lugares distantes, padre, se a pessoa não tiver parentes ou amigos morre e ninguém tá ai com você. Lá tem esse negócio de se vira”.

Seu padre, o lugar melhor do mundo é aqui no sertão nordestino. Todo mundo aqui é irmão, amigo, solidário. “Eu quando estou passando necessidade, as pessoas me socorrem,trazendo feijão, arroz, açúcar, farinha”. Aqui o povo tem sentimento, seu padre. “Este é meu lugar, só saio daqui para o cemitério”.

-“precisar da gente, é só avisar, que a gente vem”.

-Dona Maria tá doente, vamos passar a noite lá. “Vamos levar bolacha e café”.

-olha padre, aqui meus vizinhos são ótimos. “Quando falta alguma coisa, eu vou lá e arrumo”.

Essas são umas das inúmeras virtudes cristãs dos nordestinos. Faça sol ou não, esse povo é sempre assim. Fico encantado com esse modo de ser dessa gente cheia de Deus e de espírito humanista transbordante. Neste lugar sagrado, abençoado, sinto-me feliz. Não é por acaso, que nunca sai do meu torrão nordestino (com honestidade revelo: quando terminei o curso de filosofia, meu bispo, na época, Dom Zacarias, convidou-me para fazer teologia em Roma. Rejeitei a proposta, preferindo fazer o referido curso em Teresina, no Piauí), e não tenho a mínima vontade. Aqui é meu lugar, minha paixão, meu amor, meu xodó, minha vida.

“se eu tivesse um emprego, como muita gente tem, não deixaria o Nordeste por São Paulo de ninguém”.

Não temos motivos para chorar, e sim, para festejar nossa cultura de vida invejável.

Deus seja louvado pelo nosso querido nordeste!

TWITTER: @padredjacy
 

Abraão Vitoriano

Abraão Vitoriano

Formado em Letras e Pedagogia. Pós-graduado em Educação. Escritor. Poeta. Revisor de textos. Professor na Faculdade São Francisco da Paraíba e na Escola M. E. I. E. F Augusto Bernadino de Sousa.

Contato: [email protected]

Abraão Vitoriano

Abraão Vitoriano

Formado em Letras e Pedagogia. Pós-graduado em Educação. Escritor. Poeta. Revisor de textos. Professor na Faculdade São Francisco da Paraíba e na Escola M. E. I. E. F Augusto Bernadino de Sousa.

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