Fatores intangíveis na eleição
Em Santa Luzia, histórico reduto dos herdeiros do saudoso deputado Inácio Bento (pai do senador Efraim Morais), Zé Maranhão venceu no primeiro turno por 58 votos. Vital Filho teve 229 votos a mais do que Efraim. Eufóricos, os adversários dos Bento no vale do Sabugy programaram a carreata da vitória, pensando, também, no sucesso de Maranhão no dia 31. A concentração era pura animação: buzinaço, fogos, bandeiras, enfim, alegria, alegria. Aí, deu-se o azar. Justo naquele dia, a primeira pesquisa divulgada após 3 de outubro aponta a vitória de Ricardo Coutinho, com 12% de vantagem! E então? A carreata arrefeceu. Alguns veículos dobraram na primeira esquina, bandeiras arreadas, buzinas emudecidas.
Isto é um caso típico de influência de fator intangível na eleição. Definir o voto em função do resultado de pesquisa dá nisso. Às vezes, a decisão de votar esconde motivações que não entram nos cálculos pré-eleitorais. O contrário acontece com os fatores palpáveis, como por exemplo: o candidato a governador A tem o apoio de x prefeitos, y deputados, n vereadores. A partir dessa base real, soma-se o potencial de votos dos apoiadores e chega-se à conclusão que A vai ganhar. Certo? Não, errado.
Errado porque eleição está longe de ser uma equação matemática, embora o resultado seja expresso em números. Errado porque não leva em conta os fatores intangíveis, as motivações pessoais do eleitor, as reações coletivas em face de acontecimentos que mexem com a emoção das pessoas. Impossível medir tais fenômenos, porém, eles existem. E afloram em todos os pleitos, exercem influência e podem até mesmo determinar o desfecho da disputa.
O pífio desempenho eleitoral de Maranhão em Campina Grande se encaixa nessa lógica. Em face dos significativos apoios articulados pelo governador naquela cidade, o pleito seria equilibrado. Não foi. Ricardo obteve 64% dos votos contra 34% de Maranhão. De quebra, puxado por Cássio, Efraim colocou em Campina quase 24 mil na frente de Vital Filho. E mais, dona Nilda teve 13 mil a menos do que Romero Rodrigues para deputado federal. Veneziano ficou com cara de Zé, ele que vencera duas eleições seguidas para prefeito exatamente contra as forças ligadas aos Cunha Lima.
Muitos fatores alimentam a motivação do eleitor campinense, mas, seguramente, o peso maior é a componente psicológica gerada pela cassação do mandato de governador Cássio, reforçada este ano pela tentativa de tirar-lhe o direito de representar a Paraíba no senado.
Outro exemplo. Na reta final do primeiro turno, Ricardo apelou para os brios de João Pessoa, cidade que há muitas décadas não elege um filho seu governador. Se não foi fator decisivo, muito ajudou a apagar arranhões deixados pela aliança construída com o DEM e o PSDB. Esse sentimento não se mede a priori nem entra naquela conta de soma e diminuição de apoios. É fator intangível. Pesa tanto quanto a soma de apoio de prefeitos e chefes locais registrada na calculadora. Os maranhistas que o digam. Já os fatores intangíveis escondem-se na alma das pessoas e explodem nas ruas e nas urnas.
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