Dizer “não”!

Dizer “não”!

Não se pode começar um texto com a palavra “não”, ensina a professora de português na 6ª série. Uma lição muito cara, diga-se de passagem. Mas, cá entre nós, por que não se pode escrever com todas as letras um belo não? Por que deve-se dizer sim? Quem definitivamente manda nas nossas sentenças afirmativas e, principalmente, negativas?

Educaram-nos para afirmar bem mais que negar. Negar parece absurdo, pessimista, subversivo. Afirmar, não. Afirmar equivale em acreditar no futuro, em ser cortês, em ser dotado de bons sentimentos – porque nos contos de fada, tradicionalmente, anunciam “sim” e o felizes para sempre acontece. A Branca de Neve inventou de falar sim a uma estranha e olha no que deu, quase morria envenenada. A diferença que nas histórias reais não há a presença reparadora dos príncipes e um sim, distante de uma considerável reflexão, pode comprometer uma vida.

Mas esqueçamos um pouco o lado apocalíptico. Existe também possibilidade de enunciar um “não”. Um não à falta de bom senso, à ausência da ética, aos moldes da família tradicional e relações indestrutíveis, ao preconceito – velado ou explícito, à fome de pão e espiritual, à misoginia, à xenofobia, ao proselitismo. Um não às frivolidades, à ditadura da felicidade, à prostituição de crianças, à politicagem torpe e suja, às amarras sociais, à indústria ditatorial das mídias. Um não ao corpo perfeito, à beleza de plástico, ao excesso de “curas que não curam”. Um não à ignorância, ao modo unilateral de conceber os fatos, à crueldade humana, ao desespero pela fortuna de bens materiais. Um não à inveja, à mentira, à falsidade – as puxadas de tapete e punhaladas na saída.

Um não a tudo que não valer o nosso sim. E um sim à poesia!

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Abraão Vitoriano

Formado em Letras e Pedagogia. Pós-graduado em Educação. Escritor. Poeta. Revisor de textos. Professor na Faculdade São Francisco da Paraíba e na Escola M. E. I. E. F Augusto Bernadino de Sousa.

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