Deus e o diabo nas redes sociais
Tenho acompanhado e participado dos debates nas redes sociais em torno das candidaturas ao Palácio do Planalto. Estão em jogo dois projetos políticos distintos, mas infelizmente dois métodos semelhantes de defendê-los. O que me faz lembrar a célebre passagem de dois romances, Esaú e Jacó, de Machado de Assis e, O Cortiço, de Aluisio Azevedo.
Nos romances, coetâneos da passagem Império-República, há duas referências a esse episódio. Em Esaú e Jacó, há a história da tabuleta que está velha e precisa de pintura nova; o dono da confeitaria tem dúvida se permanece Confeitaria do Império ou confeitaria da República; no que o Conselheiro Aires propõe que coloque Confeitaria do Governo que agradaria a ambos. Mudou-se o modelo político, mas a prática continuou a mesma. NO Cortiço, bem representado no filme, onde numa festa, quando todos comemoram a Proclamação da República, a personagem Rita Baiana pergunta: e o que é essa tal de República, no que outro retruca: sei lá. E ela grita: então viva a República! É o que parece estar acontecendo entre os que defendem as candidaturas de Dilma e Aécio.
As redes sociais são um termômetro do nível de debate entre os que apóiam um ou outro. Os que se dizem esclarecidos invocam para si a verdade, a honra e a justeza contra os que se lhe apresentam equivocados, desinformados ou alienados. Os dois lados se julgam acima dos demais e os seus oponentes são os ignorantes em vários níveis. As duas visões geram um fanatismo que será muito ruim para a democracia pós eleição. O grau de ódio que os PSDBistas destinam ao PT é igual ao ódio que os PTistas destinam aos Aecistas. Os dois estão cegos pelo sectarismo mais caduco, que infestava as universidades depois da Ditadura, abertura política, e que produziu muitos Genuínos, Dirceus, Marinas e até Fidelixes, que em situações distintas se tornaram oportunistas da esquerda e da direita. Quem são os verdadeiros defensores da pátria? Os ultra-direita aliados do Aécio e dos reacionários da classe empresarial? Ou os militantes embriagados com o poder, o governo e o medo de perdê-lo? Por isso se aliam a Malufes, Sarneys, Barbalhos, Renans, Collors e Garotinhos?
E já estão endeusando e infernizando a vida de artistas como se estes fossem salvadores da nossa humanidade sensível ou encapetados que um dia serviram ao nosso egoísmo e agora estão do lado do mal. Estou apreensivo com o resultado dessa orgia em que os empresários, empreiteiros e banqueiros financiam a campanha dos dois candidatos. Qual discurso deverei usar para salvar uns e enlamear outros?
Como os defensores dos programas sociais explicam o apoio da família Sarney a Dilma, mesmo com a sua prática de exploração eterna da pobreza no Maranhão? Como comparam Aécio a Collor se este está no palanque de Dilma e foi apoiado por Dilma para permanecer no Senado? Como fazer um pacto com Maluf para obter mais minutos no horário político? Que revolução é essa que assustaria tanto a Simão Bolivar como ao José Mujica no nosso vizinho Uruguai?
Eu sei que a maioria dos que estão eufóricos dos dois lados não darão atenção a esta reflexão. Sua preocupação maior é em exorcizar o fantasma do oponente. O que diria o eleitor comum se pudesse medir a incoerência de ambos os lados e pudesse expressar livremente sua discordância, sem medo de ser molestado pela pensamento zumbi dos “militontos”?
Chamei atenção de algumas pessoas para respeitar a inteligência e a livre expressão daqueles que ainda podem colaborar no processo.
Noutro texto já manifestei meu voto, constrangido pelo que expus lá e aqui, à reeleição da Dilma. Neste, quero demonstrar minha profunda discordância de métodos dos que querem as transformações continuadas através da permanência da Dilma. Principalmente quando vejo toda espécie de corrupto aliado aqui embaixo, nas cidades menores, aos que julgava antes grandes defensores das causas humanas e sociais. Se os dois lados só têm esses discursos a apresentar, vamos sair mais empobrecidos desta eleição
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