Educação de Bricolage
Por Damião Fernandes
A educação acontece dentro de um processo incessante de busca, processo elaborativo de perguntas que conduz o individuo à respostas que satisfaçam aos anseios humanos. A educação não acontece no imediatismo cruel dos nossos sonhos e desejos, mas sim na angustia diária do nosso labor de ensino e aprendizagem. A educação acontece dentro das categorias estruturais do tempo e do espaço.
Lendo um texto que fazia referencia ao Antropólogo Claude Levi-Straus, deparei-me com uma expressão que me levou a refletir. A expressão era um termo francês: “Bricolage”. A idéia de bricolage foi utilizada por Claude Lévi-Strauss, na obra O pensamento selvagem, para mostrar que os chamados selvagens não são atrasados nem primitivos, apenas operam com o pensamento mítico.
Aquele que pratica bricolage produz um objeto novo a partir de pedaços e fragmentos de outros objetos. Vai reunindo, sem um plano muito rígido, tudo o que encontra e que serve para o objeto que está compondo. Acredito que na educação acontece um processo semelhante, isto é, vai-se reunindo experiências, narrativas, relatos, teorias educacionais, projetos pedagógicos, até compor um projeto político pedagógico coerente e coeso.
A educação é construída passo a passo. Construída a apartir de fenômenos individuais e coletivos. Por isso que na educação não existem heróis que tendo travado lutas bélicas na individualidade tenham conquistado feitos heróicos ou faraônicos. A educação, é construída na coletividade de experiências e ações. E esta educação sendo construída para a coletividade, para a res-pública, para o povo, em vista da construção e formação da cidade e de todos os cidadãos.
O filosofo Aristóteles tanto compreendeu esta realidade que foi um dos primeiros a defender caráter público da educação, tanto com relação na sua oferta como também na sua finalidade. Para Aristóteles “A educação, é um caminho para a vida pública”. Cabe à educação a formação do caráter do aluno. Perseguir a virtude significaria, em todas as atitudes, buscar o “justo meio”. A prudência e a sensatez se encontrariam no meio-termo, ou medida justa – “o que não é demais nem muito pouco”, nas palavras do filósofo.
De todos os grandes pensadores da Grécia antiga, Aristóteles foi o que mais influenciou a civilização ocidental. Até hoje o modo de pensar e produzir conhecimento deve muito ao filósofo. Foi ele o fundador da ciência que ficaria conhecida como lógica, e suas conclusões nessa área não tiveram contestação alguma até o século 17. Sua importância no campo da educação também é grande, mas de modo indireto. Poucos de seus textos específicos sobre o assunto chegaram a nossos dias. A contribuição de Aristóteles para o ensino está principalmente em escritos sobre outros temas.
As principais obras de onde se pode tirar informações pedagógicas são as que tratam de política e ética. Em ambos os casos o objetivo final era obter a virtude. Em suas reflexões sobre ética, Aristóteles afirma que o propósito da vida humana é a obtenção do que ele chama de vida boa. Isso significava ao mesmo tempo vida ‘do bem’ e vida harmoniosa.” Ou seja, para Aristóteles, ser feliz e ser útil à comunidade eram dois objetivos sobrepostos, e ambos estavam presentes na atividade pública. O melhor governo, dizia ele, seria “aquele em que cada um melhor encontra o que necessita para ser feliz”.
Um dos fundamentos do pensamento aristotélico é que todas as coisas têm uma finalidade. É isso que, segundo o filósofo, leva todos os seres vivos a se desenvolver de um estado de imperfeição (semente ou embrião) a outro de perfeição (correspondente ao estágio de maturidade e reprodução). Nem todos os seres conseguem ou têm oportunidade de cumprir o ciclo em sua plenitude, porém. Por ter potencialidades múltiplas, o ser humano só será feliz e dará sua melhor contribuição ao mundo se desfrutar das condições necessárias para desenvolver o talento. Aristóteles apresenta-se assim, como o filósofo que pensava a educação como um processo bricolageano.
Para saber Mais
Lévi-Strauss, C. 1997. A ciência do concreto. In O pensamento selvagem. S.Paulo: Papirus.
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